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Relatório do 1º ataque a Madina Mandinga (14SET1973)






ENQUADRAMENTO HISTÓRICO DA (Província) GUINÉ

P. Delgada, 01 Janeiro de 2013, por José Graça Gaipo
     

Aquando da formação e preparação do batalhão em Penafiel, no quartel “RAL5”, Regimento de Artilharia Ligeira nº5, e no âmbito da mobilização para a província da Guiné, havia indicado num dos placards, uma informação escrita manual, já rabiscada em forma de cruz, a indicar que, nas horas livres, havia uma sala de leitura e passatempos para possíveis interessados, estando expostos alguns painéis com esclarecimentos sobre as diferentes províncias ultramarinas, e de forma especial, a Guiné.
Todo e qualquer militar interessado, independentemente do seu nível de graduação, podia frequentá-la. Aquela informação, passou ao lado dos muitos desinteressados na matéria, pois naquela altura, tinham muitas mais coisas e razões interessantes e importantes a resolver, no espaço de tempo que disporiam para estarem com os seus familiares e amigos. Naquela altura, o tempo era contado a peso de ouro, pois o calor humano tinha muita força para encorajar quem quer que estivesse mobilizado para terras de África.
Por mera curiosidade, e porque nada tinha de afazeres de primeira ordem nos meus tempos livres, dirigi-me à dita sala e encontrei alguns interessados, mas no geral, eram-me desconhecidos.
Ali, sobre mesas quadradas e desalinhadas, estavam dispostos e na forma de retalhos, literaturas diversas, desde a brejeira, jornais diários, desporto, até outras obras de aparência militar. Momentos passados, fez-se silêncio e alguém, trajando à civil, deitou a palavra, dissertando temática cultural de interesse e informação militar.
De entre as muitas informações, dissertou em traços gerais, a província da Guiné.
Decerto modo, foi para mim interessante aquela temática histórica simplificada, a qual, enriqueceu os meus conhecimentos já obtidos através das notas históricas que, o meu primo, José Graça Maria, 1º cabo 052205/67-SPM, (Serviço Postal Militar) em missão militar em Teixeira Pinto, Guiné, me enviou como lembrança, recebida e datada em 25 de Abril de 1970, altura em que terminava o meu Sexénio Curso de Filosofia, no Seminário Diocesano de Angra do Heroísmo – Ilha Terceira - Açores.
Digo-vos que valeu a pena escutar e ser informado do que havia de enfrentar como cidadão militar no cumprimento de um dever, obrigatório.
Do que havia ouvido, retive no meu memorial, muita coisa histórica lá dissertada e que de certa forma, vou tentar transcrever aquilo que ainda hoje a minha dita memória recorda, passados que foram já, 40 anos.

PREÂMBULO HISTÓRICO

Missão no Ultramar

No sentido de se construir “uma primeira ideia”, da província Ultramarina para onde nos levou o cumprimento do dever de Militar, Soldado e de Português,- a defesa da Pátria.
No estudo geográfico e histórico que se segue (chamam-se monografias), algumas das características mais evidentes da Guiné, as quais, estão agrupadas em três secções ou aspectos gerais, nomeadamente:
                                                   - aspecto físico
                                                   - aspecto humano
                                                   - aspecto económico
          assim:
- No aspecto físico, descreve-se a terra para onde fomos viver, dando-nos notícia da sua situação geográfica, do seu clima, do seu relevo, da vegetação que a cobre e dos rios que nela correm, etc..

- No aspecto humano, estudam-se as populações que fomos conhecer, tendo em atenção os seus usos e costumes, a sua distribuição no território, a história que junto delas escrevemos, a organização administrativa, sanitária e escolar em que vivem, etc..

- No aspecto económico, refere-se os recursos agrícolas e industriais da terra guineense, o seu comércio e as vias de comunicação, (estradas, carreiras marítimas e aéreas), etc…, que percorrendo a província tornou possível a sua ligação com o exterior, como bem se percebeu na altura, e agora, eram indispensáveis ao seu desenvolvimento económico.

Foi-nos dito que, na guerra que ensanguenta as nossas províncias no ultramar e que nos foi imposta por cobiças externas, «guerra subversiva». As populações desempenham um papel fundamental.
Alguém, entre aqueles que um dia puseram em prática este tipo de guerra, afirmou, serem as populações para os terroristas «como água para os peixes», isto é, sem a ajuda das populações, os terroristas não têm qualquer possibilidade de levar a cabo os seus intentos de destruição e de assassínio, não podem sequer viver.
No intuito de conseguirem aquela ajuda, os terroristas lançavam mão dos meios mais condenáveis e violentos, capazes de aterrorizarem as populações indefesas.
Na nossa acção de resposta, a luta que desenvolvemos tinha de ser, pois, uma luta pelas populações, em defesa das populações, e nunca uma luta contra as Populações.
Na luta pelas populações, ao contrário do que poderia parecer à primeira vista, o nosso comportamento interessava de sobremaneira. Uma atitude menos feliz, poderia resultar em graves e desastrosas consequências, cuja reparação era difícil, não só para o prestígio, eficácia e valor da Unidade a que pertencíamos, como também para a Missão do exército.
Era-nos exigido que, nas relações com as populações procurar sempre e em todas as circunstâncias, um modelo de dignidade, um exemplo de compostura, de cortesia e de humanidade.
No respeitante às populações nativas, a sua cor negra, não era motivo de diferença, e por isso era recomendável o respeito pelos seus usos e costumes e os direitos de família, desde que evidentemente, tanto uns como outros, não ofendessem os princípios humanitários ou morais.
Nas dificuldades da missão, ninguém duvidava que a Nação tinha boas razões para confiar em nós.
Para além da instrução, intensa e prolongada, a que fomos submetidos desde o primeiro dia nas fileiras, tornaram-se grandes e inesquecíveis os momentos fortes da nossa existência e geração, a pensar sempre num regresso depois de cumprida a Missão.

A Guiné - Aspecto Físico
A província ultramarina da Guiné, fica situada na costa ocidental do Continente Africano, com o território da república do Senegal a servir-lhe de fronteira, a norte, e a República da Guiné, a leste e a sul.
O território da província abrange:
- Uma parte continental, cujo litoral se estende desde o cabo Roxo (N) à Ponta Cajete (S), com um cordão de ilhas que lhe fica contíguo, sendo as principais (Jeta, Pecixe, Bissau, Bolama, Como, Melo).
- O arquipélago dos Bijagós, fronteiro à parte continental e formado por dezenas de ilhas e ilhéus (cerca de 40), entre as quais sobressaem as de Caravela, Carache, Uno, Formosa, Orango (a maior), Bubaque, Galinhas e Roxa (Canhabaque).
Os canais do Geba, Pedro Álvares, de Bolama e de Canhabaque separam o arquipélago dos Bijagós do continente.
A superfície total da Guiné está avaliada em 31 800Kms quadrados, (com extensão máxima de 330kms no sentido E-O,  e de 193kms no sentido N-S). Descontado a vasta área coberta pelas marés, aquela superfície reduz-se a 28 000kms quadrados isto é, cerca de 1/3 da superfície de Portugal Continental (89 000Kms quadrados).

Relevo e Hidrografia
Com excepção de algumas pequenas zonas do Leste da província, na região do Boé, onde os contrafortes ocidentais do gigantesco maciço do Futa Djalon elevam o terreno até alturas que só raramente atingem os 300 metros, não existem na Guiné elevações dignas de registo.
A falta de relevo, que torna a Guiné a menos acidentada das nossas províncias ultramarinas, é especialmente de assinalar uma larga faixa litoral, cuja planura, permite a invasão profunda pelo mar dos antigos cursos dos rios, dando origem às chamadas rias que sulcam grande parte dessa zona da província e que constituem hoje, juntamente com os canais, a sua principal via de comunicação.
Contrariamente ao que sucede com o relevo, a Guiné possui uma importante rede hidrográfica.
Os cursos de água da província podem considerar-se repartidos por duas zonas, separadas pela linha atingida pelas marés: zona litoral e zona interior. Assim:
Zona litoral, constituída exclusivamente por terras baixas, encontram-se as já referidas rias, das quais as mais importantes são, de norte para sul, as de Sucujaque, Caiomete, (Calequisse), Mansoa, Bissau, Grande Buba, Tombali, Cumbijã e Cacine.
Zona interior, existem já cursos de água doce, com regime de cheias ditado pelas variações do clima, os quais são navegáveis, na sua maioria, em reduzidas extensões.
As três bacias hidrográficas principais correspondem aos grandes rios Cacheu ou Farim, Geba e Corubal.
O primeiro, o rio Cacheu, tem um percurso de 242kms, é navegável numa extensão de 180kms (até Farim), dos quais 100kms, (até Binta) para embarcações com o máximo até 2000 toneladas. O segundo, o rio Geba, com um percurso de 300kms, é navegável numa extensão de 160kms (até Bafatá para lanchas e entre Bafatá e Contuboel para embarcações de fundo chato) e constitui, sem dúvida, a principal via de comunicação fluvial da província. Finalmente, o terceiro, o rio Corubal, com um percurso de 270kms, é navegável numa extensão de apenas 50kms.
Durante as marés vivas, observa-se na confluência dos rios Geba e Corubal a formação de ondas enormes que com grande rumor galgam aqueles rios. A este fenómeno, típico daquelas regiões, dá-se o nome de «macaréu».
Na Guiné, dá-se o nome de lagoas aos charcos que se formam com as águas das chuvas,  em zonas de terrenos baixos e impermeáveis «lalas» e que, em grande parte, desaparecem na estação seca. Na região de S. Domingos há muitas lagoas, sendo a mais importante a de Cufada, junto da fronteira norte. Na região de Boé as lagoas, conhecidas pelo nome de vendu, aparecem com as margens cobertas por densa vegetação.

Clima
Dada a sua situação geográfica entre o Equador e o Trópico de Câncer, a Guiné tem um clima quente e húmido próprio das regiões tropicais, com duas estações distintas: a estação das chuvas (a estação mais quente), que começa em meados de Maio, e se estende até meados de Novembro, e a estação seca, que decorre no resto do ano.
Na estação das chuvas, a humidade atmosférica é bastante elevada e a temperatura média, à sombra, varia entre 26º e 28ºC. No início desta estação, juntamente com as primeiras chuvas, surgem os primeiros tornados, isto é, ventos que chegam a atingir velocidades da ordem dos 70 a 100kms/hora. Na passagem da estação das chuvas para a estação seca, os tornados, então chamados tornados secos, voltam a fustigar a província.
Na estação seca, as temperaturas médias não vão além de 24º, sendo que os meses mais frescos são os de Dezembro e Janeiro (na região do Boé chegam a verificar-se temperaturas da ordem dos 15º). A temperatura média anual anda à volta dos 26º.
Com as suas características nitidamente tropicais, o clima da Guiné, tem sido considerado como bastante insalubre, devido às suas elevadas temperaturas, densa humidade, baixa pressão atmosférica e emanações das regiões alagadiças das zonas mais baixas.
É exagerado, no entanto, generalizar a toda a província as más condições de clima, visto que, em certas regiões, como no Boé, Bafatá e outras, se encontram grandes áreas em que a adaptação do europeu se faz com bastante facilidade e em que o clima não é mais pernicioso do que o existente em muitos lugares do território nacional.

Vegetação
Quanto à vegetação, pode considerar-se dividida em zonas. Porém, entre as zonas litoral e do interior, há aqui que distinguir uma zona de transição. Assim:
A zona litoral, caracteriza-se, fundamentalmente, por uma abundância de palmares e mangais (conjunto de vegetação cerrada que cobre as margens dos cursos de água) e por uma agricultura com um maior grau de desenvolvimento, e que cultiva milho, mandioca, arroz, mancarra (amendoim), bananeira, laranjeira, ananás, cajueiro, papaeira, mangueira, purgueira, gergelim, ricínio, etc. A floresta reduz-se a grandes manchas no extremo norte e a sul da ria de Bissau (rio Geba).
A zona do interior apresenta, como tipo de cobertura vegetal dominante, a savana de arbustos e também com árvores isoladas ou em pequenos grupos.
A zona de transição, ligando as duas zonas, surge coberta de floresta densa numa faixa de cerca de 50kms de largura máxima e que desaparece no sul.

