terça-feira, 20 de novembro de 2012

O Início mas não o FIM de Madina Mandinga

por José Luís Borges Rodrigues, ex. Capitão Milº.

Aos meus Leões de Madina Mandinga e a todos aqueles que por lá passaram. 
Volto de novo ao vosso convívio, depois de ler e reler o maravilhoso trabalho do nosso António Costa. 

Como todos os que me conhecem sabem, ainda hoje e felizmente, mantenho a chamada memória de Elefante. Assim, acho que vos devo relembrar, seguindo a cronologia deste Artigo, alguns factos que marcaram a nossa presença.
As razões da sua existência estão muito bem expressas no Artigo, pelo que passo a relembrar o motivo que nos levou a escolher Madina Mandinga como nosso destino: - Modéstia à parte, como era o Capitão com melhor classificação, (por isso somos a 1.ª Cart), tive o direito de escolha e, como também sabem que sempre fiz, achei por bem aconselhar-me com o Tio Brito, mais experiente na sua anterior passagem pela Guiné. Optámos por Madina, calculando bem os riscos, por duas razões fundamentais que foram, ainda hoje ao relembrar se vieram a verificar profundamente acertadas, a qualidade das instalações e,  principalmente, a autonomia em termos de vivência e criação de um espírito de grupo que, dando razão aos meus sonhos e desejos mais profundos, se transformou de imediato naquilo que agora ainda se chama e continuará a chamar-se a FAMÍLIA DE MADINA MANDINGA.

Sobre a nossa vivência não me vou alargar muito pois todos os anos, nos nossos Convívios, nos sabe bem relembrar vezes sem conta, repetidamente, os pequenos episódios e as muitas maluqueiras que nos ajudaram a cimentar aquilo que hoje possuímos.
Quero, no entanto, relembrar algumas coisas que fizemos e que acrescentaram um pouco de bem estar à nossa permanência:-
- Houve melhorias noutros quartos e em todas as Instalações;
- 5 furos de captação de água (nunca nos faltou);
- Instalaçao, pelo Quinito, do sistema de electrificação da vedação, com “ Comando à Distância”, que bem nos ajudou no 1.º ataque;
- A criação da Horta do Tio Brito que nos proporcionou legumes frescos provenientes das sementes compradas em Bafatá nas Colunas que, para além disso, também nos aportaram alguns outros benefícios inimagináveis para aquelas paragens, tais como sopas de feijão verde liofilizado, pescada congelada e os frangos que se assavam em metades nos bidons cortados a meio com grelhas de aço e tabuleiros para as batatas apanharem o molho que escorria, proveniente da pasta à moda da Bairrada com que eram untados.

Lembro também com enorme saudade a “edificação” do Café da Ponte onde inevitavelmente íamos parar, principalmente aos Domingos, depois de um grande jogo de futebol. A nossa Companhia ficou imbatível - banho, vestimenta à civil, belo almoço e então sim a peregrinação até tão célebre Café! 

Agora e em relação ao que deixámos, lembro que o projecto era a edificação de 40 tabancas, foi arranjado o espaço, desbastado o terreno, desenhadas as fundações, mas só foi possível completar aquela fase das 16, tendo ainda ocorrido outro episódio relacionado, do qual me lembro como se fosse hoje: - Num certo Domingo foi organizada uma Coluna proveniente de Nova Lamego a qual nos obrigou a um redobrado esforço de segurança pois nela vinham altas individualidades civis e militares com o fim de proceder à entrega das tão célebres Tabancas. 
Chegada a altura da Cerimónia, apresentou-se o representante da D.G.S. com o intuito de ser o próprio a fazer essa distribuição, intenção essa à qual me opus de imediato e, perante o espanto da comitiva lembrei-lhe que seria a nossa Companhia, por meu intermédio, a efectuá-la pois só nós sabíamos quem tinha merecimento pela ajuda prestada. Perguntou-me então o que estaria ele ali a fazer ao que respondi, pura e simplesmente: NADA!. Voltou de imediato para Nova Lamego e já não foi necessária qualquer escolta! 

