quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A 1ª MINA ANTI-CARRO NA PICADA

Socorrendo-me do diário de guerra do nosso camarigo FurMil Costa e do acervo fotográfico do FurMil Patrício "Pastilhas" que nos prendou com este conjunto de fotos, vou tentar, não só descrever mas também fazer toda a sequência fotográfica do "Modus Operandi" dos procedimentos e precauções que envolveram o levantamento da 1ª. mina e que foi realizada, com sucesso, pelo nosso homem FurMil Gaipo, habilitado com o curso de Minas e Armadilhas. Esta mina foi detectada, em 17/09/1973, pelos "picadores" da secção do FurMil Madrugo quando procediam à picagem do caminho entre o quartel e a estrada de alcatrão, já bem próximo do cruzamento da estrada Nova Lamego-Pitche. O engenho explosivo terá sido ali colocado na altura do 1º ataque ao quartel de Madina, na noite de 14 de Setembro de 1973, pelas 22,30 horas.
Foi um ataque feroz e forte perpetrado pelas forças inimigas do PAIGC e que foi o nosso baptismo de fogo. Felizmente não houve consequências de monta para as nossas forças, apenas alguns danos materiais e muito stress.
No local onde se encontrava o engenho foram dadas todas as ordens aos 2 pelotões que participavam nesta operação, tendo sido montado um círculo de segurança num raio de 30 metros. A comandar toda esta operação estava o Alferes Teixeira, como se pode ver pelas imagens (1º e 2º passo).

pelotão segurança aos picadores que vão à frente||1ºs procedimentos para levantar a mina-1º passo

desvio de toda a terra envolvente à mina - 2º passo|| o Gaipo concentrado no trabalho - 3º passo

o caixote já se torna visível - 4º passo|| últimos preparativos para a retirar - 5º passo)

o Furriel Gaipo está muito confiante - 6º passo|| anulado o efeito da mina poder explodir - 7º passo

mina pronta a ser retirada do buraco - 8º passo|| o troféu pronto a ser transportado para o quartel - 9º passo

Como é visível nas fotos, o Gaipo teve o seu momento de heroísmo, pois como os "artistas" de minas e armadilhas, diziam eles, só se enganavam duas vezes - era a primeira e a última. O nosso Zé Gaipo, olhou, suou, mexeu, desviou a areia com a colher de pedreiro, meteu a faca de mato para ver se não havia nada engatilhado, limpou tudo muito bem e com uma corda de sisal, de cerca de 30 metros, amarrou-a a uma das alças que servia de transporte, e com o devido cuidado, passou a corda sobre a caixa, e por detrás de uma árvore, puxou a corda, esperando qualquer retardamento na explosão, e passados 10 minutos, foi observar o desvio da mesma. Vendo esta, reparou que o detonador estava solto e não oferecendo qualquer perigo, procedeu ao levamento da mina para alívio de todos.
Neutralizada a dita mina, foi recolhida qual troféu que recompensa os heróis por grandes feitos, mas que faria grandes estragos se fosse activada por qualquer viatura com consequências gravíssimas para as nossas tropas.
Já no quartel, a mina foi observada ao pormenor, isto é, foi pesada (cerca de 15 Kgs) e medido o detonador (cerca de 12cm por 1 de diâmetro), sendo posteriormente elaborado o respectivo relatório para os efeitos convenientes.
Para o Gaipo vai o nosso agradecimento de toda a família de Madina por este acto de bravura.
Um bem hajas e um forte abraço, Monteiro (Manhiça)

Nota: recordamos que na nossa permanência em terras da Guiné ainda tivemos uma outra mina, precisamente no mesmo local onde tinha sido colocada a 1ª e também após o 2º ataque ao quartel, em 06/12/1973, tendo igualmente sido levantada pelo Furriel Gaipo sem incidentes.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

APANHADO PARA O "REBANHO"

Amigos e camaradas de Madina, há momentos em que a vida nos sorri e diz: hoje vou dar-te uma alegria, compensar-te de todos os teus esforços, arrelias e esperanças, sim porque a "ESPERANÇA É UMA ÁRVORE QUE SE BALANÇA DOCEMENTE AO SOPRO DAS ILUSÕES" e eu tenho ilusões que se tornam realidade.


Tudo isto, porque ao lançarmos o nosso blog, havia a esperança de encontrar alguém dos nossos amigos que nunca tivessem dado sinal de vida e, assim foi, deu frutos o nosso empenho. O nosso colega Pereira, 1º cabo da equipa de dilagramas do 3º pelotão, que por circunstâncias da vida emigrou há muitos anos para o Luxemburgo e por lá constituiu família, andando pele net deu com o nosso blog e como bom Leão de Madina, logo tratou de fazer um contacto com o nosso amigo Costa para na primeira oportunidade fazermos um encontro.


