Caros amigos
O intemporal em nós, está ciente do
intemporal da vida, e sabe que o ontem, não é senão a memória do hoje, e o
amanhã, é o sonho de hoje.
Mas, se em pensamento quiserdes medir o
tempo em estações, deixai que cada estação compreenda todas as outras, e deixai
que o hoje, abrace o passado com saudade e o futuro com ânsia, porque;
Nós somos primavera
gostamos de cantar,
nós somos juventude
nascemos para amar.
Na verdade, estamos em Junho, e
com ele, mais um começo de festa e vida renovada em partilha.
Como é bom estar em ambiente
que nos envolve de sentimentos onde a amizade é o padrão que equilibra a ratio
de sermos tal qual somos na vida e nas coisas que são da razão de nós homens.
Por maiores que sejam as
causas ou motivos deste novo reencontro, é certo que a presença de cada um, é motivo
de alegria e confraternização, para recordar o passado no presente, tempo que
palmilhamos cada dia, que é afinal um tempo sempre diferente daquele que
planeamos e gostamos.
A amizade do reencontro no tempo presente, é a
componente solidária que por natureza nos vincula e convida a um partilhar, nem
que seja o olhar e sorriso de cada um.
As sociedades constroem-se, no
compromisso e lealdade do homem, e por isso, interligadas não só pela presença
vital, mas também por serem novas forças motrizes, que nos despertam no
caminhar para o abraço que nos espera, e que em troca, soa a voz e a palavra
amiga, que esteve distante em algum momento.
Sempre entendeu o tempo numa dimensão
cíclica, sujeita ao efeito do “eterno retorno”.
Isto explica a importância,
desde logo, às celebrações e ritos que evocam e reproduzem o tempo primordial,
aquele que sempre nos marca e vincula a um objectivo concreto, cuja essência
subsiste no reportório dos grandes valores da amizade já enraizada, ao passo
que tudo o resto, se torna secundário.
O equinócio da Primavera finda
com a chegada da nova estação “O verão” e
comemora-se o 41º ano da nossa tão
tradicional festa, de Reencontro de, Os Amigos de Madina Mandinga.
Numa retrospectiva do tempo da
nossa era, todo o circuito de nossas vidas, contemplam um ciclo que enquadra as
estações, e por isso, certo astrónomo disse: Mestre, e o tempo?
E Al Mustafá replicou:
“Se dependesse de vós,
mediríeis o tempo ilimitado e o incomensurável.
Tentais adaptar a vossa
conduta e até dirigir o rumo do vosso espírito de acordo com as horas e as
estações.
Desejais fazer do tempo um
ribeiro, em cuja margem vos sentaríeis a vê-lo fluir.
Porém, o intemporal em vós, está
ciente do intemporal da vida, e sabe que o ontem, não é senão a memória do hoje,
e o amanhã, é o sonho de hoje.
Mas, se em pensamento
quiserdes medir o tempo em estações, deixai que cada estação compreenda todas
as outras, e deixai que o hoje, abrace o passado com saudade e o futuro com
ânsia”.
Que a nossa festa seja uma
canção de primavera, estação onde a terra se reveste de ervas, e todas as
plantas se rompem em flores de esperança.
A Primavera está associada ao
Oriente, porque nessa época todas as plantas começam a brotar da terra; o
Verão, está vinculado ao Meio-Dia, porque essa zona é mais fustigada pelo
calor; o Inverno, com o Norte, porque é enrijecido pelos frios e pelo gelo
perpétuo; e o Outono, com o Ocidente, pois é uma época de graves enfermidades e
em que caem todas as folhas das árvores, para que o Outono abunde em doenças,
concorrem a vizinhança do frio e do calor e o choque entre os ventos
contrários.
Por motivos muito
compreensíveis, a sua iconografia e identidade esteve e está sempre ligada, de
maneira directa às tarefas e às celebrações do misterioso ciclo agrícola.
Conservou-se, todavia, o costume de personificar as estações diferenciadas
pelos atributos: a Primavera com as flores, o Verão com as espigas, o Outono
com os cachos de uvas, o Inverno resguardado por roupas.
Se um dia, nos dispuséssemos a
fazer uma manta de retalhos com o quadro das estações, em que iniciamos e
terminamos a nossa carreira ou serviço militar obrigatório, decerto que o
puzzle sairia muito enriquecido de matizes e lembranças que o tempo nunca
apagará de nossas memórias.
Descrever as nossas cartas ou
correspondências diárias, as manhãs, as tardes, os dias, as noites, o calor, a
humidade, os cheiros, as vozes, os barulhos estranhos, o luar, o sossego
nocturno e inquietante, os verdes tornados escuros com o vazio da noite longa,
tudo isto é dar novo movimento e vida às aspirações da sobrevivência de homens
carentes com ânsias e desejos tornados em sinais de novos rumos.
A colorida manta de retalhos,
com certeza que produziria um arco-íris, contendo no intemporal das suas cores,
o ilimitado e incomensurável tempo e vida disponibilizado em estado de alerta
contínuo a tempestades ruidosas e selvagens do IN, que sorrateiramente envolto
em neblina lançaria o seu mortífero veneno.
Qual manhã, onde a geada e o
nevoeiro estavam de partida ao raiar novos fachos de luz solar, os suaves
vapores húmidos esvoaçando sobre os mesmos espaços alimentando os verdes
adormecidos da esperança longa que, o tempo media na lonjura dos dias, das
horas e dos meses.
Qual poema, pintado de palavras e conversas
nocturnas nunca passado ao papel, porque a realidade pareceu sempre um sonho
desfeito, porque as lágrimas sofridas descoloriram as tintas e os matizes da
nossa linguagem e pensamento.
Que a nossa festa seja bálsamo
para os nossos sentidos, e em todos os nervos pule uma sensação revigorante que
estimule um suave impulso do coração.
Que o lauto manjar ou repasto, seja ao toque
de excitante alegria, onde não falte a música, o soar de pífaros, o rufo de
tambores, o ranger do realejo e o toque da gaita-de-foles, com a dança, as
folias e os saltos da rapaziada ao som das tradicionais canções populares.
Que a alegria se prolongue até
ao ocaso da tarde, que o abraço do hoje em despedida temporária seja um até
logo, dá-me notícias tuas, e sempre que nossas vozes se cruzem no espaço
hertziano, digamos sempre, olá, estou deste lado, conheço a tua voz e a tua
palavra muito amiga. Obrigado pela tua atenção e me ouvires por momentos.
Bem hajam a todos na Paz, na
Saúde e na Alegria e no viver de cada dia.
José Graça Gaipo