A Guiné - Aspecto Humano
População
A população, segundo o senso de 1960, era de 544 184, o que representava um aumento de 33 407 habitantes em relação ao senso de 1950.
É característica na Guiné a diversidade étnica dos seus habitantes. Não falando já dos não autóctones - brancos, mestiços, cabo-verdianos e libaneses, na sua  grande maioria - num total  aproximado de 15 000, a população autóctone (nativa) guineense apresenta uma grande variedade de tipos, correspondentes a diferentes grupos étnicos (tribos), entre as quais as principais são:
Os Balantas: habitam a região entre os rios Geba e Cacheu, com uma ramificação importante na região de Catió – Bedanda, no sul do país. Dotados de uma admirável constituição física, são trabalhadores, valentes, enérgicos, com grande força de vontade e viva inteligência.
Bons agricultores, vão buscar à terra, principalmente às regiões alagadas («bolanhas»), os meios de subsistência de que necessitam. Alimentam-se de arroz, azeite de palma, milho e mandioca. Apreciam muito a carne, o peixe e os mariscos.
O gado bovino que possuem destinam-no às cerimónias de sacrifício dos ritos que acompanham os funerais («choros»).
São polígamos e condenam o celibato. Extremamente supersticiosos, acreditam na transfiguração da alma, atribuindo à feitiçaria todas as suas desgraças. Praticam o roubo, em especial de gado, com a consciência de um acto não criminoso, mas sim revelador da perícia próprio da tribo.
Os Fulas (Fulas-Forros e Fulas-Pretos): povoam a região do Gabú, Bafatá e Forreá.
Os primeiros Fulas a entrar na Guiné foram os Fula-Forros, que subjugaram e escravizaram grande número de Mandingas, a quem designaram por Fulas-pretos.
De um modo geral, são hospitaleiros, considerando mesmo a hospitalidade como um dever sagrado. Apesar da influência que o Islamismo tem entre eles, praticam ainda o feiticismo.
Dedicam-se ao cultivo do arroz, sem grande entusiasmo e à pesca à linha, ou por envenenamento das águas.
Do gado que criam, considerado como um sinal de nobreza, apenas aproveitam o leite para a sua alimentação.
Os Futas-Fulas: povoam grande parte da região do Boé, sendo originários do Futa Djalon, donde lhes veio o nome. Não existe unidade de tipo, apresentando as mais diversas características, predominando, contudo, em muitas regiões, o sangue fula sobre o mandinga, e consideram-se, em tudo superiores aos restantes fulas.
São de estatura elevada, argutos e inteligentes. Dedicam-se à agricultura, à criação de gado e ao comércio ambulante. Alimentam-se de arroz de «fundo», (tipo de cereal semelhante à alpista) e de toda a variedade de frutos. Comem carne, com excepção da do porco, e não bebem vinho por a sua religião (o islamismo) o não permitir.
São polígamos, revelando-se bons pais e bons maridos, poupando as mulheres dos trabalhos violentos.
Os Manjacos: habitam a região compreendida entre o rio Cacheu e a ria de Mansoa, e as ilhas de Jata e de Pecixe. São curiosos, astutos, dedicados, hospitaleiros, com perfeita compreensão dos princípios morais e de justiça, preocupando-se em adquirir hábitos civilizados. Têm certa tendência para o comércio e aptidão para as tarefas marítimas. Dedicam-se ao cultivo do arroz, exploração de palmares, pesca e extração de sal.
Acreditam no «Irã», (expressão que designa os espíritos, as suas virtudes e os seus símbolos) e são polígamos.
Os Mandingas: habitam a região de Farim e Óio. São sóbrios, inteligentes, observadores, aguerridos, alegres e comunicativos. Com preconceitos morais que os colocam acima das outras tribos, admitem o regime de castas (nobres, ferreiros, com uma importância muito especial, ourives, sapateiros, etc). As profissões passam obrigatoriamente de pais para filhos e os casamentos só se realizam entre membros de famílias nobres, ferreiros, ourives, sapateiros, etc.
O Islamismo não fez desaparecer entre eles as práticas de feitiçaria. Dedicam-se à cultura do milho, mas comercialmente o produto mais importante é a mancarra.
Os Papéis: povoam a ilha de Bissau. São aguerridos, enérgicos, decididos, desconfiados e nada expansivos. Tal como os Manjacos, têm certa aptidão para as práticas marítimas. Alimentam-se de arroz, mandioca, batata-doce, milho, «fundo» e peixe seco.
Também creem no «Irã» e são polígamos. Dedicam-se à agricultura (arroz e mancarra, em especial) e ao trabalho de carregador nos centros urbanos.
Os Beafadas: habitam a região de Quinara. Embora robustos, são indolentes por natureza e progressivamente islamizados. Mantêm-se ainda agarrados às práticas feiticistas.
Os Brames (Mancanhas): vivem nos regulados do Có e Bula, na ilha de Bissau, na ilha de Bolama e na região continental fronteira a esta última ilha. Têm grandes afinidades com os mandingas e fulas, de quem descendem por cruzamento. São inteligentes e assimilam com facilidade os usos e costumes dos europeus.
Consideram como delitos de somenos importância, quando não mesmo louváveis, o falso testemunho, as ofensas corporais, o estupro, a violação e o adultério. Veneram o «Irã» e são polígamos. Dedicam-se, sobretudo, à cultura do milho e da mancarra. 
Os Bijagós: povoam o arquipélago dos Bijagós. São belicosos, desconfiados e tímidos. Vivendo constantemente no mar, são excelentes marinheiros. Em questões de namoro e casamento, a escolha é feita pela mulher, que os bijagós têm na conta de um ser superior.
São hábeis artistas na escultura da madeira e dedicam-se à pesca e à extração do sal.
Os Felupes: habitam a região de Varela e Susana. São fortes e ágeis, praticantes entusiastas do exercício físico. São bons atiradores de azagaia e flechas, cujas pontas envenenam, dedicando-se à caça. Praticam a feitiçaria e são polígamos. Consideram falta muito grave, a união da mulher felupe com um nativo de tribo diferente.
Os Baiotes: habitam a região a norte do rio Cacheu, no extremo ocidental da Guiné. Têm grandes afinidades com os felupes, pois constituem entre eles o grupo étnico dos diolas.
A diferenciá-los apenas existe um dialecto diferente e a sua distribuição geográfica.
São bígamos como os felupes. Admitem no entanto, a união das mulheres baiotes com nativos de outras tribos.
Os Nalus: habitam as regiões do Tombali e de Cacine. São pouco robustos e de estatura média. Muito individualistas, recusam-se a manter relações com as tribos vizinhas. Têm um conceito perfeito da justiça. Encontram-se, em grande parte islamizados, e são polígamos.
Os Sossos: constituem um ramo de mandingas. São islamizados e têm grandes afinidades com as populações fronteiriças.

Língua 
Entre as tribos guineenses existem para cima de 20 línguas e dialectos diferentes. Introduzido pelos primeiros colonos e aceite facilmente pelos nativos, fala-se o crioulo, que não é mais que uma mistura de palavras portuguesas (algumas muito antigas) e palavras das línguas e dialectos locais. O crioulo, permite aos nativos entenderem-se entre si.

Principais centros populacionais
O povoamento da Guiné é muito irregular, verificando-se serem as regiões do litoral e as regiões vizinhas de Farim e de Bafatá (os dois principais centros de comunicação da província), as mais habitadas. As zonas do Boé e do sueste do Óio, as menos habitadas.
O mais importante núcleo humano da Guiné situa-se na cidade de Bissau, capital do País desde 1941. De características acentuadamente tropicais, possui a capital aprazíveis jardins, boas avenidas e edifícios de aspecto moderno, sendo servida por um porto de mar, com cais acostável, que regista um movimento considerável.
A segunda cidade da Guiné é Bolama, antiga capital, cujo prestígio e importância se viram fortemente diminuídos com a transferência da capital para Bissau.
Outro centro populacional com certo interesse, é a cidade de Bafatá, sede do concelho do mesmo nome, e constitui o segundo centro comercial da Guiné, logo a seguir a Bissau.
Podem apontar-se como povoações de relativa importância as de Farim, no norte da província, Teixeira Pinto, (antiga vila de Cachungo), sede da circunscrição de Cacheu, Mansoa, Nova Lamego, Catió e Bissorã.

A Guiné - Aspecto Económico
Agricultura e Floresta.
A Guiné, de feição económica caracteristicamente agrícola, só a exploração dos produtos da terra pesam na balança comercial da Guiné. Entre esses produtos ocupam lugar de especial relevo o amendoim (mancarra), cuja cultura é feita exclusivamente pelos nativos e que, por si só, representa em média, cerca de metade do valor total das exportações da província, o óleo de palma e o coconote, extraídos da palmeira dendem (palmeira do azeite), e o arroz, cultivado, em grande parte, pelos balantas nas terras alagadiças a que chamam «bolanhas».
Além destes, que são objecto de uma cultura regular e nos quais assenta a economia da província, muitos outros produtos são relativamente abundantes em certas regiões, como o milho, mandioca, «fundo», feijão, cana sacarina, batata-doce, banana, castanha de cajú, manga, ananás, etc., que muito contribuem para a alimentação das populações, e ainda a sumaúma, gergelim, purgueira e outros que poderão a vir a ocupar lugar importante na exportação.
Da parte exterior dos frutos da palmeira dendem, disseminada um pouco por toda a província, extrai-se o óleo de palma que constitui, simultaneamente, um elemento importante na alimentação dos nativos e na indústria, em especial, dos sabões; das sementes, comercialmente designadas por coconotes, extrai-se também um óleo muito aplicado da indústria dos sabões, o óleo de coconote.
As florestas guineenses constituem uma enorme riqueza, cuja exploração actual está longe de aproveitar da melhor maneira. Basta dizer, para avaliar da sua importância, que entre as principais exportações da Guiné as madeiras encontram-se logo a seguir ao amendoim e ao coconote.
As madeiras de bissalão, pau-bicho, mancone, pau-conta, pau-ferro, incenso, etc., são de excelente qualidade e têm grande procura no mercado metropolitano.

Pecuária e Pesca
A Guiné apresenta as melhores condições para a criação de gado. Há porém, que contar com a maneira de ser dos nativos, na posse de quem se encontra a quase totalidade do gado, e que consideram este como um sinal exterior de riqueza e não como factor económico, manifestando desagrado em abater cabeças para alimentação ou para quaisquer fins industriais.
Mesmo assim, através da acção das autoridades pecuárias junto das populações nativas tem sido possível, não só ir melhorando, por meio de adequados cruzamentos, as pobres espécies indígenas, como transmitir aos seus proprietários os necessários conhecimentos que os levem a compreender os benefícios de ordem económica que para eles representa o aproveitamento organizado desta riqueza.
O gado bovino é o que maior número apresenta de forma especial na zonas ou concelhos do Gabu e Mansoa, seguindo-se por ordem decrescente, o gado suíno, o caprino, o ovino, o asinino, e o equino.
As principais variedades de peixe pescado na guiné são: o badejo, a caçoneta, o droco, a dourada, a garoupa, o pargo, o peixe agulha, a sarda e o peixe- voador.

Recursos de Origem Mineral
Os reconhecimentos (prospecções) do subsolo guineense permitem concluir pela existência de perspectivas favoráveis no respeitante, em particular, a petróleo e  a bauxite (importante minério de alumínio).

Energia
Em 1960, todas as centrais existentes na província, 15 do estado e 25 particulares, eram centrais térmicas. Nelas se encontravam montados geradores com uma potência total de aproximadamente 3 000KW.
Em Bissau está instalado um grupo de 1500KW, e o aproveitamento dos rápidos de Saltinho, no rio Corubal.

Vias de Comunicação
O território da Guiné é percorrido por grande número de estradas, as quais constituem uma rede bastante densa. Na sua maior parte são, porém, de macadame ou simplesmente de terra batida, como aliás, é vulgar em todo o continente africano.  “macadame sistema de pavimentação de estradas e ruas por meio de brita e saibro que se recalca com um cilindro,  de J. MacAdam, engenheiro escocês, 1756-1836”.
A extensão total da rede estradal da província é de cerca de 3 260Kms, 60 dos quais correspondem a estradas asfaltadas, 1 300 a estradas de terra e 1 900 a picadas ou caminhos.
Na década de 1960, procedeu-se à asfaltagem das estradas que ligam Mansoa a Mansabá e Bambandinca a Bafatá, e outras de relevante interesse.
Estão classificadas como internacionais as estradas que ligam Bissau a Varela, num percurso de 180Kms, a estrada que sai igualmente de Bissau e atinge o posto fronteiriço de Buruntuma, afastado da capital 262Kms e a estrada que vai de Enxudé a Catió, num percurso de 140Kms.
Apesar de serem baixos os terrenos onde correm muitas das estradas e a circunstância de certo número de cursos de água as cortarem em diversos locais, faz com que, na estação das chuvas, as cheias tornem rapidamente inutilizável um ou outro troço de qualquer das estradas, chegando a rede estradal a sofrer, por este facto, uma redução de perto de    1300Kms.
  
