Há dias, e de
madrugada acordei, e fiquei desperto por algum tempo, esperando recuperar o
sono interrompido sem qualquer motivo.
Para dar
continuidade ao meu sono, que pareceu difícil aceder à minha vontade e
apetência da hora em causa, decidi, e optei por resolver o assunto, colocando
os auscultadores, e liguei de imediato o mp3 para ouvir a RDP, canal1.
Para meu
espanto, o locutor entrevistava o responsável e impulsionador de um grupo cultural
da zona Alentejana, expor a nova experiência com o levantamento de um
agrupamento popular recentemente criado e, com a intervenção de pessoas
voluntárias e ligadas à cultura musical, o sucesso foi altamente positivo.
O grupo meteu
mãos à obra cultural popular, procedendo junto da população idosa a uma recolha
de cantos populares e o uso dos instrumentos, entre os quais, a antiga viola campaniça,
e mais tarde, outros instrumentos de corda e sopro, foram surgindo como
complementos, bem como os cordofones a experiência cultural do meio.
O engraçado de
tudo isto, é que a base cultural procedeu-se com tal entusiasmo, que dada a
beleza do canto e das temáticas musicais recolhidas, nomeadamente os poemas,
nas temáticas proibidas na época do fascismo e já dentro do estado novo,
acabaram por obrigação fazer-se a primeira gravação em áudio. O nome do disco e
agrupamento, penso ser: Há lobos, sem ser
na floresta.
Cantou-se
Catarina Eufémia, as ceifeiras e outros temas, que só Abril transportou com a
liberdade de se poder cantar, pensar, e falar com a maior lucidez, aquilo que
fora em tempos, altamente proibido.
Mas o povo
culto ou não, sempre entendeu as palavras o que pretendiam dizer, e assim, felizmente
que foram descobertos muitos dos poemas guardados na memória dos populares, e
transmitidos, na forma oral, uma apetência cultural para a composição
contemporânea, acompanhada também de piano acústico, o adufe e outros, que o
ouvido sensível descobre ao serem cantados e tocados durante a intervenção.
Histórias como
estas, são de uma riqueza grande para os que pretendem perceber e entender a
cultura popular, que na maioria das vezes foi escondida e altamente reservada
face ao medo na época.
Isto é um bom
exemplo, para que os nossos leitores do blogue dos Leões de Madina Mandinga,
poderiam com algum esforço e vontade, contar.
Isto, é o
seguimento do alerta de que, há dias foi publicado. Contar histórias ou
estórias, é uma questão de vontade e querer, para estarmos a par do que vai
acontecendo ao longo dos dias e dos anos.
A nossa
história, também se pode reconstituir dentro deste mesmo formato, e seria um
enriquecimento, e ao mesmo tempo, um marco de entusiasmo de nos sentirmos e
fazer sentir os outros, sobre algo que nos aconteceu, dissemos e fizemos em
tempos do passado século XX.
José
Graça Gaipo
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