segunda-feira, 31 de outubro de 2011

JARCA "o vendedor de vacas"

"SE NÃO PUDERES DESTACAR-TE PELO TALENTO, VENCE PELO ESFORÇO"

E assim foi, Jarca, o negro vendedor de vacas, sempre vestido de túnica branca e gorro, que de dois em dois dias ia a Madina vender uma vaca para alimentação de toda a 1ª Cart.






(Jarca junto da cantina e o Artur Zé Gato de joelhos)








Era todo um ritual na morte do animal, pois começava por amarrar a vaca a uma árvore que existia no centro da parada, virava-se a cabeça do animal (o que era feito sempre por um ou mais soldados dos mais fortes) para Meca, agarravam-na pelos cornos e então era degolada. De seguida era esquartejada, os miúdos eram vendidos aos soldados para fazerem umas patuscadas e a restante carne era para ser comida nos dias seguintes, cuja ementa não saía sempre dos mesmos pratos: bife com arroz, carne estufada com arroz, carne com batatas (quando as havia), virava-se o disco e era sempre a mesma coisa, mas pelo menos havia carne.
Penso que era uma despesa para a companhia que ficava por 2 contos de réis (pesos) o que já era uma quantia avultada para a época.

O Jarca era o fornecedor oficial, era um homem com posses, já tinha uma manada com umas dezenas de cabeças. Também era dono de uma bicicleta muito famosa pois toda a malta gostava de dar uma volta nela.
(foto da dita bicicleta com o Sousa padeiro)

Possuía também um rebanho de cabras que de quando em vez, lá desaparecia uma, por motivos um pouco estranhos à sã convivência e praticada por amigos do alheio que gostavam de fazer umas patuscadas de cabrito e para a qual muitas das vezes convidavam o próprio Capitão, que no outro dia já tinha à porta do gabinete o Jarca a dizer que lhe faltava um cabrito e que tinha sido o pessoal branco (tropa).
Justiça lhe seja feita nunca disse que lhe faltava sem ser verdade, por ser um homem honesto, logo a companhia pagava o dito cabrito que serviu para a farra.
O Jarca era uma figura que de certeza jogava em ambos os campos, pois ele andava com todo o à vontade por qualquer lado e sempre sem problemas.

Camarigos aqui vos deixo mais um naco da nossa vivência por terras da Guiné e será um contributo para que UM POVO QUE NÃO CONHECE A SUA HISTÓRIA, NÃO PODE COMPREENDER O PRESENTE NEM CONSTRUIR O FUTURO.
Um forte abraço, Monteiro ( Manhiça )

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