RESUMO HISTÓRICO

Dobrado por Gil Eanes em 1434, o temido Cabo Bojador e desfeitas assim as lendas do mar Tenebroso, não mais se detiveram as naus portuguesas nas suas viagens de exploração e reconhecimento da costa ocidental africana, realizadas sob orientação do Infante D. Henrique, que procurava, com rara tenacidade e fervor religioso, materializar o seu sonho de ligar, por mar, Portugal à India.
Foi no decorrer destas viagens que, em fins de 1446, o navegador português Nuno Tristão, que descobrira já o Cabo Branco e a ilha de Arguim, chegou à vista das embocaduras dos rios Gâmbia, Casamansa, Cacheu e Geba e do arquipélago dos Bijagós, onde foi morto, com alguns companheiros, quando tentava desembarcar, a fim de tomar contacto com os nativos.
Ainda nesse ano, Álvaro Fernandes, continua o reconhecimento da costa para sul e, em 1462, Pedro Sintra desembarca no arquipélago dos Bijagós e prossegue depois viagem, reconhecendo a Serra Leoa.
O infante D. Fernando, a quem seu tio D. Henrique doou todos os privilégios sobre as terras de África, incluindo portanto Cabo Verde e Guiné, procurou não descurar o povoamento de Cabo Verde, obtendo de D. Afonso V, privilégios especiais para os seus moradores por carta régia de 12 de Junho de 1466, que representa, por assim dizer, o primeiro foral concedido aos habitantes de Cabo Verde e Guiné e, por conseguinte, o seu primeiro diploma sobre a administração fiscal, civil e judicial.
Desde aquela data, a história política e administrativa da Guiné ficou ligada a Cabo Verde, de que passou a ser uma dependência até que, por carta de lei de 18 de Março de 1879, foi separada e se constituiu em província.
Nas primeiras dezenas de anos após a sua descoberta, os Rios da Guiné, como então era conhecida a zona costeira compreendia entre o rio Senegal e a Serra Leoa, constituíram, uma faixa reservada ao comércio dos habitantes do arquipélago de Cabo Verde, não se tendo procurado estabelecer no território qualquer autoridade constituída, limitando-se a ocupação portuguesa à acção de alguns comerciantes brancos a que chamavam «lançados» e que foram os pioneiros da penetração europeia na Guiné.
Só em 1630, com a criação da capitania-mor de Cacheu, que foi pois, o núcleo da futura província portuguesa, se deu início à ocupação administrativa que se impunha.
Cerca de 60 anos depois, em 1692, é criada a capitania-mor de Bissau, dependente até 1696 da capitania de Cacheu. Nesta data é nomeado um capitão-mor para Bissau, mas em breve a capitania é extinta. Só em 1753, é restabelecida a capitania e, em 1766, é constituída a actual fortaleza de S. José de Bissau.
O estabelecimento das capitanias–mores inclui-se nos esforços desenvolvidos com vista a dotar o novo território com uma estrutura administrativa que lhe permitisse fazer face às dificuldades motivadas tanto pelos desentendimentos internos entre os dirigentes e a indisciplina dos comerciantes como, muito especialmente, pelos constantes ataques e provocações de algumas nações estrangeiras, em particular a Inglaterra e a França, que procuravam por todos os meios fixar-se e traficar na região.
Assim, em 1792, por exemplo, a nossa posição na Guiné, viu-se seriamente ameaçada, quando uma colónia Inglesa se instalou na ilha de Bolama.
Todavia, logo no ano seguinte, a acção do clima e os ataques do bijagós, puseram em debandada os poucos sobreviventes.
Em 1834, a Guiné torna-se uma comarca da província de Cabo Verde, com sede em Bissau e dirigida por um subprefeito a quem fica subordinado todo o território. Termina, então, a autonomia das capitanias de Cacheu e de Bissau.
Em 1837, com a abolição das prefeituras, a Guiné passa a constituir um distrito destacado da província de Cabo Verde.
Alheios a qualquer problema de ordem racial, os portugueses de então pensaram, e bem, em aproveitar um valor real, que lealmente lhes oferecia a sua colaboração e que já dera largas provas do seu amor pátrio. O oficial de segunda linha, Honório Pereira Barreto, natural de Cacheu e descendente de Cabo-Verdianos e Guineenses, e que a si mesmo se intitulava de «escuro e obscuro português», foi nomeado governador do distrito da Guiné em 1837. Não se poupou a esforços para dignificar a administração e defender a integridade territorial do distrito, tendo mesmo chegado a ampliar o património nacional ao comprar vastos territórios aos chefes nativos, para depois os doar ao estado.
A disputa entre os governos Português e Inglês sobre a soberania da ilha de Bolama só vem a ficar resolvida em 1870, com a arbitragem, a favor de Portugal, de Ulisse Grant, presidente dos Estados Unidos da América.
Por seu turno, a Comissão Mista Luso-Francesa para a fixação da linha de fronteira entre a Guiné e os territórios Franceses, estabelecida em 1886, só em 1905 termina os seus trabalhos. Através do convénio então assinado e posteriores alterações, a perda dos nossos territórios nas regiões de Casamansa e Cadé foi, em parte, compensada com a inclusão de novos territórios na região de Cacine.
Os papéis de Bissau, desde sempre insubmissos, assumem uma atitude de declarada rebelião e, em Dezembro de 1894, aliando-se aos Balantas, obrigam as nossas reduzidas forças a uma difícil e prolongada campanha.
Em 1897, as campanhas de Óio e de Caió contra os manjacos, balantas e mandingas, terminam com a sua submissão.
Chegou-se, assim, ao fim do século XIX com uma situação geral satisfatória, ainda que com algumas manifestações de rebeldia de diversas tribos.
Em 1912, é nomeado Chefe do Estado-Maior da Guiné, o capitão, Teixeira Pinto, o qual, auxiliado por dois extraordinários colaboradores, o administrador de circunscrição, Vasco Calvet de Magalhães e o chefe de guerra nativo Abdul Injai, dá início a um vasto plano de pacificação.
Logo no ano seguinte, apoiando-se nos postos militares de Bissau e de Caranquecunda, e estabelecendo um novo posto em Mansoa, cerca a região do Óio e, numa acção fulminante, sem permitir às tribos rebeldes dos Oincas e Balantas refazerem-se da surpresa e agruparem-se, bate-as em separado, obrigando-as a prestar vassalagem. Seguiu-se com êxito idêntico, a campanha contra papéis de Churo e contra os Manjacos de Bassarel.
Finalmente em Maio de 1915, submete em definitivo os papéis de Bissau, completando, praticamente, a pacificação da província.
A partir de então, a Guiné, com relações cada vez mais estreitas com a Metrópole, entra numa fase de franca prosperidade, graças a métodos de administração progressivamente mais perfeitos e adequados às circunstâncias e necessidades.
Infelizmente, a Guiné voltaria a ser objecto, de cobiças estranhas….
A confusão e a violência alastraram por quase todo o Continente Africano logo após a segunda guerra Mundial (1939- 1945).
Em busca de uma independência que, na maioria dos casos, não podia servir os seus próprios interesses, os povos africanos tornaram-se presas demasiado fácil para a rede de subversão preparada, desde há muito tempo atrás, pelo comunismo internacional. E, surpreendentemente, surgiram em apoio do plano comunista soviético-chinês nações cuja cobiça tudo o mais fez esquecer.
As províncias ultramarinas portuguesas não podiam deixar de sentir as funestas influências do ambiente que as rodeava. Aliás, nesta tarefa se empenharam encarniçadamente os verdadeiros responsáveis pela subversão africana, fomentando a criação, nos novos Estados nossos vizinhos, de movimentos chamados «emancipalistas ou de independência».
Relativamente à Guiné, dos muitos movimentos que foram surgindo e, na sua grande maioria, desaparecendo logo de seguida, apenas dois assumem hoje importância:
o «Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde», (PAIGC), e a «Frente de Luta para a Independência Nacional da Guiné», (FLING).
No entanto, dado que a FLING tinha um carácter essencialmente político, pode afirmar-se que o PAIGC constituiu o inimigo que enfrentamos na Guiné.
Em princípios de 1959, Amílcar Cabral, um Cabo-Verdiano renegado, engenheiro agrónomo pela Universidade de Lisboa e funcionário público em organismos da metrópole e da Guiné, após ter visitado a União Soviética e outros países comunistas, decide iniciar a organização da luta pela independência, das províncias da Guiné e Cabo Verde e, no ano seguinte, surge, na sua qualidade de secretário-geral, à frente das actividades do PAIGC em ConaKry, (capital da República da Guiné).
Ao mesmo tempo que agitadores seus, infiltrados a partir das Repúblicas da Guiné e do Senegal, desenvolviam junto da população nativa guineense intensa propaganda (através da qual, tudo se prometia para depois da independência, que todos seriam felizes…). O PAIGC, treinava os seus futuros técnicos e instrutores na China, na Checoslováquia, em Marrocos, na Argélia, no Ghana, no Mali e na nossa vizinha República da Guiné.
Em 1961, junto da fronteira norte (Varela, Susana e S. Domingos), e em 1962, por todo o sul da província, são desencadeadas as primeiras acções de terrorismo, (raptos, assassínios, ameaças, violências, roubos de gado, e dos produtos das colheitas, incêndios, etc.) destinados a «convencer» os povos que se haviam mostrado mais «resistentes» aos efeitos da propaganda.
Num abrir e fechar de olhos, surgem abandonadas algumas «tabancas» (aldeamentos nativos) mais isoladas e os seus habitantes, aliciados ou aterrorizados, atravessavam a fronteira ou refugiavam-se em matas de difícil acesso. É nestas matas que o PAIGC, instala as primeiras bases, nelas procurando instruir os seus «combatentes».
Em 1963, os bandos armados do PAIGC realizam as primeiras emboscadas às nossas tropas, flagelam aquartelamentos e cortam determinados itinerários, (abertura de valas,  destruição de pontões, colocação de abatises, etc.).
abatises, são obstáculos de natureza militar compostos de ramos e troncos  de árvore, dispostos de forma adequada“.
De um modo geral, a actividade daqueles bandos, que desde o início utilizaram armamento moderno das mais variadas origens (principalmente soviética, checoslovaca e chinesa), fez-se sentir em todo o sul da província, com excepção da ilha de Bolama e da região de Forreá, na faixa entre o rio Cacheu e a fronteira norte, na tradicionalmente insubmissa região do Óio, no «triângulo» Xime-Xitole-Bambadinca, no Boé e no canto NE da província.
Perante um inimigo que «bate e foge», tirando todo o partido possível de um terreno que ele conhece como ninguém, a acção das nossas tropas foi admirável.
Por outro lado, os nossos militares, confirmaram na Guiné, toda aquela capacidade de adaptação a novas gentes, característica de um Povo que, como nenhum outro, sempre soube viver entre gentes de todas as raças e de todos os credos.
E sabemos bem como foi importante aquela capacidade para enfrentar a guerra subversiva, e muito contrariada dada a imposição do dever e obrigação do serviço militar.
Assim, a par de uma intensa e eficiente actividade operacional, assumiram excepcional relevo os resultados alcançados através da organização defensiva das «tabancas», a cargo dos respectivos moradores assistidos pelas nossas tropas; através da assistência escolar, com a montagem de grande número de escolas onde se sentaram os militares ou soldados metropolitanos e nativos, e os jovens das «tabancas» vizinhas; e através da assistência sanitária, o benefício mais apreciado pelas populações nativas.
O cumprimento da nossa Missão exigiu ainda tempo e muitos sacrifícios. Mas a Vontade dos Homens de todas as raças e credos que a nossa história juntou, prevalecerá na história daqueles que tal como no passado, 1973/1974 em Madina Mandinga, souberam em regime de missão militar, em zona específica e de interesses comuns de ambos os lados, construir numa companhia e população nativa, um todo, sem diferenças e preconceitos humanos, envidando esforços comuns, fortalecendo em cada dia as suas capacidades, onde algumas vezes fragilizadas pelo cansaço e o tempo, nada os moveu de um sentido de criar e dar continuidade à implementação do espírito de família, rica de sentimentos humanos e vontades de colaboração, digna de valentia, de entreajuda, de amizade dignificada que, em cada ano,  é relembrada e celebrada.

Saúde e instrução pública
Longe vão, felizmente, os tempos em que o facto de se falar em ir para a Guiné, era assombrado pelo terrível pesadelo das doenças, em especial do paludismo e das biliosas.
”doença frequente na áfrica tropical, espécie de paludismo, conhecida também por febre biliosa hemoglobinúrica, ou seja, presença anormal de pigmento sanguíneo na urina”.
Para combater mais eficazmente as doenças que grassam naquela região do Continente Africano, foi criado, em 1945, um departamento de assistência que foi designado por Missão de Estudo e Combate à Doença do Sono.
Da sua acção colheram-se os melhores e mais animadores resultados. Hoje, a sua actividade estende-se a outras doenças, como por exemplo, a lepra, boubas e malária, designando-se presentemente por “Missão de Estudo e Combate à Doença do Sono e outras Endemias”.
A sua organização foi modelar, tendo merecido os mais rasgados elogios por parte dos membros da Organização Mundial de saúde (OMS) que a têm visitado.
A Missão actua em toda a província, realizando permanentemente vários circuitos de tratamento itinerante.
Um intenso esforço de escolarização foi desenvolvido na Guiné, com a indispensável colaboração das forças Armadas, junto das populações nativas.
Além do ensino primário (escolas oficiais e escolas das missões católicas, ensino rudimentar para os nativos não islamizados), do ensino liceal (Liceu Honório Barreto), em Bissau e do ensino técnico (Escola Industrial e Comercial de Bissau), foram criados cursos de aperfeiçoamento profissional e formação agrícola, funcionando em Bissau a Escola Profissional dos CTT, a Escola-Oficina da repartição provincial das Obras Públicas, a Escola profissional dos serviços de Enfermagem, a Escola de aperfeiçoamento do Sindicato dos Empregados de Comércio e Indústria e a Escola de Aprendizagem Agrícola, que funciona na Granja de Pessubé.

