Cancioneiro

Na nossa casa de Madina Mandinga, durante o dia e parte da noite,  sempre o nosso amigo Gaipo e a sua viola a animar as tropas com as suas canções.  OBRIGADO FURRIEL GAIPO.       (antónio costa)
Como dizia o Gaipo "quem sabe cantar canta! quem não sabe cantar está calado!"


HINO DA COMPANHIA (completo)

Refrão:

 Nós somos Primavera

Gostamos de cantar!

Nós somos Juventude

Nascemos para Amar!

Nós somos Juventude

Nascemos para Amar.

Estrofe: 1

Nós queremos Amar

Toda a gente da terra!

Não queremos mais fome     

Não queremos mais guerra!

Não queremos mais fome

Não queremos mais guerra!

Estrofe: 2

Nós queremos poemas

Nós queremos canções

Nós queremos unir

Todos os corações

Nós queremos unir

Todos os corações

Estrofe: 3

Nós queremos ser úteis

Aos pobres deste mundo

São eles que merecem

Nosso amor mais profundo

São eles que merecem

              Nosso amor mais profundo

 
IMPOSTO

 
Se o tabaco paga imposto
O fósforo imposto paga
Só falta pagar imposto
A merda que a gente caga  (bis )

Já que tudo paga imposto
Eu aposto no que digo
Só falta pagar imposto
Pra coçar no umbigo     (bis

Se eu fosse carpinteiro
Casava com uma ceifeira
Juntava a foice ao martelo
Fazia a minha bandeira

Tira o chapéu milionário
Vai o enterro a passar
Foi a filha do operário
Que morreu a trabalhar   (bis)

Se eu fosse uma ceifeira
Casava com um carpinteiro
Unia a foice ao martelo
Conquistava o mundo inteiro  (bis)

Não há maior tristeza
Nem maior deprimente
Do que chamar à fartura
À fome que a gente sente  (bis)

Quarenta anos de ditadura
E censura nos jornais
Arre porra que já chega
Arre chiça que é demais   (bis )

Treme a malta treme a terra
Daqui ninguém arredou
Quem poderá morrer na guerra
Sendo um homem como eu sou   (bis )

Embora os meus olhos sejam
Os mais pequenos do mundo
O que importa é que eles vejam
O que os homens são no fundo   (bis)

Prá mentira ser segura
E atingir profundidade
Tem de trazer à mistura
Qualquer coisa de verdade   (bis )

Vós que lá do vosso império
Prometeis um mundo novo
Calai-vos que pode o povo
Querer um mundo novo a sério  (bis )

Que importa perder a vida
Em luta contra a traição
Que a razão mesmo vencida
Não deixa de ser razão  (bis )

 Eu não tenho vistas largas
Nem grande sabedoria
Mas dão nas horas amargas
Lições de filosofia.



       APÓS GUERRA


Numa mesa de pau-preto
Terminaram o seu banquete,
Cheios de fausto!
E alegria.
Todos tão felizes….
Vão aprovar, pensamentos.

Milhões de soldados
Caídos na guerra
São sonhos desfeitos
P’lo ódio fatal.
São rosas caídas
Em campo de feto
São terra vermelha
Que não dará pão.

Olhos abertos
Boca cerrada
Nos braços daquela
Que foi sua mãe. (bis)

São rostos que choram
São lábios que gritam
São anos perdidos (bis)



       SPINOLÂNDIA


Eu fui à Spinolândia

Bravo meu bem

Pra  ver se embravecia    (bis )

Cada vez fiquei mais manso

Bravo meu bem

Com os tiros que lá ouvia  (bis )



A malta do comechefe

Bravo meu bem

Não conhece Gadamael    (bis )

Quando atacaram Bissau

Bravo meu bem

Esgotaram o papel     (bis )



Santo António de Bissau

Bravo meu bem

De todos o mais casmurro   (bis )

Quer do preto fazer branco

Bravo meu bem

E do branco fazer burro    (bis)



