(reproduzimos do nosso Camarada José Saúde,
ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, da CCS do BART 6523, sediada em Nova Lamego, o
seguinte artigo retirado de algures)
VISITA A MADINA MANDINGA
PASSEIO SEGURO À BEIRA DO ONDULADO CAPIM
Foi
um dia memorável! Uma visita amigável à 1ª. Companhia do BART 6523 sediada em
Madina Mandinga, apresentou-se como uma viagem antes impensável. As estratégias
no terreno estavam definidas. O PAIGC e a nossa tropa haviam estabelecido
princípios de entendimento e o medo da picada, e a sua imprevisibilidade, antes
constatado, oferecia agora uma segurança absoluta.
Foi
a um domingo e já em tempo de Paz que um grupo da CCS, em Nova Lamego (Gabú) e
a Companhia destacada em Madina Mandinga, combinaram um jogo de futebol. Dois unimogues com
malta que se entregava entretanto a brincadeiras pontuais, e eis-nos perante o
grupo disposto a desbravar conteúdos de uma picada onde a ondulação do capim se
misturava com árvores de grande porte nascidas na exuberância da densidade do
mato.
O resultado final não
interessou, tão-pouco ficou registado nas minhas memórias. Não interessa! O
único objectivo foi o amplo convívio constatado. O festim decorreu de forma
cordial, trocaram-se impressões, comentou-se o último ataque a Madina,
apontou-se para o sítio das valas que serviram de protecção aos ilustres
soldados e recordou-se os locais onde os foguetões haviam caído. Pelo meio de dois
dedos de conversa umas fotos para mais tarde recordar.
Dessa
viagem, com o pessoal completamente dispensado das G3, bazuca, ou do morteiro
60, ficaram momentos inolvidáveis passados entre camaradas de armas que
contemplavam então a Paz agora sentida em toda a largura do terreno. Recordo,
que a dita viagem entre as duas populações distavam cerca de 20kms. Todavia, os
quilómetros de picada assumiam-se como um osso duro de roer. Lembro que o
percurso dividia-se entre o asfalto (alcatrão) e terra batida.
Revivendo
esse já longínquo convívio em terras da Guiné, recordo agora a forma
desinteressada como fomos recebidos pelos ilustres anfitriões. Uma recepção
extraordinária, uns chutos numa bola já defeituosa, um almoço bem regado, uma
cavaqueira que se arrastou ao longo da tarde, uma mesa cheia de bebidas, umas
belíssimas canções para animar e, finalmente, as despedidas aos companheiros de
Madina que determinou, como foi evidente, o nosso regresso a Gabú.
O
Capitão Milº. José Luís, sempre simpático, congratulou-se com a visita, mas foi
com o 1º Sargento Brito que dissequei os momentos mais ávidos sentidos pela
Companhia ao longo da comissão em Madina. A “talho de foice”, e com toda
a justiça o digo, que o 1º Sargento Brito era, e é certamente, um homem de se lhe
tirar o chapéu. Gostei dele!
Soube,
recentemente, através do ex. Alferes Miliciano António Barbosa, um camarada de
armas que integrava o nosso BART 6523 e que pertencia à 2ª Companhia sediada em
Cabuca, que o então 1º Sargento Brito está, actualmente, aposentado como Major.
Confesso que me congratulo por saber tão feliz notícia. Um abraço, e bem
grande, meu Major. A vida, por norma, sorri-nos quando dentro de nós existem
factores humanos que suplantam o nosso querer, a nossa vontade e o nosso ego.
As
tabancas, ao fundo, retratam realidades num espaço distante onde as fortes e
medonhas trovoadas se cruzavam com um cacimbo atroz e um arco-ires que se
sobrepunha a um horizonte belo mas sempre carregado de incertezas. O calor
sufocante hostilizava, também, as nossas vidas.
(com um “mascote” apadrinhado nessa célebre visita a
Madina. Atrás o Cap. José Luís “de costas” e o Alferes Miliciano Santos, da
minha Companhia)
Um abraço a todos os camaradas,
José Saúde
Fur Mil Op
Esp/RANGER da CCS do BART 6523
(transcrito por António Costa)
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