Religiões
A maioria da população nativa, com excepção dos fulas, mandingas, beafadas, nalus e sossos, que seguem o islamismo, continua aferrada às suas crenças primitivas, mau agrado os esforços dos nossos missionários, que procuram sem desfalecimento levar-lhes a verdade cristã.
O território da província, que foi separada da diocese de Cabo Verde e elevada a circunscrição missionária em 1940 e ascendeu à categoria em três distritos eclesiásticos ou arciprestados, com sede em Bissau, Bafatá e Cumura, (próximo de Bissau), os quais estão confiados, respectivamente, aos Missionários Franciscanos Portugueses, Missionários do Instituto das Missões Estrangeiras de Milão e Padres Franciscanos da Província de Veneza.

Imprensa e Rádio
Além do órgão oficial do Governo da Província, «Boletim Oficial», de edição semanal, eram publicados na Guiné dois jornais: um em Bissau, o «Arauto», diário noticioso, e outro em Bolama, o mensário «Bolamense». Por seu turno, o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, com sede em Bissau, editava trimestralmente o «Boletim cultural da Guiné», no qual eram tratados assuntos de interesse da província.
A única estação emissora existente na Guiné, situa-se em Bissau.

Ligações marítimas e fluviais
Os principais portos abertos à navegação da Guiné são os de Bissau, Bolama e Binta.
O porto de Bissau encontra-se aproximadamente, no limite navegável do canal do geba, para navios de longo curso. A parte superior do canal só é utilizável pela pequena navegação de cabotagem (navegação costeira). Fica situado quase no extremo oriental da ilha de Bissau. À entrada do porto, do lado ocidental, encontra-se o ilhéu dos Pássaros, onde existe um farol.
Dada a pequena superfície da província, a sua localização permite que a maior parte do movimento de exportação e importação se efectue por seu intermédio, num total correspondente a 100 000 toneladas por ano, não contando com o movimento de cabotagem, cuja média é de 35 000 toneladas. Por estas razões procedeu o governo no sentido de que o porto de Bissau oferecesse as condições necessárias para um movimento de operações de carga e de descarga rápido e seguro. Para alcançar o fim em vista, foram realizados diversos e importantes trabalhos de que a inauguração em 1953, da ponte-cais marca o início.
A cidade de Bolama dispõe de um porto que é o de melhores condições naturais de toda a província, o qual se localiza no canal entre a ilha de Bolama e o continente e dispõe de uma ponte-cais para embarcações de cabotagem.
O porto de Binta, o segundo porto da Guiné em movimento, é constituído por um troço do rio Cacheu, entre Barro e Farim, com boas condições de abrigo. Dispõe de uma ponte-cais que permite fácil ligação entre os navios e a terra.
As ligações fluviais, através dos rios, rias e canais guineenses, constituem, como já foi referido a propósito da hidrografia, uma importante rede de vias de comunicação.
Além de Binta, os principais portos fluviais são: Cacheu, S. Domingos, Mansoa, Bafatá, bambadinca, Xitole, Buba, Catió e Cacine.
A Guiné está em ligação marítima com a Metrópole por intermédio de carreiras regulares de navios da Sociedade Geral do Comércio, Indústria e Transportes que escalam os portos do Funchal, S. Vicente de Cabo verde, Praia e Bissau.

Ligações Aéreas
Além do aeródromo internacional de Bissalanca, (a 8Kms de Bissau), existem campos de aviação em Bolama, Bafatá, Nova lamego, Farim, Varela, Teixeira pinto, Catió e Bubaque. Além disso existem dezenas de pistas para aviões ligeiros que se espalham por toda a província.
Os aviões da TAP estabelecem a ligação aérea com Lisboa (voos bissemanais) e os aviões dos Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa, mantêm carreiras com a Praia e o Sal (Cabo Verde).

Indústria
A organização industrial da Guiné, em fase de progresso apesar da guerra que nos moveram, é essencialmente agrícola.
As actividades industriais que se assinalam na província consistem no descasque do arroz e amendoim, serração de madeiras, extracção de óleos vegetais, fabrico de sabões, gelo, refrigerantes, telhas e tijolos, fundição de metais e farinação e óleos de peixe, as quais estão instaladas em pequenas fábricas, todas situadas em Bissau, e ainda, na construção naval, para o que existem na capital dois pequenos estaleiros.
Merecem especial relevo as instalações que a Sacor inaugurou em Bandim, dado que se trata de uma obra de grande importância, representando um contributo muito significativo para a valorização da província no domínio da industrialização.
  
Comércio
Nos últimos tempos, a necessidade de dotar a província com o indispensável equipamento industrial, levou a um aumento substancial da importação, enquanto que as acções terroristas, necessariamente, reduziam as produções para a exportação.
No entanto, o rendimento futuro do equipamento adquirido, a que se juntaram os frutos da pacificação em curso, permitirá, sem dúvida normalizar a balança comercial da Guiné.
As principais mercadorias importadas pela província são os tecidos de algodão, tabaco, vinhos, cerveja, gasolina, ferro e aço, óleos e combustíveis, farinha de trigo, cimento e medicamentos.
Na exportação, os produtos a que correspondem maiores receitas são o amendoim, coconote, madeiras, arroz, couros, óleo de palma, cera e borracha.

Legislação Militar

Vencimentos normais diários e gratificações das praças oriundas da Metrópole destacadas ou em Missão no Ultramar.

Vencimentos diários
Eram constituídos pelo vencimento base, aumento de pré pela readmissão, vencimento complementar e alimentação em quantitativos fixados anualmente por Portaria do Ministério da Defesa Nacional. O quantitativo do vencimento complementar dependente da província ultramarina para onde a praça é destinada.

Gratificações de especialidade
Estas gratificações só eram abonadas, pelo desempenho efectivo de função, às praças que já tivessem a especialidade averbada. Porém, quando as praças desempenhem especialidades para as quais possuíam na vida civil as habilitações necessárias, embora não estivessem averbadas nos seus documentos militares, poderiam ser abonadas  da gratificação de especialidade correspondente.

Gratificação de isolamento
Era atribuída aos militares que prestassem serviço permanente em determinadas regiões da Guiné, Angola, Moçambique, Timor e na ilha do Sal, em Cabo Verde,

Vencimento de Campanha
Além dos vencimentos normais, era atribuída aos militares que nas províncias ultramarinas faziam parte de forças com a missão de estabelecer a ordem nas zonas onde a acção terrorista ponha em perigo as condições normais de existência da população, um abono de subvenção de campanha.

Impossibilidade de acumulação das gratificações
As gratificações de especialidades não eram acumuláveis entre si, prevalecendo a maior no caso de acumulação de funções.

Pensão de Família

Quem podia estabelecer a pensão
Todo o militar nomeado para serviço no Ultramar e por conta do seu vencimento.

Quem podia receber a pensão
Pessoa ou pessoas de família, ou outra devidamente habilitada para o efeito.

Quantitativo
Até 2/3 do vencimento do Ultramar, incluindo abonos especiais que lhe poderiam vir a ser concedidos a título transitório.

Início
A partir do mês seguinte àquele em que o militar embarcava para o Ultramar.

Entidade pagadora
Em Lisboa, Agência Militar. Fora de Lisboa, Unidade ou Estabelecimento Militar ou no caso de não haver Unidade ou Estabelecimento Militar, Unidades da GNR e as Câmaras Municipais por ordem de preferência.

Modo de estabelecimento
A pensão era estabelecida mediante simples declaração do interessado, feita em papel de 35 linhas e à máquina e apenas em original, segundo o modelo constante do elemento da consulta.

Possibilidade de alteração
O quantitativo e o beneficiário da pensão podiam ser alterados por simples declaração, tudo se passando como se tratasse de uma nova pensão.

Subvenção de Família

Praças beneficiadas
As praças cujas famílias podiam beneficiar da subvenção de família (desde que se encontrassem em condições adianta indicadas) são, no que se refere directamente a serviço no Ultramar:
As praças nomeadas para serviço no Ultramar quando se destinavam ou faziam parte de guarnições normais ou de reforço.

Pessoas a quem se destina
A subvenção de família só podiam ser concedidas a:-
mulher (esposa legítima); filhos com menos de 16 anos; ascendentes (pais e avós) com mais de 60 anos; irmãos ou irmãs com menos de 16 anos; mulher com mais de 60 anos, que cria e educa desde criança a praça, se esta for órfã, exposta ou abandonada.

Condições de atribuição
A subvenção de família só era concedida se se verificassem as seguintes condições:-
se a soma de todos os rendimentos da praça (excepto os seus vencimentos e abonos militares), e da pessoa ou pessoas que pretendessem a subvenção de família, fosse inferior ao quantitativo da subvenção; se, além da praça, não houvesse mais ninguém responsável pela manutenção da pessoa ou pessoas que pretendiam a subvenção; se as pessoas, a favor de quem é requerida a subvenção, conviviam com a praça antes da sua chamada para o serviço.

Início e fim da subvenção
A subvenção de família era devida por cada dia de permanência nas fileiras da praça beneficiada, a partir da data da partida para o Ultramar, Esta subvenção cessa no mês seguinte àquele em que termina a missão no Ultramar.

Correspondência Postal

Modalidades de Correspondência
Aerogramas
Eram enviados pelo correio aéreo, militar ou civil, sem selos. Na metrópole, as famílias dos militares podiam comprar os aerogramas no Movimento Nacional Feminino, no Secretariado Nacional da Informação e Juntas de Freguesias, ao preço de $20 (vinte centavos) cada um.
Os aerogramas só podiam ser endereçados a militares, quando expedidos na Metrópole para o Ultramar. Não podiam conter quaisquer objectos ou folhas de papel adicionais.

Encomendas
As encomendas destinadas exclusivamente aos militares no Ultramar, não excedendo o peso de 4Kgs, pagavam apenas a taxa em selos postais de 1$50 (um escudo e cinquenta centavos) quando expedidas na metrópole, e 3$00 (três escudos) se fossem da Madeira ou Açores.

Correspondência selada
Além dos aerogramas e encomendas, os militares podiam também utilizar a vulgar correspondência selada. Eram as seguintes taxas postais em vigor:

Porte
Valor
Sobretaxa aérea
Valor
Cartas
20 gr
1$00
5 gr
1$50
Impressos
50 gr
$30
20 gr
1$50
Amostras
50 gr
$30
20 gr
1$50
Manuscritos
50 gr
$30
20 gr
1$50

Remessa de dinheiro
As remessas de dinheiro só podiam ser feitas por vale do correio, cuja forma de expedição era esclarecida em qualquer Estação Postal, militar ou civil.

Endereço de correspondência
Os militares, antes de embarcarem para o Ultramar, deviam informar convenientemente os seus futuros correspondentes acerca da forma como a correspondência tinha de ser endereçada. Além do nome, posto e número do militar, somente se podia indicar no endereço o número do indicativo postal militar (SPM).

Diferenças Horárias
Em relação ao tempo médio de Greenwich, menos 1 hora.
Em relação à hora local da Metrópole, menos 2 horas.

Emissões Radiofónicas da Metrópole (Emissora Nacional) 
Horário TMG
Comprimento de onda


Metros
KC/s
Das 13.45 às 17.00 horas
13.85 e 19.83
21.660 e 15.125

LIGAÇÕES AÉREAS COM A METRÓPOLE 
Voos semanais
4ª feiras (a)  Super
Chegada a Bissau
06.30 (tmg)


Partida de Bissau
08.00

6ª feiras (b)  B727
Chegada a Bissau
06.30


Partida de Bissau
08.00
Voos quinzenais
4ª feiras (a)  Super
Chegada  a Bissau
06.30


Partida de Bissau
08.00

6ª feiras (b)  B727
Chegada a Bissau
06.30


Partida de Bissau
08.00
    a)    até 6 de Set     b)   desde 15 de Set
 Este trabalho de pesquisa foi realizado, em Janeiro de 2013, por José Graça Gaipo




 RESUMO BREVE DO BATALHÃO 
                                                                             (transcrito por antónio costa)

Batalhão de Artilharia: nº 6523/73
Unidade Mobilizadora: RAL 5 – Penafiel
Comandante: Ten Cor Inf João Damas Vicente
2º Comandante: Maj. Art Óscar José Castelo da Silva
OInfOper/Adj: Cap Art Carlos Alberto Ramalhete
Companhias: CCS; 1ª Compª; 2ª Compª; 3ª Compª
Divisa: “Honra e Dever”
Partida: Embarque em 6Jul73; desembarque em 13Jul73
Regresso: Embarque em 7Set74



Síntese da Actividade operacional
 

Após a realização do IAO com as suas companhias, de 16Jul73 a 12Ago73, no CMI, em Cumeré, seguiu, em 13Ago73, para o sector de Nova Lamego, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com o BCav 3854.

Em 8Set73, assumiu a responsabilidade do Sector L3, com sede em Nova Lamego e abrangendo os subsectores de Madina Mandinga, Cabuca, Canjadude e Nova Lamego.

Em 20Jul74, o subsector de Piche foi integrado na sua zona de acção, após a desactivação do Sector L4.
As suas subunidades mantiveram-se sempre integradas no dispositivo e manobra do batalhão até à extinção do sector.

Desenvolveu intensa actividade operacional, orientada para realização de patrulhamentos, emboscadas, reconhecimentos ofensivos, escoltas a colunas e segurança, protecção dos itinerários e das populações. As forças intervieram e colaboraram em acções de reacção a flagelações e ataques aos aquartelamentos e aldeamentos e na promoção sócio económica das populações.

