por antónio costa
Madina Mandinga tanto quanto
pudemos saber, através de relatos de várias pessoas e muitas pesquisas, não
existia. Aquele local era uma área relativamente plana, coberta de vegetação
tipo savana, com algumas árvores e muito capim. Não havia as tabancas e a população
mandinga só veio para esse local pouco antes da nossa Companhia ter chegado.
Quais as razões que terão estado na origem de ali se erguer um quartel?
Madina do Boé tinha sido
abandonado em fins de Fevereiro de 1969. Com a retirada dos nossos militares desse
local ficou uma vasta área sem tropas, pelo que se tornava mais fácil a
penetração do IN vindo da Guiné-Conacry. Facilmente atravessavam o Rio Corubal
e rapidamente se instalariam por ali, na zona de Batanklim, não muito longe de
Nova Lamego (Gabú).
Verificada portanto essa situação
e também para assegurar o itinerário Nova Lamego-Piche, sabemos por relatos que
as nossas colunas eram constantemente atacadas nesse percurso, julgamos que por
essas duas razões foi decidido mandar construir um aquartelamento naquela zona,
a que deram o nome de "Madina Mandinga".
Assim, em fins de Abril de 1969 a
CCaç 2315, pertencente ao BCaç 2835, iniciou e colaborou na desmatação e
construção da picada entre o cruzamento da estrada Nova Lamego-Piche e Madina
Mandinga.
Em Agosto desse mesmo ano,
iniciaram as obras do Aquartelamento de Madina Mandinga e no final de Outubro
de 1969, essa companhia de caçadores (2315) assumiu a responsabilidade dessa
zona, tendo-se ali instalado em tendas (as obras estavam praticamente a começar).
Estes dados foram fornecidos por um militar dessa companhia de nome Manuel José
Moreira de Castro.
Passado um mês, e por ter
terminado a comissão na Guiné, essa companhia foi substituída, em 29 de
Novembro, pela CCaç 2619, pertencente ao BCaç 2893, que ali permaneceu durante
quase dois anos, até Agosto de 1971.
Podemos dizer que foi esta
Companhia (2619) que, ao longo dos dois anos, colaborou e construiu todo o
aquartelamento. Os pelotões ficaram instalados em grandes tendas de campanha.
Terá sido, sem dúvida, um enorme sacrifício para todos os militares desta
companhia a viverem naquelas condições muito precárias.
No sub-menú "MULTIMÉDIA" do nosso blog podemos visualizar um conjunto
de slides, gentilmente cedidos por Filipe Nogueira ex. Furriel dessa companhia
(2619), os quais evidenciam o decorrer das obras, algumas casernas já erguidas,
a abertura das trincheiras, a entrada do aquartelamento, o arame farpado, o
futuro campo da bola.
A esta companhia de
caçadores os "bico calado" muito se deve as belas instalações e
que nós mais tarde fomos usufruir.
Em 13 de Agosto de 1971, os
"Bico Calado" regressou ao Continente e foi rendida pela CCav 3406,
pertencente ao BCav 3854, que completaram as obras e ocuparam as instalações na
sua totalidade.
Sabemos por indicação de Manuel
Gonçalves Domingos, militar desta companhia, que estes ainda tiveram de fazer o
forno do padeiro.
Publicamos a seguir 3 fotos deste
nosso camarada, numa das quais se pode ver os blocos acabados de fazer e que
seriam para o forno.
Esta companhia, que nós fomos
render e denominada "Cavaleiros de Madina", era comandada pelo
Capitão Cadavez. Segundo disse o Manuel Domingos tiveram dois ataques ao
aquartelamento mas sem feridos. Registaram uma baixa por doença. A
população, que estavam nas tabancas junto ao aquartelamento, tinha chegado há
relativamente pouco tempo.
Em 08 de Setembro de 1973 a nossa
1ª Cart/Bart 6523 mandou embora os "Cavaleiros de Madina" e
ocupamos em plenitude as instalações. Limitamo-nos a fazer uma limpeza geral e
os mais corajosos pintaram as instalações onde dormiam. No meu caso tive a
pachorra de pintar o quarto, que compartilhava com o meu amigo Soares,
incluindo as camas (de cor vermelha). Comprei os panos em Nova Lamego e fiz
cobertas para as camas e cortinados para a janela. O tampo da secretária foi
forrado a pano.
Também a messe foi pintada e o
nosso Zé Gaipo fez uns belíssimos quadros e cortinados. Outros houve que não
quiseram saber disso para nada, até com as botas dormiam, como o caso do
Monteiro Manhiça e Cªp.ldª., mas também não estragaram nada.
Como as obras estavam feitas a
nossa companhia limitou-se a fazer algumas tabancas para os mandingas, mas
julgamos que nunca foram ocupadas.
Em 20 de Agosto de 1974, a nossa
companhia os "Leões de Madina" abandonou aquele local, entregando as
instalações em boas condições, aos responsáveis do PAIGC pela mão do nosso Comandante
de Companhia, o Capitão Milº. José Luís.
Deixamos intactos e com asseio os
símbolos deixados pelas respectivas companhias que nos antecederam, tanto na
fachada principal da casa do gerador como os que estavam na base do trono da
nossa Bandeira, para por lá permanecerem para a posteridade. Contudo, não
abandonamos Madina Mandinga sem, com todo o respeito e lealdade arriarmos e
transportarmos a nossa Bandeira Portuguesa.
Sabemos que posteriormente o
PAIGC abandonou Madina e toda a população se deslocou para outras
tabancas.
Madina Mandinga voltou assim,
passados cinco anos, a ser o que era antes - um local coberto de vegetação
rasteira, com algumas árvores e muito capim. Possivelmente no meio desse
matagal, as ruínas do nosso aquartelamento.
Desiludam-se alguns aventureiros
que possam querer ir visitar Madina Mandinga, provavelmente nem acesso terão
para lá chegarem.
A todos os "LEÕES DE
MADINA", a todos os "CAVALEIROS DE MADINA", a todos os
"BICO CALADO" e à primeira companhia que apenas lá esteve um mês, um bem-haja
e resta-nos a saudade do local para recordar (e que bom é recordar). Um abraço
para toda essa valente e corajosa juventude.
Nota: este trabalho de pesquisa
poderá ter alguma imprecisão e possivelmente incompleto, pelo que muito
agradecemos que outros possam dar mais contributos. Oxalá surjam comentários a
este artigo por parte de todos os Madinenses que por lá passaram, para que esta
breve história de Madina Mandinga seja eventualmente mais enriquecida.
obrigado
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