Assim foi no domingo, dia 20 de Novembro 2011, lá nos encontramos em Cinfães, o Pereira, Costa, Monteiro, Pastilhas, o padeiro Sousa e o Coelho condutor morador em Viseu. Foram umas horas de amena cavaqueira e convívio, recordando peripécias que então se passaram e que para alguns de nós eram novidades e que em tempo oportuno lhes daremos o tratamento adequado para serem glosados e recordados por todos os companheiros de Madina.



Camarigos de Madina, é sempre com emoção e saudade, mas também com certa vaidade que vemos que aquilo a que nos propusemos, o encontrar aqueles que nunca estiveram connosco, fosse qual o motivo que fosse, tem dado resultados e por isso dá-nos alento para continuar e pensar que "VIVER SEM AMIGOS NÃO É VIVER" e que nós Leões de Madina cultivamos a AMIZADE, pois para nós um dos maiores consolos desta vida é ter amigos e nós TEMO-LOS.
Um forte abraço, Monteiro (Manhiça)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

AO NOSSO CAPITÃO E SEUS ALFERES

Camarigos de Madina, existem momentos das nossas vidas de "VELHOS COMBATENTES" em que vamos ao fundo do baú das nossas recordações e damos inicio ao filme de toda uma vivência, que de tão intensa e real, que por vezes pensamos ter sido fugaz e ocasional, mas analisando bem, reparamos com toda a certeza que há pessoas que se cruzaram nas nossas vidas e que não é por acaso que ainda lá permanecem e continuarão para sempre.
Depois de fisicamente ficarem as recordações do que foi principalmente o motivo e consequências dessa vivência, damos por nós a vasculharmos nesse filme o que de bom se passou, pois as coisas boas são sempre mais céleres a surgirem à nossa mente, e uma delas que recordamos foi e é ter tido como comandante da nossa 1ª Companhia o Zé Luis.
Como compreenderão, quando se fala de um amigo, podemos ser acusados de dizer loas e mentiras das pessoas de quem falamos, mas do Capitão não porque era, é e será um homem de bem que desde a 1ª hora que nos conhecemos em Penafiel, ficou patente que para ele a " AMIZADE QUE SE DISPÔS A DAR-NOS, ERA MAIS DO QUE UM SIMPLES SENTIMENTO".

Quem de nós não se lembra com carinho e orgulho o "miminho" que ele tinha ao pessoal do bi-grupo que regressava ao quartel depois de ter feito uma operação, lá para as bandas de Batanklim, Paunto, Camidina, Iromaro, etc.. a recebermos e a dar as boas vindas lá estava o nosso Capitão enquanto que era distribuído a todos os combatentes uma sande de chouriço e uma cerveja fresquinha. Este gesto simpático e muito humano era do agrado de todos. Aliás, convém lembrar que este "lanche" era pago com o seu próprio dinheiro.
(Capitão Zé Luís e o Alferes Teixeira)

Com o Zé Luís (Capitão), criámos um corpo de amizade e união assim como com os seus subalternos os Alf.Mil. Mendonça, Teixeira, Baptista, Barbosa e o já falecido Monteiro, que após estes anos todos ainda perduram e como dizemos "amigos são como uma família cujos indivíduos os escolhemos à vontade e ele Escolheu-nos". Obrigado pela deferência Capitão.


(Alferes Mendonça de chapéu vermelho e na foto da direita o Alferes Baptista)

Um dos episódios que ficou na retina em todos os que a sentiram e presenciaram, foi a despedida no aeroporto de Bissau aquando do nosso regresso (o Capitão teve que ficar mais uns dias na Guiné), assim como na chegada ao Aeroporto de Lisboa onde estava à nossa espera o seu irmão que fez a entrega, a cada um de nós, de uma camisola - tinha que ser verde - e um cinzeiro com o símbolo da companhia "OS LEÕES DE MADINA MANDINGA".




(cinzeiro e t-shirt religiosamente guardada pelo Fur. Monteiro)







Para que existisse toda esta empatia no nosso grupo, muito contribuiu a nossa postura, maneira de ser e estar, pois nunca lhe foram colocados grandes problemas, tanto disciplinares como de convivência e é por isso que todos os anos nos nossos convívios olhamos os rostos dos nossos companheiros e amigos de Madina e vemos nos seus olhares aquela CHAMA que sempre nos acompanhou e que ainda hoje se mantém e que nos diz que nós - LEÕES DE MADINA MANDINGA NÃO TEMOS IDADE, TEMOS VIDA.
Camarigos, este é o maior tributo que podemos dar ao nosso líder e comandante