Comandou e coordenou a execução do plano de retracção do dispositivo e desactivação e entrega dos aquartelamentos ao PAIGC, sucessivamente efectuadas nos subsectores de Madina Mandinga e Cabuca em 20Ago74 e de Piche, em 29Ago74.

O Comando do Batalhão recolheu a Bissau em 28Ago74, a fim de aguardar o embarque de regresso, mantendo-se um pelotão da CCS em Nova Lamego até à sua desactivação e entrega ao PAIGC, em 8Set74.
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RECORDANDO O JORNAL…....  (por António Costa)

Na nossa casa de Madina Mandinga muita coisa boa se fez. Todos nós nos lembramos do nosso jornal “LEÃO DE MADINA MANDINGA”. De publicação mensal o 1º. número saiu para as bancas em Setembro de 1973 e o último exemplar verificou-se em Maio de 1974. Era seu Director o Cap. Milº. Rodrigues e dos muitos colaboradores destaco o Fur. Gaipo que não se poupava a esforços para que o periódico tivesse qualidade. Dado os avanços tecnológicos da época foi possível que o jornal fosse publicado a cores.
Para recordar a imprensa da época, transcrevo alguns artigos publicados nos vários jornais.  


Jornal  nº. 1  –  Setembro de 1973


“NOTA DE ABERTURA”

Hoje, que iniciamos a publicação do nosso jornal, impunha-se, para aqueles que estão a par, uma explicação acerca da sua existência e o porquê do seu nome.
A sua existência explica-se muito facilmente, pela necessidade que se sabe existir no soldado, de ter algo diferente com que ocupar o seu tempo, ter algo em que aplicar a sua atenção nas horas livres: enfim, algo de diferente que lhe possa oferecer uma distracção e ao mesmo tempo lhe tire dúvidas e dê sugestões que lhe possa aproveitar.
Cabe aqui e desde já um “parêntesis”  para  lhes dizer que também é necessária a sua colaboração, em vários aspectos, para que o jornal possa subsistir. São necessários artigos, sugestões, enfim, todas as ideias são aceites e aproveitadas da melhor maneira por aqueles que lhe dão vida.
O “porquê” do nome – LEÃO – para o nosso jornal:
- Em princípio, todos os que me conhecem, pensarão logo que a ideia parte de uma arreigada feição clubista. Em parte é verdade, mas também não é menos certo que escolhemos o símbolo do leão por outras razões importantes e num momento de pausa e reflexão no mato, seu ambiente, em uma das operações que fizemos, já aqui em Madina. O leão representa a força de que estamos possuídos, representa a fé e a vontade forte de fazermos o melhor que a nossa consciência nos ditar, representa o sentimento de família que procuramos criar na nossa COMPANHIA, como um elo mais forte para nos unir em todos os momentos do nosso convívio que não será só de dois anos, mas que esperamos perdure ao longo do tempo; mesmo quando regressarmos à METRÓPOLE e cada um seguir para seu lado. Levaremos no coração uma sã camaradagem, uma amizade que não se extinguirá, a recordação dos momentos, bons e maus, que passamos juntos.
Uns e outros unidos no mesmo pensamento, conseguiremos com este espírito de família, substituir a deixada atrás durante dois anos e fazer com que o tempo se passe no melhor espírito de harmonia e compreensão.
Todos os que me conhecem e têm convivido comigo, sabem que é este o meu maior desejo, que tenho a certeza já se estendeu a todos vocês e se irá cimentando cada vez mais com o correr do tempo.
A AMIZADE E COMPREENSÃO ENTRE OS HOMENS
-ACIMA DE TUDO-
 (de José Luís Borges Rodrigues)
                   Cap. Milº.

“A PAR DO DESPORTO"
- Tomou posse, no passado dia 7, do cargo de Presidente da Direcção do Sporting Clube de Portugal, o Sr. João Rocha. Do seu plano revolucionário, inédito no nosso meio, daremos pormenores no próximo número.
- Está a constituir enorme expectativa a festa de homenagem a Eusébio, que se realiza no próximo dia 31 e de cujo festival sobressai o encontro de futebol entre a equipa principal do Benfica e uma selecção de jogadores, que são a elite do futebol mundial.
Eis alguns dos nomes que estarão presentes:
Keyser e Blankenburg - do Ajax
Cruyff - do Barcelona
Paulo César - do Flamengo
Dirceu Lopes - do Cruzeiro
Jackie Charlton - do Leeds United
Guenter Netzer e Amâncio - do Real Madrid
Pelé - do Santos
Rivera - A.C. Milan
Maier e Muller - do Bayern Munchen
- Na 1ª jornada do nacional da 1ª Divisão, dois dos favoritos ao título foram derrotados.
O Benfica espectacularmente no Bessa contra o Boavista por 2-0, e o Sporting por 1-0 em Setúbal contra a poderosa equipa local.
Outros resultados: Belenenses 1   - F.C.Porto 0
                            Oriental      1   - Montijo           1
                            Farense      2   - Cuf                 2
                            Barreirense 1   - A. Académica 0
                            Beira-Mar   2   - Olhanense      2
 
“ADITAMENTO DESPORTIVO”

Existe em nós um gosto especial por tudo aquilo que se relacione com desporto.
Assim, e dentro dos condicionalismos em que vivemos, vamos tentar explanar as nossas ideias acerca do que será possível fazer, de momento em Madina.
No que nos diz respeito, temos a intenção de não nos deixar cair na solução única e cómoda do futebol, pois há outra série de hipóteses a considerar, algumas de concretização imediata.
Vamos organizar na nossa parada e à volta do aquartelamento, torneios de atletismo, com várias provas, nomeadamente de velocidade, resistência, saltos e lançamentos.
Também possuímos terreno propício à prática do voleibol e, como bola já existe, iremos, dentro da maior brevidade possível, colocar a rede e fazer as marcações.
À primeira vista são estas as soluções mais rápidas mas com o tempo irão surgindo novas ideias e oportunidades que não deixaremos de aproveitar.
Além de tudo isto temos ainda a importante missão de desenvolver o gosto pelo desporto. Nesse grupo enorme de rapaziada que todos os dias nos enche o quartel, sempre ávida de aprender algo de novo.
Já não é caso virgem em Madina Mandinga, a saída de um rapaz da população (vide caso Mussá – ida para o Fafe) para a Metrópole por ter dado nas vistas a sua aptidão para o futebol, tendo assim uma melhor oportunidade para singrar na vida.
Se fomentarmos a prática de outras modalidades é muito natural que surjam valores de que mais tarde o desporto se possa aproveitar, ao mesmo tempo que a esses rapazes é proporcionada uma oportunidade que talvez não tivessem noutras circunstâncias.
Meditemos pois em tudo isto e façamos o nosso melhor para pôr em andamento, o mais rápido possível, estas ideias.

(de José Luís B. Rodrigues)
               Cap. Milº. 


Jornal  nº. 2  –  Outubro de 1973

“MEDITANDO EM CONTINUAÇÃO”

Em mais uma das noites quentes de Madina, debaixo da constante expectativa que nos envolve, o nosso espírito evade-se um e leva-nos a um futuro que ambicionamos e nunca mais vemos florescer.
Interrogamos-nos, porque não haverá compreensão entre os homens, porque não se procura a paz duradoura, porque terão de existir sempre divergências que a maior parte das vezes a nada conduzem.
Seria tão simples, se houvesse em todos uma condescendência para com o próximo, se os erros cometidos servissem de exemplo, enfim se todos se todos se unissem convergindo para o mesmo fim.
Interrogar-se-ão muitos ao ler estas linhas a propósito de quê é evocado aqui este pensamento.
É no entanto bem fácil de responder a essa interrogação: na posição que nos encontramos tentamos perscrutar a alma e o pensamento de todos os que nos rodeiam e vimos em todos, a par da firme determinação com que enfrentamos aquilo que nos pode surgir a qualquer hora e de qualquer lado, um desejo enorme de PAZ, uma ambição de melhores dias para aqueles que hão-de vir depois de nós. No mundo conturbado em que vivemos, se todos meditassem um minuto que fosse neste enorme problema, com certeza que haveria uma união de esforços para dar vida a um NOVO MUNDO, que bem no fundo de cada um será o mais ambicionado.
Nesta meditação de uma noite, bem igual à de tantas outras, há um lugar muito especial reservado a todos aqueles que em nosso redor formam em tão boa hora a chamada “FAMÍLIA  DA  1ª. COMPANHIA”.
Na véspera de uma partida para a Metrópole, em gozo de férias, o nosso espírito debate-se numa tremenda contradição.
Se por um lado nos satisfaz rever a nossa família, voltar aos lugares nossos conhecidos, por outro lado muito nos custa deixar por um mês a convivência de todos aqueles que nos estimam e confiam em nós.
A  única  palavra que lhes podemos dirigir é esta: “partimos confiantes em todos vós com a firme certeza que a falta da nossa presença será compensada  em larga escala pela vossa enorme vontade de sermos IGUAIS A VÓS PRÓPRIOS. 

(de José Luís Borges Rodrigues)
                Cap. Milº.  
    

“ARTES E LETRAS”

CARO LEITOR

É a segunda vez que o nosso jornal sai e, é digno de nota, com admiração da nossa parte, a evolução que está tendo, não pela quantidade de páginas, mas sim pelos artigos, e pela sua simplicidade de expressão e sinceridade, em tudo aquilo que é verídico, que o dia a dia nos apresenta.
É bastante notório neste número a colaboração de alguns dos nossos Rapazes, descrevendo quadras e poemas de realidades passadas, que lhes fazem sentir e chocar o seu íntimo.
Penso que o primeiro número do nosso jornal embora pequeno, ao ser distribuído, a maioria o devorou lendo de página a página com a maior curiosidade o que lá se dizia e pedia  que, passados dias, já se encontravam em conjunto a trabalhar para o próximo jornal.
A mim, pareceu-me difícil acreditar no apelo feito, porque dizia para com os meus botões: afinal faço aqui um apelo e de certo, isto não terá efeito algum, porque a maioria dos moços começam a criar a sua imaginação, e à sua própria pessoa, aquela impossibilidade de fazer algo que seja proveitoso.
Todavia, e como se pode verificar, enganei-me redondamente, porque o pessoal não é aquilo que pensava, e foi óptimo que isso acontecesse, pois é sinal de que as pessoas vivem e pensam, aquilo que se lhes oferece, colocando em acção o seu raciocínio e inteligência, para que quando surjam problemas, não os fecharem nos seus cérebros, mas sim abri-los e expô-los a quem de direito. O nosso jornal é digno de admiração, porque vivemos num meio ambiente, em que se torna difícil a captação de Leitura de Livros e Jornais e, além disso grande parte dos nossos rapazes formam uma grande família e em geral têm um excelente grau de cultura.
Mas é com admiração e é por isso que muitas vezes se torna engraçado, a maneira como descrevem os factos pensados e vividos, depois de tê-los presenciado nas corrigendas feitas.
Portanto a eles, um novo apelo, para que colaborem cada vez mais, pois é colaborando e escrevendo, que se vai adquirindo conhecimentos de algo que lhes será útil pela vida fora.
Colaborai Rapazes, naquilo que vos for possível e não tenhais receio, pois tendes à vossa disposição alguém que vos pode ajudar, quer nos temas que apresentarem, quer até mesmo na maneira com hão-de expor as coisas e os factos.
Cá fico esperando, para que o nosso JORNAL não pare de progredir, durante a nossa estadia militar em Madina.


(de KALLETY   (Gaipo))

                            
                             POEMA

                                     BÁLSAMO

Sangue de chaga alheia
nunca será bálsamo
à minha dor!...
Acaso,
já viste dar vida a uma flor
tirando a vida
a outra flor?!...
(de KALLETY   (Gaipo))



“DIALOGAR CONVERSANDO”

Nosso primeiro!... Oh! O que será que esta agora me quer.
Então que queres tu ao nosso primeiro? Nosso primeiro, mi não tem patacão, e mi queria ir ao Gabú. Ah!... queres ir ao Gabú!... . Que vais fazer ao Gabú?!... Mi quer patacão, está já o fim do mês e mi lavou roupa di ti e tu não paga patacão. Claro, que queres que te faça?
Se ainda não me pagaram o patacão, eu também não posso dar-te porque não tenho. Então nosso primeiro, tem patacão, mi vi milícia receber patacão e, tua vai no Gabú. Está bem, tu vás no Gabú, outro dia, quando mi receber patacão, mi paga-te tudo. Então nosso primeiro, patacão quando vem? Prá semana, ou então no fim do Mês, porque ainda o patacão não chegou todo à Guiné, e só a meados do mês ou no fim é que vem patacão.
Nosso primeiro ou paga patacão amanhã ou irmã de amanhã, ou mi vá falar com capiton?!...
Está bem, oh NHARA, fala com capiton, que tu precisa de patacão de lavar roupa, que o nosso primeiro não quer pagar agora. Nosso primeiro, mi não gosta disso, mi é lavandeira di ti, lava manga de roupa, todos os dias e manga de trabalho com roupa di ti, e agora mi quer patacão para comprar comer, e mãe di mim está doente. Nosso primeiro mi é amigo e gosta manga di ti, mas tu paga a mim  que acabou o mês.
Olha: nosso primeiro vá buscar ao Gabú na próxima semana o patacão novamente , e se eles me derem todo eu pago-te, e todo o pessoal paga a ti, está bem?!...   Sim senhora mas mi quer agora patacão nosso primeiro.
Querem ver esta levar a corrida?!...Olha, eu não tenho patacão, mas vou pagar-te e tu não é mais lavandeira di mim, está certo?... Não, nosso primeiro, mi é lavandeira  di ti mas mi precisa de patacão pra ir no Gabú, comprar manga de coisas.
Pronto, tu gosta muito de nosso primeiro, não é verdade?!... Então vamos dançar um pouco pra disfarçar e o patacão virá que foi pedido mais de cinco vezes, e esta semana virá todo e então faço-te o pagamento. Tu não estás mal com nosso primeiro, não?!...Não. Mi gosta muito di ti. Então minha querida, esperas e amanhã eu pago-te patacão sim? Sim nosso primeiro, fica prá amanhã.
Agora vou trabalhar e não me chateies mais sim? Nosso primeiro manga de trabalho, eh! Nosso primeiro manga de bom e de bonito para pessoal Africana. Ah!é?!... Nosso primeiro manga de bom.