Qualquer pobre de Bissau

Bravo meu bem

Daqueles com pouca roupa  (bis )

Não está livre de apanhar

Bravo meu bem

Com um foguetão na sopa   (bis )



          CANÇÃO DOS TRIGAIS


Nos dias tão negros
há fome de pão,
e velhos despidos
estendendo a mão

Nos campos desertos
Reina a solidão
E as espigas loiras
Caíram no chão

Refrão:
Onde estão, onde estão
Os ceifeiros para ceifar
Onde estão onde estão
Os rapazes para cantar

Crianças sem pai
Correndo nas ruas
Chorando as broas
Que não serão suas

Pequenas chorando
A morte do amigo
Moinhos parados
Por não terem trigo


         POEMA DE SANGUE
 
Na cidade fria
O sangue brotou
Tornou-se mais rubro
E um rio formou
Cresceu transbordando
Nas ruas geladas
Das casas hostis
          Janelas fechadas.

Refrão: Era o sangue ( 3X)
             Do homem sem pão
             Era o homem ( 3x)
             Do barracão

              E nas fachadas mortas
              Das casas paradas
              Duas mãos sangrentas
              Ficaram marcadas
              Duas mãos estranhas
              Puxando grilhões
              Crescendo, crescendo
              Sobre os paredões.

Refrão: Era o sangue ( 3X)
             Do homem sem pão
             Que erguera ( 3x)
             O paredão



SÓ O TEMPO RESPONDERÁ


Por quantos mares tivemos de andar,
Pra chegarmos à Guiné?
E quantas nuvens temos de atravessar,
Para chegarmos ao sol?
          Por quantos sóis temos de caminhar,
          Para encontrarmos a Deus?
          E quanto tempo temos de lutar
          Para alcançarmos a PAZ?
Por quantos dias pensamos viver,
No meio de tantos combates?
E quantos horas havemos de ter,
Trazendo nas mãos uns cunhetes?
          Por quanto tempo este grande suplício,
          Do calor e da chuva?
          E quantos dias levam a completar,
          O enorme sacrifício?
Pra quê, esta guerra infernal,
Que a todos nada traz?
São frutos de tão grande mal
Que nunca mais trarão a PAZ.          
          Estamos todos na contingência
          De um dia isto rebentar,
          Não pedimos a independência
          Mas sim nunca mais cá voltar
E quanto tempo levarão a responder
A este grande matagal?
Eu não quero mais sofrer
Porque estamos no Natal.
              AMIGOS,
              Só o tempo nos pode responder
              Guiar-nos para sempre
               A  P A Z!...

DE HOMENS PARA HOMENS


Vejam punhais
Nas mãos dos homens,
Vejam sorrisos
Escarnecidos!...
Ainda há flores naturais, AMOR!...
Vejam o amor
Que os homens trazem,
Vejam nas mãos, o coração
Ainda há flores naturais, AMOR!...
Vejam nos homens
Amor na traição,
Vejam as armas
Que eles usam!...
Trazem nas palavras o carinho, AMOR!...
Vêm de branco
Trazer a Paz,
Mas não acredito
O que o interior nos traz.
Ainda há flores naturais, AMOR!...
Vejam a querra
Que todos vivem
Olhem a terra
Que é de ninguém!...
Ainda há coisas naturais, AMOR!...
Ainda há homens e crianças,AMOR!...
Ainda há que florir a sorrir, AMOR!...
Ainda há beijos frios a gerar, AMOR!...
Ainda há vida para viver, AMOR!...
Não há mais nenhum tão igual, AMOR!...
Não vem nem tão cedo outro Natal, AMOR!...