Outros Tempos! Por tudo isto e por muito mais, a que só os que por lá passaram sabem dar valor, vos digo a todos, desde a C.Caç.2315, passando pela C.Caç.2619 os “BICO CALADO”, pela C.Cav.3406 os “CAVALEIROS DE MADINA” e por nós 1.ªC.A.R.T./ B.A.R.T. 6523 – “LEÕES DE MADINA MANDINGA”, que Madina Mandinga não teve nem nunca terá um Fim, enquanto todos nós e aqueles que de nós descendam saibam perpetuar as suas MEMÓRIAS.
OBRIGADO A TODOS.
O Ex- Capitão Miliciano, José Luís Borges Rodrigues

domingo, 11 de novembro de 2012

o Início e o Fim de Madina Mandinga

por antónio costa
Madina Mandinga tanto quanto pudemos saber, através de relatos de várias pessoas e muitas pesquisas, não existia. Aquele local era uma área relativamente plana, coberta de vegetação tipo savana, com algumas árvores e muito capim. Não havia as tabancas e a população mandinga só veio para esse local pouco antes da nossa Companhia ter chegado. Quais as razões que terão estado na origem de ali se erguer um quartel?
Madina do Boé tinha sido abandonado em fins de Fevereiro de 1969. Com a retirada dos nossos militares desse local ficou uma vasta área sem tropas, pelo que se tornava mais fácil a penetração do IN vindo da Guiné-Conacry. Facilmente atravessavam o Rio Corubal e rapidamente se instalariam por ali, na zona de Batanklim, não muito longe de Nova Lamego (Gabú).
Verificada portanto essa situação e também para assegurar o itinerário Nova Lamego-Piche, sabemos por relatos que as nossas colunas eram constantemente atacadas nesse percurso, julgamos que por essas duas razões foi decidido mandar construir um aquartelamento naquela zona, a que deram o nome de "Madina Mandinga".
Assim, em fins de Abril de 1969 a CCaç 2315, pertencente ao BCaç 2835, iniciou e colaborou na desmatação e construção da picada entre o cruzamento da estrada Nova Lamego-Piche e Madina Mandinga.
Em Agosto desse mesmo ano, iniciaram as obras do Aquartelamento de Madina Mandinga e no final de Outubro de 1969, essa companhia de caçadores (2315) assumiu a responsabilidade dessa zona, tendo-se ali instalado em tendas (as obras estavam praticamente a começar). Estes dados foram fornecidos por um militar dessa companhia de nome Manuel José Moreira de Castro.
Passado um mês, e por ter terminado a comissão na Guiné, essa companhia foi substituída, em 29 de Novembro, pela CCaç 2619, pertencente ao BCaç 2893, que ali permaneceu durante quase dois anos, até Agosto de 1971. 
Podemos dizer que foi esta Companhia (2619) que, ao longo dos dois anos, colaborou e construiu todo o aquartelamento. Os pelotões ficaram instalados em grandes tendas de campanha. Terá sido, sem dúvida, um enorme sacrifício para todos os militares desta companhia a viverem naquelas condições muito precárias.
No sub-menú "MULTIMÉDIA" do nosso blog podemos visualizar um conjunto de slides, gentilmente cedidos por Filipe Nogueira ex. Furriel dessa companhia (2619), os quais evidenciam o decorrer das obras, algumas casernas já erguidas, a abertura das trincheiras, a entrada do aquartelamento, o arame farpado, o futuro campo da bola.
A esta companhia de caçadores  os "bico calado" muito se deve as belas instalações e que nós mais tarde fomos usufruir.
Em 13 de Agosto de 1971, os "Bico Calado" regressou ao Continente e foi rendida pela CCav 3406, pertencente ao BCav 3854, que completaram as obras e ocuparam as instalações na sua totalidade.
Sabemos por indicação de Manuel Gonçalves Domingos, militar desta companhia, que estes ainda tiveram de fazer o forno do padeiro.
Publicamos a seguir 3 fotos deste nosso camarada, numa das quais se pode ver os blocos acabados de fazer e que seriam para o forno.