(de KALLETY   (Gaipo) )




                                        “QUADRAS SOLTAS”

                                      I
Abalei do Continente
Não sei se voltarei mais
A fim da despedida
E a despedida dos meus pais.

                                      II
Pelo alto mar abalei
Pelo oceano desconhecido
Deixando minha terra
Meu Continente querido.

                                       III
Passados cinco dias
Meus olhos só viam água
Sabendo que dentro de mim
Existia uma mágoa.

                                     IV
Com colegas me metia
Para ver se amarava
Sabendo que atrás de mim
Existia quem me amava.

                                     V
Passados seis dias
Uma luz me acompanhou
Começou amanhecer
E o barco atracou.

                                    VI
Depois do barco atracar
Com os sacos saímos
Tomando então rumo
Sem saber para onde íamos.

                                       VII
Nós num carro montamos
Nunca fomos a pé
Quando descemos
Estávamos no Cumeré.

                                   VIII
Quando cá chegamos
Não nos encontramos sós
Apenas nos disseram.
Que íamos tirar o “I.A.O.

                                     IX
Passados muitos dias
Do Cumeré abalei
E penso em mim
Que já não voltarei.

                                   X
Assim do Cumeré abalei
Para Madina embarcar
Pra cumprir minha missão
No lugar que estou a habitar.

                                       XI
No fim de um mês cá estar
Numa cama me deitei
Passados poucos minutos
Com tiros acordei.

                                      XII
Com tiros acordei
Aflito com a vida
Na arma agarrei
Para a vala em corrida  
(de JORGE)



                                    “PEDIDO PARA O JORNAL”

                          I
Todos os dias ao amanhecer
Oiço uma voz forte
Abre a  porta da messe
Ou senão tendes má sorte.

                          II
Vem a hora do meio- dia
Estão logo a chatear
Por não termos bebidas frescas
Tenho cá a carne do jantar.

                           III
A porta da messe
Ainda se encontra fechada
Se vocês começam assim
Vão todos para a picada.

                        IV
Acontece com as bebidas
Acontece com a água
Vão todos jogar a bola
E todos querem água.

                         V
Com dois frigoríficos pequenos
Tanta coisa para lá meter
É impossível servir
Tanta coisa para beber.

                          VI
Pepinos, queijo e doce
Tudo querem lá meter
Agora digam lá
O que hei-de eu fazer?

                            VII
Depois de tanto trabalho
E contas para dar
Chegamos ao fim do mês
Ainda temos que pagar.

                             VIII
Agora vou finalizar
Espero que não levem a mal
E se não se importam
Ponham isso no jornal.

                          (de APARÍCIO  (farturas) )


“A BATATA”

Qual grãozinho de oiro, que de tempos a tempos, faz a sua “MAJESTOSA” aparição nos nossos pratos, ela chegou finalmente!
Com os rostos transbordantes de alegria, a malta iniciou a tarefa que se impunha! Abriram-se os caixotes, separou-se o podre (como é muito, meu Deus!) e procedeu-se então à lavagem e armazenamento.
Jantou-se mais tarde, é certo, mas que importava isso, se um pratinho de batatas (mesmo com atum), era maravilhoso?
Agora sim, há boa disposição entre a malta… e tudo por um punhado de batatas!
E para terminar, aqui vai a pergunta: “não será possível termos batatas com mais frequência?
Tudo é possível com um pouco mais de boa vontade!...

(de VAXEZY) 


“INFORMAÇÕES”

É com mágoa, quando por vezes me ponho a pensar na vida.
É uma realidade, o que vejo dia a dia  e sinto com bastante tristeza o tempo que já passou e aquele que tenho à minha frente. Os dias, as noites, os meses passam e o calor insuportável continua sobrecarregando a atmosfera pesada das minhas ideias, sem as poder refrescar, como fazem aqueles nas tardes e manhãs de Verão, descansando e banhando-se nas praias da imensidão do oceano. Mais um Verão passou na vida de todos nós, mais uma vez as nossas férias foram renunciadas por uma força maior e circunstancias da vida de cada um. É verdade, que os tempos passados nunca voltam segundo dizem, mas quantas e quantas vezes, só em pensar neles, não aliviamos tantas coisas, trazendo-nos outras preocupações e problemas, que através duma excitação de entusiasmo, exclamamos e sem darmos por tal, sentimo-nos risonhos em pensar naquilo que fizemos de bom ou de mal, e que não voltará?!...Ah!.. Santos tempos, em que tudo era um mar de rosas. Não vale a pena pensar em tal, interessa é saber que o nosso Verão uma vez passou, e a nós nada passou despercebido, porque sentimos imenso a falta do descanso, duma descontracção natural à beira mar.
Foi com inveja e ao mesmo tempo com satisfação, que há dias vimos partir de malas na mão e saco às costas os nossos prezados amigos com destino a Bissau via Lisboa nos TAP, a passarem as suas férias desde há muito aspiradas e planeadas, embora o Verão tivesse terminado.
É nesta linha de ideias, que com agrado damos conhecimento, que se encontram em gozo de férias junto de seus familiares os nossos prezados amigos Capitão Miliciano José Luís Borges Rodrigues, os Furriéis Milicianos José Luís Costa Freitas e Manuel da Costa Monteiro e o Primeiro Sargento Joaquim Guerra.
A todos eles desejamos uma óptima viagem de ida, e regresso, à nossa família aqui formada em Madina Mandinga.
É com a esperança de os vermos juntos de nós, que mataremos as saudades das nossas terras Metropolitanas, trazendo nos rostos um Verão acabado e um Outono começado, que os que cá ficaram nunca mais o verão.              

(de KALLETY   (Gaipo) )


Jornal  nº. 3  –  Novembro de 1973



"REVERSO DA MEDALHA"

O artigo de hoje é exclusivamente dedicado aos rapazes da nossa Companhia.
Como bem se lembram, aquando da minha partida, em gozo de férias por um mês, na Metrópole, o meu espírito debatia-se com a controvérsia entre a alegria de rever os familiares, tendo alguns dias de descanso e a tristeza de vos deixar, porque sei muito bem, e disso me orgulho, aquilo que todos sentem por mim.
Vem aqui a propósito lembrar quanto não é melhor para a nossa consciência, sabermo-nos respeitados e credores de amizade, sem ter que recorrer a violências e imposições de autoridade, que se é conferida, muitas das vezes por mero acaso.
Mas voltando ao Tema que me propus debater, agora no regresso verificou-se o sentimento inverso: de pena por deixar de novo a Família, mas ao mesmo tempo de satisfação por reencontrar esta rapaziada, cuja alegria e amizade ficou bem expressa na recepção à chegada.
Estive em permanente contacto e, tal como esperava, tudo correu a contento, como se a minha presença efectiva.
Que melhor satisfação pode ter uma pessoa nestas circunstancias, que melhor prova de amizade, respeito e consideração se pode desejar, quando se sabe que foi feito um esforço uno para corresponder à confiança depositada?
No entanto vem agora o tal reverso da medalha: se tudo correu bem e esteve calmo na ausência, logo à chegada, alguns "AMIGOS", que todos bem conhecemos, resolveram manifestar-se na "zona" e lá temos nós que redobrar de esforços e trabalho para atender às solicitações.
Sei muito bem que havemos de corresponder, porque vos conheço a todos e vos vejo reunidos em meu redor, prontos para tudo o que vos fôr solicitado.
A terminar, tal como no mês anterior, a minha palavra para todos vós e para ser ouvida em toda a parte é de: 
=ABSOLUTA E EXTREMA CONFIANÇA=
(de JL. Borges Rodrigues)
           Cap. Milº.


"DESPORTO - A BOLA ROLA EM MADINA"

Não paramos, porque ... parar é morrer!
Pelo contrário, a nossa actividade desportiva tem aumentado consideravelmente, embora ainda não tenha passado os "portões" de Madina!
Não constitui surpresa para ninguém se afirmar que o futebol é o desporto rei, mesmo no seio da nossa Companhia; mas não deixa de ser consolador ver todas as manhãs alguns "carolas" correndo à volta do campo e organizando, entre si, pequenas competiçõe de Atletismo. 
(de Patrício) 
Jornal  nº. 4  –  Dezembro de 1973




"NATAL"

NATAL, palavra pequena, mas que tanto encerra. Natal que é Nascimento, que é Amor, que é Paz. Como é grande a nossa alma que ainda consegue albergar todos estes sentimentos!
Que terá sido para nós este Natal, como terão reagido os nossos corações?
Bem grandes e fortes são os corações destes Portugueses que aqui lutam e sofrem, para os quais o Natal, pela primeira vez na vida, não teve a rodeá-los o calor do seio da Família, a lareira acesa, a ceia quente, o ambiente acolhedor. Tudo isto encerra o Natal, a muito bem chamada "FESTA DA FAMÍLIA"
A nossa família de Madina também teve o seu Natal:
De Nascimento, apareceu em nós um ainda maior desejo de Paz, a esperança de resolução de todos os problemas que afrontam o Mundo;
De Amor, tivemos aqueles que nos une, pois os homens também se podem amar uns aos outros. Não nos faltou, como nunca falta, o Amor e apoio que nos é fornecido pelas notícias e presentes dos familiares;
De Paz, temos a do nosso espírito e temos a esperança, que nunca morre. É bem pouco e ao mesmo tempo é muito, pois conseguimos unir-nos e usufruir de tudo aquilo que nos seria possível.
Passou-se mais um Natal, rápido e frio no meio do calor que nos rodeia em Terras de África.
Foi um Natal diferente, mas foi Natal!
A vida continua, resta-nos a fé e a esperança de um MUNDO MELHOR.
= HAVERÃO MAIS NATAIS =
(de José Luís)
   Cap. Milº.


"NATAL NA VALA"


Junto à vala,
Numa caserna de lata
Em que brutos latões
Escondem meu ser adormecido,
Que,
Agasalhado na escura manta
Vai aquecendo
O Nata do meu pensamento!...
Junto das armas e munições,
Que,
Não saiem do meu espírito,
Agarrado, vivo e sinto
Aquele Natal esquecido dos meus sonhos!...
Viestes!.... Oh noite,
Tão escura e triste,
Mas, sentida e aspirada no ideal de muitos!...
Lá; estive, na fria noite,
E, adormecendo esperei
Pelos fortes estalos de ALLELUIAS sem fim!...
Que noite!...
Oh, até onde cheguei ó DEUS
Passando um Natal de arma na mão,
Como se ele fosse um vagabundo.
Chegou o dia, sereno e calmo
Que nada trouxe
Porque todos pensavam em Natal
Pra lembrar à humanidade que era Natal
É NATAL !.........É NATAL !.......
  (de Frilemo)

"UM NATAL EM MADINA"


Todos os que pensavam que passaríamos um Natal triste e sem história, terão que mudar de opinião, pois quem acompanhou de perto a "GRANDE FAMÍLIA DE MADINA", pôde verificar quanta camaradagem e amizade existe entre todos os rapazes da 1ª CART/BART 6523.
A própria população tem andado maravilhada com tudo o que vê e assegura mesmo, que nunca passou por cá, uma Companhia como esta ( "MANGA DE BOM PESSOAL", dizem eles )!
A alegria estampava-se em todos os rostos, e se algum mais renitente levava o pensamento para os seus, tentando pôr-se à margem da alegria reinante, logo vários camaradas se abeiravam dele e integravam-no no ambiente que souberam criar.
Eu próprio, nunca julguei ser possível passar  um Natal assim, fora da Família e, para mais, nas circunstâncias que nos encontramos!... Mas agora sei o que pode a AMIZADE PURA entre os Homens, e essa amizade existe mesmo em = MADINA = 
(de VAXEZY)



"ATAQUE" - (em 5 DEZ 1973)


I

Em cinco de Dezembro 
O que se havia de passar
Às seis e trinta de tarde
Estávamos a embrulhar.


II
Quando acabei de jantar
Na vala estava a descansar
Quando dei por ela
Estavam a atacar.


III
Com minha arma na mão
Dentro da vala entrei
Quando vi o fogo
Aos tiros comecei.


