por
José Graça Gaipo
A
Véspera de Natal
24 de
Dezembro de 1973
Em Madina Mandinga, o raiar da aurora, despontou em
crepúsculo, pincelado de tons solares quentes, como que a esconder o fim do
ciclo do Advento.
A manhã, parecia uma autêntica festa boreal anunciando o
grande luzeiro de há muito proclamado pelo
profeta Isaías.
A manhã do dia 24, parecia alongar-se no tempo e, ansiosos, em
azáfama desenfreada de rostos sorridentes, pronunciavam de suas bocas, conversas
carregadas de sentimentos e lembranças natalícias.
No espírito de cada um, transparecia alguma preocupação, a
data de 24, a qual, se pretendia festejar
e celebrar sem qualquer tropelia bélica em tempo e local inesperado.
Entre a malta, os avisos eram visíveis de preocupação, porque a vigilância, além de
importantíssima, merecia atenção redobrada,
cuidado e zelo, considerando-se os possíveis excessos de cada um, na forma como
festejaria o Natal.
A tarde, esta começava
com uma acção humana de movimentos e serviços de naturezas diferentes,
mas comuns, enquanto outros, eram encarregues da organização dos haveres comestíveis em preparação, pelo que
outros ainda, ajustavam as mesas, ditadas à decoração com as diversas iguarias
da época, já preparadas e recebidas, dos mais diferentes lugares.
Os estados de espírito humano, eram notórios e, revelavam
maior afectividade e companheirismo comunitário, em que pronunciavam as
cordiais e milenárias palavras de - Boas Festas e Feliz Natal.
O pôr-do-sol, na zona de Madina Mandinga, aproximou-se e esvaíu-se no horizonte para dar lugar ao
luz que fusco de mais uma noite, caracterizada de especial relevância, que a distância do tempo
/e fuso horário, anunciaria bem cedo, a vigília do natal.
Na parada do aquartelamento, era bem visível o aparato
desigual de movimentos, de partilha invulgar, não havendo sinais de
prendas nem embrulhos coloridos de mão em mão, como é
usual e costume na nossa tradição portuguesa naquela noite, mas apenas, a
preparação de uma organizada e especial
ceia de natal em hora antecipada, bem recheada de iguarias alimentares de,
cabrito assado, galinha, gazela, e outros animais de criação doméstica, e
campestre, adquirida de forma amiga e conjunta.
Entre o final da tarde e o anoitecer, lá se iniciou o festado
jantar especial, para que a passagem da
escura noite de 24 para 25, fosse
brindada na alegre saudação ao
Deus Infante nascido.
A “messe de oficiais e sargentos”, de Madina Mandinga, também não saíra da
tonalidade festiva, tendo as mesas decoradas
e apetrechadas de iguarias ligadas à tradicional celebração natalícia.
Dada a diferença horária, de acordo com o rigor e
enquadramento do fuso horário da Guiné, eram indispensáveis os mais cautelosos
cuidados de redobrada atenção, pois o tempo festivo que atravessávamos, era propício à ocasião
bélica.
Com alguma emoção e tranquilidade, o Capitão Miliciano José
Luís Borges Rodrigues, e na forma improvisada, de mensagem e significado, teceu
algumas palavras que tornaram aquele momento muito festivo.
O tom solene e especial
da sua mensagem, de certo que, a todos tocou bem fundo o coração do homem, que
só a vergonha e respeito humano, deixou todos de cabisbaixos por alguns
momentos, para que as lágrimas do desejo e saudade, não turvassem os olhares brilhantes e humedecidos das lágrimas que
escorreram em gota suave e tranquila
face do rosto, de cada um.
Após aquele momento introdutório, os olhares cruzados, com
sorrisos nos lábios e de frontes erguidas, de copos na mão, foi servido o Gin
tónico, com gelo e água perrier, brindando-se de forma particular aos mais
variados desejos, interiormente invocados.
Fez-se uma pausa para a degustação dos aperitivos, seguindo-se
a tão desejada ceia de natal, a qual, foi participada com a maior alegria no comes
e bebes, mas também partilhada e
confraternizada com a necessária serenidade e responsabilidade de quantos a
celebravam.
Chegadas as zero horas, dentro da simplicidade sem devaneios e excessos, brindou-se por
algum tempo a Grande e Bela Noite de Natal,
em Madina Madinga.
Após este momento precioso e desigual, deu-se continuidade à
rotina da noite reforçando os lugares estratégicos com o descanso de algumas
horas de sono, até que raiasse a aurora do novo dia.
Foi assim o primeiro Natal em Madina Mandinga, celebrado na
data de 24/25 de Dezembro de 1973 (já lá
vão 39 anos).
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