Esta companhia, que nós fomos render e denominada "Cavaleiros de Madina", era comandada pelo Capitão Cadavez. Segundo disse o Manuel Domingos tiveram dois ataques ao aquartelamento mas sem feridos. Registaram uma baixa por doença.  A população, que estavam nas tabancas junto ao aquartelamento, tinha chegado há relativamente pouco tempo.
Em 08 de Setembro de 1973 a nossa 1ª Cart/Bart 6523 mandou embora os "Cavaleiros de Madina"  e ocupamos em plenitude as instalações. Limitamo-nos a fazer uma limpeza geral e os mais corajosos pintaram as instalações onde dormiam. No meu caso tive a pachorra de pintar o quarto, que compartilhava com o meu amigo Soares, incluindo as camas (de cor vermelha). Comprei os panos em Nova Lamego e fiz cobertas para as camas e cortinados para a janela. O tampo da secretária foi forrado a pano.
Também a messe foi pintada e o nosso Zé Gaipo fez uns belíssimos quadros e cortinados. Outros houve que não quiseram saber disso para nada, até com  as botas dormiam, como o caso do Monteiro Manhiça e Cªp.ldª., mas também não estragaram nada.
Como as obras estavam feitas a nossa companhia limitou-se a fazer algumas tabancas para os mandingas, mas julgamos que nunca foram ocupadas.
Em 20 de Agosto de 1974, a nossa companhia os "Leões de Madina" abandonou aquele local, entregando as instalações em boas condições, aos responsáveis do PAIGC pela mão do nosso Comandante de Companhia, o Capitão Milº. José Luís.
Deixamos intactos e com asseio os símbolos deixados pelas respectivas companhias que nos antecederam, tanto na fachada principal da casa do gerador como os que estavam na base do trono da nossa Bandeira, para por lá permanecerem para a posteridade. Contudo, não abandonamos Madina Mandinga sem, com todo o respeito e lealdade arriarmos e transportarmos a nossa Bandeira Portuguesa. 
Sabemos que posteriormente o PAIGC abandonou Madina e toda a população se deslocou para outras tabancas. 
Madina Mandinga voltou assim, passados cinco anos, a ser o que era antes - um local coberto de vegetação rasteira, com algumas árvores e muito capim. Possivelmente no meio desse matagal, as ruínas do nosso aquartelamento.
Desiludam-se alguns aventureiros que possam querer ir visitar Madina Mandinga, provavelmente nem acesso terão para lá chegarem. 
A todos os "LEÕES DE MADINA", a todos os "CAVALEIROS DE MADINA", a todos os "BICO CALADO" e à primeira companhia que apenas lá esteve um mês, um bem-haja e resta-nos a saudade do local para recordar (e que bom é recordar). Um abraço para toda essa valente e corajosa juventude.
Nota: este trabalho de pesquisa poderá ter alguma imprecisão e possivelmente incompleto, pelo que muito agradecemos que outros possam dar mais contributos. Oxalá surjam comentários a este artigo por parte de todos os Madinenses que por lá passaram, para que esta breve história de Madina Mandinga seja eventualmente mais enriquecida.  obrigado

sábado, 3 de novembro de 2012

AINDA A CONSTRUÇÃO DAS TABANCAS

Recebemos do nosso camarada e amigo Quinito, capataz da obra, um conjunto de quatro fotografias a ilustrar as diversas fases da construção. Segundo ele o reordenamento foi estudado ao pormenor e executado com todo o rigor, respeitando todas as normas de segurança.

Feitura de abobes
 Início da construção
 Já algum trabalho concluído
 (tens mesmo estilo de capataz......)

Foram construídas um total de 16 tabancas. Este apontamento completa o artigo do nosso Editor Chefe publicado neste blog, no dia 19 de Maio de 2012. Obrigado ao nosso Quinas.
Um abraço Acosta 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Dia de Finados

Hoje, dia de visita aos cemitérios em muitos lugares deste Portugal, venho à "Familia de Madina" e em  particular aos familiares dos companheiros que já partiram, assim como a todos que já viram partir um seu ente-querido, pedir-lhes que em conjunto, roguemos ao SENHOR que lhes dê o Eterno descanso e que a Luz perpétua brilhe para eles e para o sempre na companhia dos Seus eleitos. ÁMEN.

Um abraço
Monteiro ( Manhiça ).