IV
Foi neste triste dia
Que o IN nos veio visitar
Com grande alegria
As boas festas nos dar.


V
Após as boas festas dar
Corridos a fogo regressaram
Mal sabíamos nós
O que na picada deixaram.

VI
Que podiam então deixar
Naquele dia sem par
O embrulho das boas festas
Pra nos mandar ao ar.


VII
Depois de detectarem
A correr vieram avisar
Então todos pensaram
Em o Gaipo levantar.


VIII
Lá foi o segundo pelotão
Para a segurança fazer
Todos de arma na mão
Ver o que lá podia ter.


IX
Depois de tudo visto
O embrulho foi levantado
Era forte presente
Que a muitos podia ter matado.

X
Com calma, o Furriel
À Companhia regressou
De caixote Trotil na mão
Quando tudo se acabou.
(de S. Moreira)


"ÚLTIMA HOMENAGEM"



23de Dezembro de 1973-19H30. 
Hora de profunda tristeza em Madina Mandinga. Faleceu Bacar Sane.
Fomos abalados por esta notícia numa altura em que, fechados no nosso gabinete de trabalho, tínhamos o nosso espírito bastante longe. Escrevíamos uma carta ao homem que nos deu o ser, que completava nesta altura 64 anos.
Não há no mundo pessoa alguma por quem tenhamos mais admiração que não seja o nosso Pai. Por isso imaginamos e sentimos bem a dor que vai por todos os corações de Madina, pois Bacar Sane era bem o Pai de Madina Mandinga. Fora ele que há sete anos conduzira pela primeira vez a tropa até este local, onde nada existia além do mato, que agora nos rodeia.
Era ele que inspirava total respeito e veneração a toda a população Mandinga. Foi ele que mereceu a consideração e a amizade de todos os militares que aqui passaram.
Era ele o Guia nº. 1 da Companhia.
Até que as forças o atraiçoaram e a doença lhe começou a minar o corpo seco e erecto.
Era ele a quem qualquer um de nós não exitava em pedir o conselho que a sua longa experiência e conhecimento do mato ditava.
Faleceu Bacar Sane e para ele foi a melhor solução, pois já há bastante tempo que um sofrimento enorme o atormentava.
O seu funeral foi uma enorme demonstração de pesar, mereceu a comparência de centenas de familiares e amigos, que continuam a afluir a esta localidade. Mereceu a presença total e em peso do pessoal desta Companhia e mereceu as honras militares que achámos por bem prestar-lhe, o que veio calar bem fundo no coração de todos os que o conheceram.
O NATAL TORNOU-SE MAIS TRISTE EM MADINA
DESCANSA EM PAZ BACAR SANE

(do amigo José Luís)
         Cap.Milº.


"FUTEBOL É REI EM MADINA"




Já temos frisado em artigos anteriores que, embora o futebol tenha sempre primazia sobre qualquer outro desporto, estes também se praticam com certa regularidade e entusiasmo.
Depois de um torneio de Atletismo, disputado entre a rapaziada da Companhia, regressou a "febre" do Futebol!
Para o primeiro jogo, foi convidada a Selecção de Dara, na pessoa do Comandante desse destacamento, que ficou encantado e desejoso de estabelecer uma data que não prejudicasse o Serviço.
O encontro disputou-se numa manhã solarenga e sob o signo da amizade.
A 1ª parte foi caracterizada pelo equilíbrio tanto no "jogo" jogado, como nas oportunidades de golo, que ambas as equipas dispuseram. Este equilíbrio ficou demonstrado no próprio resultado ao intervalo, com 0-0.
No 2º tempo, a melhor preparação física dos rapazes de Madina veio a manifestar-se claramente, marcando 3 golos sem resposta.
Há a ideia de disputar um segundo jogo (desforra) em Dara, embora ainda não haja uma data certa, pois a actividade operacional tem sido intensa nesta época do Natal.
Aguardemos pois, um dia de folga !....
(de VAXEZY)


Jornal  nº. 5  –  Janeiro de 1974




"COMEÇOU UM NOVO ANO"

Geralmente nesta altura os pensamentos renovam-se, criam-se outras ambições, sente-se um enorme desejo de construir algo de novo, à força de se repetir, este fenómeno vai-se desvanecendo cada vez mais no pensamento de um homem. Não é esse o nosso caso, pois somos todos jovens e ainda não podemos dar largas a toda uma ambição de realização, nos diversos campos que, na vida, nos são proporcionados.
É pois para todos vocês, jovens que formais "a Nossa Família da 1ª CART", que dirijo estas palavras, pese embora o facto de o nosso jornal ter já ultrapassado as fronteiras de Madina.
O jornal é nosso e dirigido para nós, se chega a outras mãos é porque reconhecemos que essas pessoas são dignas da nossa consideração ou ainda muito principalmente, da nossa amizade. Feito este à parte e voltando ao tema que me propus, quero pois dizer-vos que embora neste momento as nossas ambições estejam limitadas e concentradas num único objectivo, o tal que a todos foi transmitido num certo dia algures numa mata de Penafiel, não devemos olvidar-nos de tudo aquilo que deixamos para trás, até porque nisso está envolvido esse objectivo. Muitos de nós deixamos um curso, outros uma obra, um sem número de coisas por completar. Alguns mesmo, nem sequer tinham um rumo definido, algo iniciado na vida, que começa quando deixamos a ADOLESCENCIA.
É pois nisto que quero que meditem, vão tomando cada vez mais a consciência de que são homens válidos que ainda têm muito, ou melhor, quase tudo para dar e também para receber. Cada um deve procurar conhecer-se melhor a si próprio, ter a noção e estar consciente do seu verdadeiro valor. Não é difícil e posso garantir-vos que nos dá uma força interior para enfrentar todas as situações, lutar por aquilo que sabemos poder atingir, uma confiança ilimitada nas nossas possibilidades. É pois este o meu desejo, num novo ano que começa, sei que as minhas palavras vão encontrar eco nos vosso pensamentos, proporcionando a todos uma bem necessária 
                                   TOMADA DE CONSCIÊNCIA
Zé Luís Rodrigues 

"REGRESSO DESEJADO"

É sempre com enorme pesar que vemos partir aqueles de quem gostamos.
Esta frase tão usada veio-nos agora à mente, em virtude do afastamento, para Bafatá, do nosso 2º CMDT, Major Óscar José Castelo da Silva, assumindo o comando do Batalhão ali presente.
Foi-nos dito que será uma ausência temporária e que em breve voltará ao nosso convívio.
Assim esperamos e desejamos, porque pessoas como ele, com uma compreensão e bondade que ultrapassam a normalidade, não se podem ver partir, ficando os que as conhecem impávidos e serenos.
Sentimos profundamente a sua falta, porque para além de tudo o que se pode dizer a seu respeito, para nós ele tem o dão especial de nos ter dado o favor da sua amizade.
Três dias passou em Madina, tudo fizemos, como fazemos a todos os que nos visitam, para que fosse daqui satisfeito, sim, mas com uma ideia real daquilo que somos e do modo como vivemos.
As suas palavras de despedida e o modo como nos recebeu em Bafatá, não se furtando ao nosso convívio apesar dos seus inúmeros afazeres, são mais que compensação, são a certeza que desejamos de nos saber compreendidos.
Sentíamos ainda desejo de lhe dedicar mais algumas palavras, mas como para muita da gente que nos lê, pode parecer adulação, ficamos por aqui, com a certeza de que somos compreendidos e aceites por aquele a quem estas palavras são dedicadas.
REGRESSE EM BREVE MAJOR CASTELO DA SILVA, POIS SENTIMOS IMENSO A SUA FALTA!
"A Família da 1ª CART"

"AS BAZOOKAS - DESCUIDO FATAL"

Todos têm ouvido falar de acidentes ocorridos constantemente com bazookas!
Ainda há bem pouco tempo um acidente desses deu origem a que morressem alguns homens e ficassem feridos muitos outros. Tanto a imposição incorrecta de colocar a arma com certos "à vontade" que se acentuam com a mania da chamada "VELHICE", são as principais causas desses acidentes mortais. Não colocar arma de modo a que a "boca" fique voltada para o solo e não deixar as granadas à "balda", são dois dos conselhos que se devem seguir, para que os riscos de acidentes sejam menores.
É assim rapazes, todo o cuidado é pouco e tende sempre presente tudo o que nos ensinaram acerca do manuseamento da BAZOOKA.

"INFORMAÇÃO"

- Tivemos na nossa Companhia a presença do nosso 2º Comandante Óscar José Castelo da Silva que permaneceu connosco durante 3 dias e que agora nos vai deixar para assumir o Comando de Bafatá.

- Ao despontar este novo ano, mais dois amigos se deslocam à Metrópole, em gozo de apetecidas férias. Foram eles o Teixeira e o Quinas, aos quais desejamos uma estadia repleta de Paz e Amor.

- O nosso Capitão Rodrigues e o Gaipo fizeram anos este mês! Pois não deixaram de ser festejados em família, como aliás se impunha na nossa Companhia.

- Não podemos deixar de dedicar duas palavras a um novo Amigo. Todos conhecem já o Sr. Dr. Fernando Pimenta, e os que tiveram a felicidade de ser recebidos na sua casa, não mais esquecerão esses momentos de convívio. Infelizmente não serão muitas as ocasiões em que poderemos conviver com este execelente amigo, mas de todas as vezes que passarmos em Bafatá não deixaremos de o ir cumprimentar. O nosso maior desejo era poder um dia trazê-lo a Madina, para conhecer o ambiente em que vivemos.
(de VAXEZY) 


Jornal  nº. 6  –  Fevereiro de 1974




"CARNAVAL 74"

Carnaval - palavra mágica, que ao ser pronunciada, enche de alegria os corações. O que terá sido para nóseste carnaval de 74?
Este primeiro ano de afastamento de todos aqueles costumes que estão enraizados dentro de nós, já aquando do Natal, nos veio proporcionar uma sensação de algo diferente.
Agora, com o Carnaval, repete-se o fenómeno, se bem que num outro prisma e com outro alcance. Veio rápido, só demos por ele quase ao cair da tarde, antes da hora crítica do nosso dia a dia.
Por isso mesmo, rápido como veio à nossa lembrança, rápido passou, não estamos em época de folias ou alheamentos.
Ainda assim, não deixamos passar a oportunidade de o assinalar com uma pequena mascarada, com as respectivas fotografias para a posteridade...
Mas passados poucos momentos já ninguém se lembrava do carnaval, o sentido das responsabilidades sobrepôs-se a tudo. Será isto reconhecido por muita gente? Haverá ainda quem medite um pouco e se consiga aperceber de toda a sorte de privações a que está sujeito muito ser humano?
Não vamos entrar em considerações sobre este aspecto, até porque posteriormente tivemos a confirmação com a amostra de outro triste "CARNAVAL" a que ninguém deu importância... Fraco apoio moral é fornecido a estes bons e simples rapazes. Felizmente que eles sentem e sabem de quem podem esperar apoio e compreensão, que nunca lhes têm sido negados. Para todos eles recomendamos mais uma vez calma e paciência, porque, à semelhança do que no Natal foi dito...   HAVERÃO MAIS CARNAVAIS
(de Zé Luis Borges Rodrigues)

"COLUNA POR UM"

Eram seis hora daquele dia....
O capim ondulava com o vento. O Bi-grupo de combate estava formado na parada, para a minuciosa revista de armamento e equipamento, que antecede a acção.
Duas raivosas metralhadoras, duas bazucas e dois preciosos morteiros 60, nada mal...
Após o comandante da acção se haver inteirado das instruções necessárias, eis-nos a sair do aquartelamento em coluna por um, penetrando no capim silenciosos como serpentes, rumo ao objectivo.
Apesar da frescura da manhã, o "camuflado" pega-se ao corpo com o suor.
O silêncio é apenas quebrado pelo inevitável ruído dos animais, que se deslocam à nossa passagem.
Longa fileira de homens, fileira de juventude oprimida, fileira de esperança - Homens que nas horas dramáticas se transformam em autênticas feras - e como essas horas são abundantes, meu DEUS...
A passagem nos pontos suspeitos é feita com infinita prudência: olhar atento, audição apurada e arma bem segura, não vão os "artistas" surpreender-nos e o local converter-se numa sucursal do inferno.
Após a "tradicional" emboscada nocturna, empreende-se o tão desejado regresso; e os homens fatigados de físico e moral arrastam-se pelos trilhos. Na vanguarda, uma metralhadora pronta a distribuir a morte em todas as direcções. À chegada, espera-nos uma refeição quente e um banho reparador.
Em abono da verdade, o soldado PORTUGUÊS satisfaz-se com bem pouco. Quase nada pede. Bem merece da PÁTRIA o que apenas exige e raramente obtém: "COMPREENSÃO E RESPEITO"
(de SEPOL)
"INFORMAÇÃO"

