sexta-feira, 12 de abril de 2013

OLHAR MADINA MANDINGA

Descrição física e ambiente de Madina
Deixado o Destacamento de DARA, da responsabilidade e comando da 1ª Companhia BART 6523, entramos em estrada asfaltada e, após percorrer cerca de 5Kms, e num desvio, encontramos à direita um caminho de terra batida, que praticamente era picada, para manter as seguranças solicitadas por outras companhias em missão bélica.
No percurso, e de olhar desperto em todas as direcções, uma densa vegetação nos entra pela retina visual. No meio de variados tons de verdes, sobressaía um matizado de cores que, só um registo digital poderá captar a sua real produção paisagística.
Pelo meio da vegetação, algumas bolanhas onde fertilizavam as cerealiculturas indispensáveis à alimentação e sobrevivência dos nativos.
De onde em onde, árvores de grande e pequeno porte, apresentavam-se queimadas por terem sido atingidas por raios fortíssimos que, durante a época das chuvas, eram normais, em simultâneo com os vendavais, anunciadores de tempestade passageira, mas perigosa dada a baixa e densa humidade climatérica, o que em zonas ou terrenos mais carregados de H2O, faziam atrair o raio potenciador de destruição.
A par daqueles troncos queimados que lhe davam uma certa e imponente beleza, outras obras arquitectónicas, os “baga-baga”, espécie de santuários edificados por formigas vermelhas. Estavam produzidos e esculpidos em arte tosca e natural, construídos e erguidos em tons quentes, formando como se fossem pequenas torres dispersas, imitando castelos.
A estrada, uma picada de terra batida, era ondulada de altos e baixos no contraste cinzento do solo nada acidentado, mas obrigava a um movimento de olhares à densa vegetação de arvoredo e capim.
O Outono não dava espaço à criatividade colorida que a natureza por si mesmo criara. Tudo era e parecia estranho àquela fértil natureza.
A par desta soberba paisagem, entramos no quartel de Madina Mandinga, cercado de arame farpado, com holofotes de alta voltagem e dispositivos detonantes preparados e distanciados entre si, no sentido de garantirem uma visualização e segurança, de modo a impedir a entrada de pessoas ou forças estranhas no recinto dos habitantes da 1ª comp/bart 6523.
No interior da protecção metálica, (arame farpado), o casario de cor branca, dava um ar de segurança e pacificação a quem lá entrava. O contraste térreo da parada, dava-lhe um aspecto solene num conjunto arquitectónico simples, coberta de chapa metálica cinzenta, aparentando uma pequena mansão solarenga e dividida em pequenos compartimentos que serviam de habitações, onde a Missão militar, podia em tempo certo e oportuno, pernoitar e descansar o seu sono isento de preocupações inexplicáveis.
As manhãs entravam cedo e, aquecidas de humidade, provocavam corpos melados que convidavam à não apetência ao uso de vestuário militar ou até mesmo do traje civil.
Com o andar do tempo, a adaptação foi ocupando o gosto, o seu lugar, e a sensibilidade de se acomodarem, sendo finalmente ajustada ao “modus vivendi”, maneiras de viver.
O véspero era um momento consolador de apreciação. Os seus ocasos, recheados de coloridos inesquecíveis que nos obrigavam a refectir, pensar e admirar em jeito de contemplação, escrever no nosso imaginário a construção de jogos de palavras associados à plástica de pensamentos estéticos, para assim, descrever os grandes momentos inesquecíveis que a natureza nos mostra e nos oferece, sem que tenhamos a oportunidade de relação e de diálogo com ela, para agradecer os momentos proporcionados.
Os noctunos absorviam vagarosamente o véspero, e era espantoso observar o lugar que um dava ao outro sem qualquer atropelo de sobreposição, escurecendo o dia na sua totalidade para dar lugar ao momento da noite. Era assim em Madina Mandinga.
José Graça Gaipo
Ponta Delgada-Açores, 10 Abr 2013

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