domingo, 29 de abril de 2012

DOMINGO À TARDE

Camarigos de Madina:
Com que então pensavam que estavam livres das minhas tão chatérrimas, enfadonhas e inúteis crónicas, mas como vêem, cá estou eu, depois de umas curtas mas sempre apetitosas e merecidas férias, desta vez por terras da Beira Baixa: Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Fundão, Monfortinho, enfim por terras do nosso camarigo Rafael e outros a quem envio um forte abraço de parabéns por serem naturais de tão belas terras. Fiquei encantado com este pedaço do nosso Portugal.
Mas, adiante, eu que aguardei com ansiedade por qualquer escrito de algum dos meus pares, vejo que afinal não só não escrevem como pouco lêem o que por cá se vai "postando". Enfim, tenho esperança que um dia alguns de vós se digne fazer um simples clik num qualquer PC e ler o que vou escrevendo "qual escritor de pacotilha" e debitando umas letras para que fiquem em memória futura e quiçá alguns dos nossos vindouros possam ler e ver o que foram as nossas vivências tanto lá na Guiné como agora por cá. 
Se mais nada lhes podermos legar, pelo menos que fiquem com o exemplo das nossas vidas e nestas idades, em que já despontam os cabelos grisalhos, os quais são o arquivo do nosso passado e porque quando chegarmos aquela fase em que se tem mais alegria pelo passado do que pelo futuro, estamos velhos e então só temos 4 coisas que são boas: 1º velhos amigos para conversar; 2º lenha velha para aquecer; 3º vinho velho para beber; 4º livros velhos para ler.
Camarigos de Madina, pudera eu transmitir para o papel (PC), assim as musas me inspirassem, o quanto e tudo o que me alegra em vos ter como amigos. Por vezes penso que Deus foi generoso em me ter dado oportunidade de vos ter como amigos,  com esta amizade eu sou feliz, porque para ser feliz é fazer de cada momento um momento especial e por vós e com vós eu tenho muitos momentos bons, e não sou daqueles que dizem que as estrelas estão mortas porque o céu está nublado.
 
Brevemente escreverei mais, por hoje ide comentando este escrito que saiu num momento de nostalgia e melancolia nesta tarde chuvosa deste ultimo Domingo de Abril.
Para todos um forte abraço Monteiro ( manhiça )

quinta-feira, 12 de abril de 2012

PINCELADAS DE MADINA MANDINGA

A nossa rotina, na simpática povoação de Madina Mandinga, estava consignada a um quadrado de terra batida onde tudo se passava. Ponto de encontro de toda a Companhia, local de chegada e partida, onde recebíamos as nossas visitas. Foi nesse quadrado de terra onde o sol escaldava que muitos factos aconteceram, dos quais relembro:-

a) Cinema

No início da noite do dia 19/02/1974 tivemos a visita de um Alferes e um Furriel, vindos do QG de Bissau, que nos presentearam com a exibição de dois filmes, ao ar livre. O 1º com o título “Bosallini” e o 2º uma comédia de guerra “Com jeito vai Sargento” realizado em 1958 por Gerald Thomas.

b) Missa

O Sr. Padre Capelão, do sector de Nova Lamego, veio visitar o nosso aquartelamento durante três dias, para também ele, nos dar ânimo e apoio moral e espiritual. No Domingo do dia 23/09/1973 celebrou a missa para todos nós. O altar (uma mesa) foi colocado debaixo de uma cobertura em palha, junto da cantina. Foi nesse pedaço de África que a celebração aconteceu. Toda a rapaziada se vestiu à civil para participar na única missa celebrada em Madina. Nesse Domingo houve festa e comida melhorada.

c) A Chegada

A este quadrado de chão pisado chegámos na tardinha do dia 13/08/1973, auto transportados, com as fardas ainda a cheirar a novo e de olhos bem arregalados e bastante medrosos. Fomos recebidos de braços abertos pela malta velhinha que com câmaras improvisadas de TV, cartazes com frases bonitas e muitos gritos de “piu-piu” davam azo à sua alegria, pois sabiam que passados alguns dias daqui partiriam rumo à Metrópole.

d) Gina

Também nesse quadrado, algures num canto, estava a mascote da nossa companhia. Quem não se lembra da macaca “Gina”, empoleirada num tronco de árvore, à espera duma bananita. Toda a gente gostava de brincar com ela.

A Gina em fotografia

e) Café

E desse quadrado de terra areada e poeirenta havia quem ao Domingo, depois do almoço, partia para tomar café à 5ª REP (café virtual). Era um pequeno percurso fora do arame farpado até à ponte ali próximo. Seria para matar saudades dos passeios domingueiros à tarde, com as nossas famílias e namoradas.

Era neste quadrado que tudo se cruzava. Daqui acedíamos ao gabinete de trabalho do nosso Capitão, sempre de porta aberta para receber. Ao lado os serviços de enfermagem. Num dos topos do quadrado a cozinha, a messe e por ali perto o forno do padeiro. No lado oposto a cantina e algures por ali a casa do Gerador do Machado que, sempre no seu posto, nos dava luz e água. Era neste pedaço de terra que durante o dia toda a azáfama acontecia e que no cair da noite apressadamente percorríamos com o receio de algum disparo vindo do exterior do arame farpado.

Foi assim em redor desse quadrado, onde pernoitávamos e em alerta estávamos, que gastámos algum tempo da nossa juventude mas também com coisas bonitas que ainda hoje recordamos com nostalgia. Todos nos lembramos dos nossos bigodes que quase toda a malta deixou crescer a exemplo do nosso irmão mais velho, o Capitão Zé Luís. b o n s t e m p o s ……..

por antónio costa (dando uma folga ao nosso editor chefe)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

PÁSCOA

Camarigos de Madina, estamos na Páscoa e como tal, quero expressar a minha alegria por mais uma época festiva que comungo com a minha família e os meus familiares de Madina, companheiros de tantas alegrias e angustias.
Como em tudo na vida e quando JÁ PASSAMOS OS QUARENTA QUE É A VELHICE DOS NOVOS, E ENTRAMOS NOS SESSENTA QUE É A JUVENTUDE DOS VELHOS, começamos a olhar para trás e relembramos as datas que nos marcaram.
Não podemos esquecer a PÁSCOA, que nos faz viver a RESSURREIÇÃO de CRISTO, depois da SUA morte por crucificação.
A Páscoa na nossa Madina Mandinga (nesse ano de 1974 celebrada em 14 de Abril), apesar de termos informações que o IN anda na nossa área e que na mata de NHACARÉ fizeram abrigos, que nos obrigava a cuidados redobrados, mesmo assim o nosso dia de Páscoa foi vivido de uma forma muito cristã e festiva. Até um grupo de militares organizou um compasso.
Como era tradição na época, nós também pintamos, (pintaram) a messe e outras instalações e como não podia deixar de ser houve rancho melhorado, copos e cantorias.
Quero expressar o meu desejo para que esta Páscoa seja vivida por todos vós na alegria e paz do Senhor e peço a Deus que ilumine todos os dias das vossas vidas.
Camarigos de Madina, deixo-vos com este pensamento e que o tenhais sempre presente nos vossos corações e nas vossas acções: dar - ATÉ A ÁRVORE NEM AO LENHADOR NEGA A SUA SOMBRA.
Um bem hajam e sejam felizes, Monteiro (Manhiça)