Camarigos de Madina: Naquelas noites de nostalgia em que as saudades eram mais que muitas, quando o olhar se tornava mais vazio, quando os nossos corações mais choravam de saudades, onde o luar que nos iluminava tornavam mais nitidas, na nossa imaginação, as pessoas que mais amava-mos, vinham os copos e certo e sabido, vinha o fado, que para a seita dos "magnórios", assim éramos conhecidos eu, o Fernando e o Silva, pois sempre diziamos que as nesperas no Porto se chamam de magnórios, pois começavam as cantorias e acima de tudo cantavam fado, interpretes: Capitão e o TiBrito com este fado que com a devida vénia tiramos do Cancioneiro de Bambadinca, aqui deixamos este pequeno tributo àquele que foi o nosso chefe:

CANCIONEIRO DE BAMBADINCA 1968/1971

Letra----------- Tony Levezinho / Humberto Reis
Musica --------- Fado "Povo que lavas no rio "


Brito que és militar,
que vieste p´ra Guiné
em mais uma comissão;
( bis )

Na CCS ficaste
para aturar o Baldé
a pedir-te Patacão
( bis )

Fui ver à secretaria
por ouvir a gritaria
que fazia confusão
( bis )

Mim quer saco de bianda
põe-te nas putas desanda
que mim cá tem patacão
( bis )

Filho da puta e sacana
é o que eles te chamam
tenho a mesma condição
( bis )

Mim quer saco de bianda
põe-te nas putas desanda
que mim cá tem patacão
( bis )

Mamadus eu vos adoro
se for preciso eu choro
mas patacão isso Não.
( bis )

Nota: esta letra foi-nos enviada pelo nosso Camarigo Barbosa, Ex.Alf.Mil



TURISMO NA GUINÉ

Vamos todos para a GUINÉ
Desenvolver o Turismo
Não deixe de utilizar
Os seus parques de Campismo.

Dêem tiros, atirem bombas
Corram tudo à bofetada,
Mas não há perigo nenhum
Quando se dorme em PIRADA.

Há terras maravilhosas
De certeza que não minto
Se duvidam, vão visitar
COPÁ e TEIXEIRA PINTO.

Tenho um carro muito bom
Veloz e de grande brécage
Muito útil, quando caem
Os bombons em GUIDAGE

Eu queria ver bom teatro
Columbina a arlequim
Comprem-me um bilhete barato
Para o ataque a FARIM.

A situação na Guiné
É melhor do que se pinta,
Tente ir de bicicleta
De GANTURÉ até BINTA.

Progresso social existe,
Há condições de higiene,
Hotel de 1ª classe
Na região de BIGENE.

Faça turismo na Guiné
Traga o seu colchão de espuma
Acampe com segurança
Na zona de BURUNTUMA.

LSD, Marijuana,
Heroína e Haxixe
A excitação é maior
Nas cercanias de PICHE.

Não te gramo e estás belo
São frases do apogeu,
Faça regatas de remo
Nas margens do rio CACHEU.

Sempre disse que eras louco,
Palerma, idiota, labrego,
Passei a ter a certeza
Depois de ir a NOVA LAMEGO.

No rio procurei trabalho
E fui para a outra banda;
Então, apanhei ameixas
Na região de BEDANDA.

Para XIME não consigo
Arranjar rima jeitosa,
Mandaram-me aos gambozinos
Junto a ALDEIA FORMOSA.

Para eu me desintoxicar
Lá dizia a minha avó
Meu neto, "vai veranear
Para as bandas de CATIÓ".

Qualquer dia, não resisto
Às GALINHAS vou parar,
Já disse: "Estou farto disto,
E quero-me pôr a andar".

Se não conhecia utopia
Nunca visitou BOLAMA,
Liberdade, berros, gritos
E foguetada na cama.

A Guiné é coisa excelsa
Tudo bom, nada de mau;
Faça uma visita nocturna
Ao PILÃO de Bissau.

Ir para é dever,
Mas é preciso ser pato
Para fazer de cow-boy
Na zona de OLOSSATO.

O nharro é civilizado,
Não é canibal, nem trinca,
Contudo é conveniente
Não dormir em BAMBADINCA.

Toda a vida é alegre,
Como eu gramo este mundo;
Mudei logo de opinião
Desde que fui ao PELUNDO.