- Capitão Milº. José Luís Borges Rodrigues (eng.)
e também aos seus oficiais subalternos
- Alferes Milº. Alexandre Elvio Leme Mendonça - Adjunto e Comandante 1º. Pelotão
- Alferes Milº. Carlos A. Milheiro Folgado Teixeira (dr.) - Comandante 3º. Pelotão
- Alferes Milº. Carlos Florival Geraldo Monteiro (falecido) - Comandante 4º. Pelotão
- Alferes Milº. Miguel Lopes Baptista (rendição individual) - Comandante 2º. Pelotão
- Alferes Milº. António Manuel Silva Barbosa (em reforço)

porque: A VIDA SÓ PODE SER COMPREENDIDA, OLHANDO-SE PARA TRÁS; MAS SÓ PODE SER VIVIDA OLHANDO-SE PARA A FRENTE.
Por tudo um bem haja e do coração um forte abraço de todos os seus 108 soldados, 39 1ºs. cabos, 14 furriéis, 2 sargentos, 5 alferes que formamos a 1ª Companhia e de que todos nos orgulhamos. Um aplauso unânime de todos nós.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

ENSAIO MUSICAL ........ e não só

Camarigos de Madina, olá, como podem e devem ler cá estou, mais uma vez, a alinhavar umas palavras para passar a esta máquina infernal que é o computador, uma das muitas histórias que por terras de África passamos e que mais tarde servirá para que os vindouros façam história, e que para nós vai sendo um meio de irmos mantendo a amizade que sempre nos uniu.



A de hoje tem uma parte com três elementos que faziam e fazem parte da "chicalhada", o Gaipo, o Rafael e o Costa. Atentem na foto, o ensaio é para valer, a cantilena está a sair com toda a energia, vê-se na cara de felicidade do maestro Gaipo, ao contrário das cantorias da "Messe", pois eu (Monteiro), o Fernando e o Silva, só desafinávamos, não sabíamos cantar e então era certo e sabido que o Gaipo a meio da sinfonia parava e dizia na sua voz arrastada de açoriano: "quém sabê cantár cantá, quem não sabê nâ cantá", nós não nos calávamos e fazíamos um alarido ainda pior. Ainda vou saber para que era a imitação do microfone, certamente o Costa ainda teria pretensões a ser cantor, quiçá um grande tenor, (haja paciência). Reparem na arrumação imaculada do quarto destes indivíduos, não sei como conseguiam.


Nesta foto também se vê o quarto, do Baga-Baga e do Lázaro, todo bem arranjadinho e limpinho, só que ainda pairavam no ar as partículas do álcool etílico que saiam daquelas cabeças, como se prova da quantidade e variedade de garrafas na mesa. Como sempre tem de haver um maestro e nesta área o Pastilhas, que à época já era dr. na matéria, estava bem secundado pelo Costa e o falecido Lázaro que até nem era dado a estas situações mas lá foi apanhado e embarcou nesta aventura.

Eram passados assim grande parte dos nossos dias e noites em Madina (só para alguns), pois para outros tal como eu e o Madrugo, não tínhamos tempo para estas situações, tais eram tantas as solicitações desde: patrulhas, colunas, lenhas, seguranças, etc. (mentira), pois nós éramos dos piores.
Bem, por agora chega gostei de escrever sobre os meus amigos, pois é sempre bom nós recordarmos, porque as "RECORDAÇÕES SÃO AS MEMÓRIAS DO NOSSO CORAÇÃO", e temos de ter em atenção que A VIDA SÓ PODE SER COMPREENDIDA OLHANDO-SE PARA TRÁS, MAS SÓ PODE SER VIVIDA SE OLHARMOS PARA A FRENTE. Um forte abraço Monteiro (Manhiça)

terça-feira, 1 de novembro de 2011

DIA DE TODOS OS SANTOS

(Igreja de Nova Lamego - Guiné. Aqui foi celebrada missa de corpo presente, em 29/06/1974, pelo nosso amigo Januário Vilaça Ferreira, do 4º Pelotão, morto em acidente de viação)

É neste dia que mais dedicamos as nossas lembranças e orações aos nossos ente queridos e conhecidos (AMIGOS DE MADINA) que já partiram desta vida. Deles guardamos o que de melhor nos deixaram, pois como em tudo na vida; O TEMPO VAI, SÓ NÃO LEVA O QUE A MENTE GUARDA, PORQUE VAMOS LEMBRAR OS VOSSOS SORRISOS PARA SEMPRE.
Camarigos, neste dia em que é tradição depor flores nas Lajes onde repousam os restos mortais dos nossos familiares e amigos (camarigos já falecidos), lembremo-nos que as flores simbolizam; A BELEZA E A CONTINUIDADE, PORQUE AS FLORES TAL COMO AS PESSOAS, MORREM, MAS DEIXAM SEMENTES PARA OUTRAS FLORES VIVEREM, ASSIM TAMBÉM OS QUE JÁ PARTIRAM DEIXARAM OS SEUS DESCENDENTES PARA DAR CONTINUIDADE À VIDA.
Para todos os Camarigos de Madina e familiares dos já falecidos, um forte abraço de condolências e lembrem-se que; VIVER É A ARTE DE SORRIR QUANDO A VIDA NOS DIZ NÃO.

Um abraço, Monteiro (Manhiça)