O dia de Reis relembrado em Madina Mandinga, no dia 6 de Janeiro de 1974.
(nota introdutória sobre a história dos Reis Magos)
A história dos três Reis Magos do Oriente, em visita ao menino Deus, nascido em Belém, é contada no Evangelho de São Mateus (capitulo
2,9-12).
Os tradicionais Reis Magos, eram conhecidos como sendo, Melchior, Gaspar e Baltazar.
S. Pedro Crisólogo, explicava: os Magos, nos seus dromedários/camelos, caminharam do Oriente em direcção a Belém, levando as suas oferendas de, Ouro, Incenso e Mirra.
Os Magos, representam ou apontam as três grandes idades da vida: a juventude, a maturidade e a ancianidade. Melchior, representa a velhice, Gaspar, a idade da maturidade e Baltazar, o tempo da juventude.
No
contexto das oferendas: «com o Ouro, aceitam Deus Menino como Rei, com o
Incenso, reconhecem-n'O como Deus e com a Mirra, exprimem a fé
n'Aquele que havia de morrer».
Todos
três, chegados ao estábulo ou manjedoura, onde estava o Menino e seus
pais, Maria e José, cada qual ofereceu também uma moeda de oiro.
No
estilo representativo e figurativo das oferendas, o ouro, é o presente
que pertence a Melchior, o Baltazar, o Mago negro, com o cofre, oferece a
mirra e o Gaspar, com o turíbulo na mão, leva o incenso.
Por
norma histórica e representativa iconográfica da Adoração dos Magos,
eles, como Reis, mostram o seu estracto social, por isso mesmo, estão
vestidos com indumentárias ricas e multicolores, muito próprias e
significativas, com mantos e togas em tons de ocre e dourados.
Os presentes oferecidos ao menino Deus, são simbólicos e representativos da sua identidade e missão.
Na
Epifania,
O
Tradicional cortejo de Reis
Que os Reis de Társis e das Ilhas
Lhe
paguem tributos,
Que
os Reis de Sabá e Seba
Lhe
ofereçam os seus dons.
Que
todos os reis se prostrem diante dele
E
as nações todas o sirvam. (Salmo
71, 10 -11)
Em sequência aos festejos de natal, a minha memória recordava-me a rotina anual de participação daquela invocação, em especial
o cortejo do dia de Reis.
Eram
um cortejo muito rico de tradição local, e era também, um grande chamariz
popular, onde variados lugares da ilha se deslocavam para o ver, não só pela
riqueza dos vestuários, mas também pela vivência cristã que era muito vivida na
época de natal.
Os preparativos eram interessantes. Para além da confecção das indumentárias que, senhoras
habilitadas e disponíveis na arte de costurar, executavam e preparavam os
trajes apropriadas para vestir os
figurantes representantes do Antigo e Novo Testamento.
Aliado ao mesmo, preparava-se uma pequena filarmónica de meninos com idades de nove e onze anos.
Depois
do natal, lá se procedia diariamente aos ensaios com melodias de tradição
natalícia, que eram cantadas através de pequenos instrumentos de latão (em que
no bucal, tinha de ser colocado uma rodela de papel de seda), a fim de reproduzir
a sonoridade do canto no pequeno instrumento, feito por um latoeiro local.
Todos,
eram vestidos a rigor com um fardamento azul e branco, à marinheiro.
No
interior e a meio da igreja, estava uma
grande árvore de natal, (criptoméria, árvore tradicional nos Açores, para
ornamento por altura do natal), estava enfeitada com pacotes de bolos secos,
figos passados, alfarrobas, bombons de chocolate, embrulhados em papéis de seda
de cores variadas, e a complementar a decoração, estavam laranjas e mandarinas.
Junto da árvore, no interior da igreja, o Cortejo em alarido já preparado e
ordenado, mostrava muita organização e sequência narrativa do anuncio e
nascimento de Jesus Menino.
O
Cortejo iniciava-se com os guias anunciadores, um, com cornetim e o outro, com uma estrela guia, ambos sentados sobre
cavalos brancos cobertos de panos adamascados. De seguida, os Três Reis
Magos com vistosas capas e coroas
douradas, com as suas oferendas bem trabalhadas, montados em cavalos de cor castanha, lá
seguiam o trajectória da estrela guia.
O
rosto do Rei preto, era maqueado com rolha de cortiça queimada, para produzir o
efeito e brilho necessário.
Os
figurantes, profetas do Antigo e Novo Testamento, luxuosamente bem
caracterizados e com os devidos adereços indicavam as suas linhagens, davam
ideia precisa do seu estracto social da época, conforme descrição plasmada na
Sagrada Escritura.
Uma cabana
pequena e em forma de andor, preparada com execução profissional, coberta de
palha devidamente disposta, e dentro, o Menino Deus, deitado, era transportado
aos ombros de meninas que se revezavam.
Em redor
da cabana, e em forma de octógono, eram dispostos anjos, trajando túnicas brancas, rosas, azuis e
amarelas, sendo também embelezado com meninos e meninas que, se incorporavam
vestidos com trajes garridos e populares, trazendo em suas mãos as mais
variadas oferendas tais como: cestinhos de ovos, galinhas, pombas, frutos da
época, laranjas, tangerinas, variados doces e bolos secos.
A
complementar o cortejo, seguia a pequena banda de música dos meninos, e a fechar, iam as figuras da alta
nobreza da época, acompanhados pelos seus pajens e aios da corte romana.
No Final do cortejo, uma filarmónica, executava durante todo o trajecto, peças curtas de
natal, muito variadas e conhecidas, de modo a que as pessoas locais, visitantes
e forasteiros, pudessem acompanhar com suas vozes, expressando assim o calor
humano e o amor, que os festejos natalícios fazem conduzir nos seios
familiares.
Ao entrar
na igreja, todas as oferendas eram recolhidas e entregues aos organizadores, para
uma arrematação final, para ajudar a custear as muitas despesas e trabalhos.
Foi assim que eu passei o dia de Reis de 1974, em Madina, a recordar o meu Dia de Reis, na minha Ilha.
Um abraço para todos os camarigos
José Graça Gaipo