quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

GUINÉ EM TEMPO DE PAZ - 1974


     (reproduzimos do nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, da CCS do BART 6523, sediada em  Nova Lamego, o seguinte artigo retirado de algures)

VISITA A MADINA MANDINGA 
PASSEIO SEGURO À BEIRA DO ONDULADO CAPIM
 
Foi um dia memorável! Uma visita amigável à 1ª. Companhia do BART 6523 sediada em Madina Mandinga, apresentou-se como uma viagem antes impensável. As estratégias no terreno estavam definidas. O PAIGC e a nossa tropa haviam estabelecido princípios de entendimento e o medo da picada, e a sua imprevisibilidade, antes constatado, oferecia agora uma segurança absoluta.

Foi a um domingo e já em tempo de Paz que um grupo da CCS, em Nova Lamego (Gabú) e a Companhia destacada em Madina Mandinga, combinaram um jogo de futebol. Dois unimogues com malta que se entregava entretanto a brincadeiras pontuais, e eis-nos perante o grupo disposto a desbravar conteúdos de uma picada onde a ondulação do capim se misturava com árvores de grande porte nascidas na exuberância da densidade do mato.

O resultado final não interessou, tão-pouco ficou registado nas minhas memórias. Não interessa! O único objectivo foi o amplo convívio constatado. O festim decorreu de forma cordial, trocaram-se impressões, comentou-se o último ataque a Madina, apontou-se para o sítio das valas que serviram de protecção aos ilustres soldados e recordou-se os locais onde os foguetões haviam caído. Pelo meio de dois dedos de conversa umas fotos para mais tarde recordar.
Dessa viagem, com o pessoal completamente dispensado das G3, bazuca, ou do morteiro 60, ficaram momentos inolvidáveis passados entre camaradas de armas que contemplavam então a Paz agora sentida em toda a largura do terreno. Recordo, que a dita viagem entre as duas populações distavam cerca de 20kms. Todavia, os quilómetros de picada assumiam-se como um osso duro de roer. Lembro que o percurso dividia-se entre o asfalto (alcatrão) e terra batida.

Revivendo esse já longínquo convívio em terras da Guiné, recordo agora a forma desinteressada como fomos recebidos pelos ilustres anfitriões. Uma recepção extraordinária, uns chutos numa bola já defeituosa, um almoço bem regado, uma cavaqueira que se arrastou ao longo da tarde, uma mesa cheia de bebidas, umas belíssimas canções para animar e, finalmente, as despedidas aos companheiros de Madina que determinou, como foi evidente, o nosso regresso a Gabú.

O Capitão Milº. José Luís, sempre simpático, congratulou-se com a visita, mas foi com o 1º Sargento Brito que dissequei os momentos mais ávidos sentidos pela Companhia ao longo da comissão em Madina. A “talho de foice”, e com toda a justiça o digo, que o 1º Sargento Brito era, e é certamente, um homem de se lhe tirar o chapéu. Gostei dele!

Soube, recentemente, através do ex. Alferes Miliciano António Barbosa, um camarada de armas que integrava o nosso BART 6523 e que pertencia à 2ª Companhia sediada em Cabuca, que o então 1º Sargento Brito está, actualmente, aposentado como Major. Confesso que me congratulo por saber tão feliz notícia. Um abraço, e bem grande, meu Major. A vida, por norma, sorri-nos quando dentro de nós existem factores humanos que suplantam o nosso querer, a nossa vontade e o nosso ego.
(Um brinde com whisky entre o 1º Sargento Guerra e claro, eu, José Saúde)

As tabancas, ao fundo, retratam realidades num espaço distante onde as fortes e medonhas trovoadas se cruzavam com um cacimbo atroz e um arco-ires que se sobrepunha a um horizonte belo mas sempre carregado de incertezas. O calor sufocante hostilizava, também, as nossas vidas.
(três meninas, hoje senhoras, de Madina Mandinga)

(com um “mascote” apadrinhado nessa célebre visita a Madina. Atrás o Cap. José Luís “de costas” e o Alferes Miliciano Santos, da minha Companhia)

Um abraço a todos os camaradas,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
(transcrito por António Costa)

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