Mulheres belas, praias boas
BUBAQUE e QUINHAMEL;
Faça ski aquático
De CACINE a GADAMAEL.

Pulseiras de prata bonita
Adquirem-se em BAFATÁ,
Uma bojarda nos cornos
Apanha-se em CANQUELIFÁ.

Terra próspera atraente,
Gente simpática e boa
Experimente ir de coluna
de MANSABÁ a MANSOA.

Vila farta e progressiva
Portuguesa é que ela é,
Não há opinião diferente:
É MADINA DO BOÉ.

Se gostas de te divertir
Não existes vai também,
Goza um carnaval alegre
Com as bombas de JEMBERÉM.

És gordo e comilão
Sempre tiveste apetite,
Como tu emagreceste
Depois de uns dias em TITE.

És saudável, vives bem,
Mas não vás a BISSORÃ
Arriscas-te a perder tudo
E a acabar em PALHAVÃ.

Neste calor da Guiné
Passo os dias a bufar
Mas passo os dias muito pior
Depois da ida a CUFAR.

É simpático, bom rapaz
Os seus amigos adula,
Passou a estar apanhado
Depois da estadia em BULA.

Meu filho, come a sopinha
Mastiga depressa, engole
Senão, eu chamo o papão
Que te leva para XITOLE.

 A vida é fácil e boa
Mas quem se lixa é o Zé;
A situação é pior
Para os fuzas do CHUGUÉ.

Há convívio social
Uma vida mesmo chique
Há passagens de modelos
Nos casinos de CADIQUE.

Neste paraíso terrestre
Neste cantinho tão belo,
Como eu gostava de ver
O nosso amigo MARCELO.

(com letra minha e música do Armando, vamos andando)
(transcrito por António Costa)


NOITE

Numa aldeia
Adormecida,
Assombras negras
Da noite
Espalham-se
Pelas ruelas...
E, até a própria
Lua,
Com a sua luz
Branda e
Pura,
Não quer habitar
Nelas!
- Noite, porque vieste
Tão negra
Como a saudade,
Trazendo num choro
De ansiedade,
A tristeza que hoje
Habita em meu peito ?!
Noite,
Porque trouxeste
Na tua sombra
Uma infeliz
E amarga
Afronta
Do passado, no qual,
Eu fui feliz!...
Porque aqueles dias
Recordas
Com crueldade?
Noite...
Não serás tu,
A própria
Saudade!?...
20/11/1973, Guiné
(transcrito por António Costa)

"AQUELA ROSA"

Aquela rosa,
Que eu sonhava
E, junto dela,
Todos os dias
Passava,
Tinha,
Para mim,
Um perfume
Estranho
Nas suas pétalas
De marfim.
Aquela rosa
Dia a dia,
Se tornava
Uma obsessão:
- Tinha de
Roubá-la
Para a pôr
Bem junto
Ao coração!
E um dia,
Arranquei-a
E fechei-a
Entre as mãos...
Mas
Oh! Desilusão,
Os espinhos, encheram
Minhas mãos
De sangue
E...
As pétalas
Com que tanto
Sonhara
Caíram murchas
No chão!
20/01/1974, Guiné
(transcrito por António Costa)

  
PARTISTE
 
Já não ouço
A tua
Voz,
Já não vejo
A luz do teu
Olhar,
Porque tu,
Amor,
Partiste para não mais
Voltar...
Partiste,
Deixando em mim
O sulco
De uma lágrima
Não chorada,
Uma ânsia
Reprimida,
Uma história
Não contada;
Partiste
Sem ouvir
A voz
Que queria contar-te
Toda a verdade;
Deixaste no meu
Ser
A mancha negra
Da saudade;
Partiste...
E, agora,
Vivo só
No meio
Da multidão;
Não choro,
Não grito,
Vivo,
Apenas,
Para esta
RECORDAÇÃO!
09/04/1974, Guiné
(transcrito por António Costa)