Tivemos recentemente a visita de duas entidades que muito nos honraram com a sua presença. Foram eles os Exmos. Comandante do CAOP e o nosso Comandante de Batalhão.
Depois de percorrerem o nosso aquartelamento, inteirando-se do modo como decorrem os trabalhos de Reordenamento, dirigiram-se para a nossa messe, onde foi servido o almoço, durante o qual foram expostos vários assuntos e problemas actuais, de interesse mútuo.
Findo o almoço, a população não quis deixar de os "abraçar" com carinho, dançando e cantando em sua honra.
Ficam desde já expressos os nossos agradecimentos por esta visita, na certeza de que serão sempre recebidos com alegria e amizade pela rapaziada de MADINA MANDINGA.
(de VAXEZY) 

Jornal  nº. 7  –  Março de 1974




"ATITUDES IMPENSADAS"

Neste momento crucial das nossas vidas jovens, nas circunstâncias em que elas se desenrolam, não será de pouca importância, meditar às vezes, um pouco sobre as nossas atitudes. Se em todas as alturas é necessário pensar e ponderar nas atitudes que tomamos, muito mais equidade toma agora esse problema. Devemos cada vez mais atentar nas consequências que certas atitudes impensadas, podem trazer para aqueles que nos rodeiam, consequentemente, para nós próprios.
Temos às vezes a felicidade de sermos perdoados, porque existe sempre alguém que faz por compreender a juventude, até porque faz parte dela.
Mas, existe sempre um "mas", certas pessoas têm a tendência para abusar dessa compreensão e dessa benevolência e então tornam-se demasiado notados, o que lhes é prejudicial.
Portanto e para não insistir demasiado no assunto, há que, por parte daqueles que são inteligentes e sabem de certo captar a intenção deste aviso, que será mais conselho amigo, haver uma tomada de consciência, que já foi lembrada noutras circunstâncias.
(de Zé Luís Rodrigues) 

"DESPORTO"

Apesar da nossa actividade operacional ser bastante intensa, o desporto continua a ser a principal ocupação da rapaziada, nas horas disponíveis.
Para além do futebol e do atletismo, começam já a ver-se alguns "carolas" a praticar o ciclismo, numas "pasteleiras" que conseguem "cravar" aos barões cá do sítio. À falta de pista adequada para a pratica de tão nobre desporto, a parada desempenha as mesmas funções e na verdade, já começam a evidenciar-se alguns ases ... em trambolhões, claro.
Futebol em Madina
Sob arbitragem do Sr. Albino Ferreira, de Santo Tirso, realizou-se no passado dia 27, no Estádio José Luís Rodrigues, desta localidade, um desafio amigável entre a selecção de Contuboel e a selecção local, que terminou com a vitória dos nossos rapazes por 3-1. Jogo bastante movimentado, mas a nossa equipe logo desde o início trouxe ao de cima a sua superioridade, quer física, quer técnica, chamando a si, sem dificuldade, a vitória do desafio. Zé Luís, autor de dois dos nossos golos, foi sem dúvida o melhor homem em campo. A correcção dos jogadores de ambas as equipas, facilitou bastante o trabalho do árbitro, que mesmo assim deixou muito a desejar.
(de Rafael) 
   
"INFORMATIVA"

- No passado dia 25visitou-nos o Exmº. Major Rocha acompanhado dos seus furriéis adjuntos, de inspecção ao material bélico.


- Seguiram em gozo de férias à Metrópole, junto de seu familiares, os Furriéis António Patrício e Leonel Madrugo e as Praças desta Companhia José da Conceição Romão, Joaquim da Silva Moreira e o 1º Cabo Carvalho Alves, aos quais desejamos umas boas férias e um óptimo regresso à nossa Companhia.


- No próximo dia 2 de Abril, segue em gozo de férias o nosso grande amigo capitão Milº. José Luís Borges Rodrigues, o qual esperamos que passe umas férias tranquilas, e com um regresso cheinho  de novidades metropolitanas.


- Depois de umas largas férias regressaram à nossa Companhia o 1º Sargento Joaquim Guerra e também o Quinas.
(de Gaipo)

Jornal  nº. 8  –  Abril de 1974




"A PROPÓSITO"
25 DE ABRIL

Neste momento de euforia que todos nós - POVO PORTUGUÊS - vivemos, da conquista de uma liberdade por que há tanto tempo ansiávamos, muito nos apetecria dissertar sobre esta acontecimento. 
No entanto, nunca esquecendo que estas linhas são sempre dirigidas aos rapazes da nossa Companhia, um facto há que queremos e achamos que devemos assinalar;
Desde sempre, ao longa da curta existência do nosso Jornal, mantivémos uma linha de rumo traçada em coincidência com o nosso modo de pensar.
Sempre mostrámos aquilo que somos, aquilo que desejamos, aquilo que nos vai na alma.
Algumas contrariedades surgiram pelo caminho, fomos incompreendidos, talvez, fomos pressionados, também aconteceu, mas nem por isso jamais deixamos de nos exprimir livremente.
É por isso que agora, ao vermos em certos casos, mudanças de atitude, tomadas de posição, apoios dados levados pelo receio, alguns ainda à espera de consolidação, somos levados a esboçar um sorriso, não o tal sorriso que quase a totalidade do povo Português traz nos lábios misturado com um cravo, mas um sorriso amargo, por verificar que no meio do nosso Povo ainda existe uma camaradagem muito grande, que é preciso ser desmascarada, chamar-lhe-emos a dos COMODISTAS.
Os comodistas, sim, que navegam ao sabor da situação, que não têm a coragem e a Hombridade de dizerem aquilo que são.
Falamos assim, porque temos a consciência tranquila, sempre, nunca é demais repetí-lo, mostrámos aquilo que somos, por isso mesmo, agora, coerentes com nós próprios, não precisamos de nos manifestar, porque já nos conhecem e sabem muito bem aquilo que valemos.
(de JOSÉ LUÍS RODRIGUES)  
"LIBERDADE"


Quantos e quantos anos, 
Encarcerada
Andaste oh Liberdade,
Entre brutos e fortes ferros,
Esmagada com ódio
Pelos fascistas
E toda a raça e escória de bufos?
Quantos e quantos anos
Oh Liberdade
Teu pensamento e ser foi algemado,
Para que,
A escória dos preguiçosos bufos
Matassem a sua própria fome!...
Tu, que agora és livre
Oh Liberdade,
Que louca
Vives nas ruas
E nas bocas do teu povo
Que bem alto grita LIBERDADE,
Diz-me bem alto e sem medo
Que farias e darias
Áqueles bufos mesquinhos,
Que medrosos
Te fecharam a ferros?!...
Oh Liberdade desejada
Que livre e tranquila vives
Naqueles, Que há tanto te procuravam
Na revolta unida dum povo,
Pra que fosses libertada
E livre livre vivesses, Oh LIBERDADE.
(de Gaipo (Kalletty)

"DESPEDIDA COMOVENTE DOS QUE PARTIRAM, E PARA OS QUE FICARAM"

Quando há perto de um ano subi a bordo do Niassa a fim de me encontrar com um amigo que chegava em missão de soberania, mal podia supor que a partir desse dia iria ter na minha lista mais uns tantos novos amigos.
Como é fácil de ver, esse amigo não vinha só, acompanhava-no milhar e meios de homens com o mesmo fim, entre eles os actuais "LEÕES DE MADINA". Após a chegada à província veio o I.A.O. e consequentemente a permanência no Cumeré. Durante este tempo e utilizando um elo de ligação, o já citado amigo, os fins de semana foram os nossos únicos momentos de encontro, no entanto os laços de amizade surgidos quase momentaneamente foram-se apertando, nascendo assim uma franca e sincera amizade entre mim e os "Leõeszinhos".  
À mesa com ostras e camarão trocamos as nossas impressões. Eu com 16 meses, o tio Bryto com uma comissão na Província (ainda se lembrava de mim), dávamos as nossas opiniões sobre aquilo que à priori achávamos  necessário. O I.A.O. estava chegado ao fim, e é com grande pena minha separar-me dos bons amigos que conheci um mês antes naquela manhã de treze de Julho. Ei-los que partem rumo a Madina para renderem a "velhice" da 3406. Eu lá continuava em Bissau no desempenho das minhas funções.
Os meses passaram-se e eis que a força do destino me leva a Madina, mas antes vejamos como as coisas se processaram. Depois de uma permanência bastante longa em Bissau, regresso enfim à minha Companhia - Contuboel -. Alguns dias após parto para Sare-Bacar, ao encontro do meu grupo de combate deixado há imensos meses em Bambadinca Tabanca, aquando da minha colocação em Bissau. 
A minha estadia na fronteira foi curta, já que o grupo estava a terminar o seu tempo de reforço à unidade ali estacionada.
Regressados à Companhia para o habitual período de descanso surge-nos algum tempo depois a hipótese de na próxima saída irmos para Madina o que efectivamente se concretizou.
Chegamos a Madina na manhã de 27 de Março de 1974 com a certeza de que esta saída seria diferente. Trazíamos a certeza de sermos bem aceites e principalmente que seríamos tratados como homens, coisa que não tinha tido lugar em alguns locais por onde os grupos de Contuboel anteriormente fizeram escala. Sabíamos que os dois grupos de Contuboel que nos antecederam, saíram com alguma saudade e grande amizade pelos "Leões de Madina". Tinham razão por assim sentirem, porque nós apesar dos poucos dias de presença nesta Companhia já sentimos o mesmo.
Até hoje e já lá vão quase 25 meses de Guiné, nenhum Comandante o 1º Sargento responsável pela mesma, teve duas palavras de amigo para o grupo adido. Pelo contrário fomos sempre recebidos como indesejáveis. Porquê? - Teremos nós culpa que nos mandem para essas Companhias? Já alguma vez nos oferecemos para sermos destacados? Então para que nos recebem e tratam com indiferença? Não sei responder, sei apenas, e isso sensibilizou-me imenso que ao fim de algumas horas de estarmos em Madina o senhor Capitão Rodrigues e o 1º Sargento Bryto fizeram uma breve mas significativa prelecção aos estranhos (?) que acabavam de receber.
Ouvímo-los com atenção e no fim prometemos a nós próprios que faríamos tudo para que os ideais que regem esta Companhia não fossem manchados por este punhado de homens, saturados do excesso de comissão.
Utilizando um pequeno parêntesis, julgo poder afirmar que a razão dos óptimos resultados obtidos pelos responsáveis da 1ª CART se deve ao facto de olharem os seus subordinados, primeiramente como homens e só depois como militares (o hábito não faz o monge).
As palavras ditaturiais tão usadas pelos nossos contemporâneos não têm lugar em Madina; antes pelo contrário, são palavras doces, quentes, amigas e que nos caiem bem cá no fundo.
Em face do que acabo de afirmar, se a 1ª Cart é pessoal educado,trabalhador e disciplinado, é o reflexo de quem os comanda.
Vamos deixar Madina, não sabemos qual a nossa nova colocação, sabemos apenas que nos acompanha uma profunda tristeza por deixar esta malta maravilhosa.
Nestes pouco dias de permanência em Madina cremos ter cumprido a nossa missão, resta-nos somente aguardar o juízo daqueles que tão bem nos receberam.
Partimos, mas antes despedimo-nos com um abraço de agradecimento para todos os LEÕES DE MADINA
ADEUS LEÕES. ADEUS COMPANHIA MODELO
(de Oliveira Pereira)           

"INFORMAR"

- Depois de umas férias bem passadas junto das respectivas famílias e amigos, eis que regressaram ao convívio da Companhia o nosso estimado Capitão e Director do "Leão de Madina", José Luís e os Furrieis Patrício, Madrugo e Pedro.
- Foi com agrado geral que se verificou a chegada do Sr. Alf. Milº. Baptista, destinado ao 2º Pelotão, que tinha saído "desfalcado" de Penafiel. São para ele os nossos votos de felicidade junto da rapaziada da 1ª CART.
- Partiram para a Metrópole, em gozo de Licença Disciplinar, as seguintes praças da nossa Companhia:
1ºs Cabos Freitas. Fidalgo, Marçal e Zé Gato e o soldado Azevedo.
Que sejam umas férias inesquecíveis, deseja-lhes toda a malta da 1ª CART/BART 6523.

Jornal  nº. 9  –  Maio de 1974




"CRAVOS VERMELHOS PARA A MALTA"

Somos milhares de jovens ansiosos por regressar a Portugal!
Duvidam?
Não, acredito que não, pois tanto como nós, sabem o sacrifício que fazemos continuando aqui, sacrifício esse que se nos afigura verdadeiramente inútil!... Ou não será assim?
Ainda há bem pouco tempo (devido a uma política ultramarina ultrapassada), tínhamos toda a opinião pública mundial contra nós, isto é, era-nos de tal maneira desfavorável, que ameaçava "apagar-nos" a todo o momento do seu convívio, o que seria desastroso para Portugal. Era necessário fazer alguma coisa!... E fez-se.
O movimento das Forças Armadas realizou o milagre que, já há muito tempo, era desejado por todos nós. No dia 25 de Abril de 1974, nasceu uma nova época para Portugal: - uma época que trará a PAZ, o PROGRESSO e o BEM ESTAR DE TODOS OS PORTUGUESES!
A limpeza que se impunha foi feita e, embora muito boa gente tivesse "virado a casaca" por simples comodismo, não tendo coragem para assumir a responsabilidade dos seus actos, a verdade é que há sangue novo a dirigir os destinos do nosso Portugal e, pouco a pouco, tudo vai ficando no seu devido lugar.
Queremos regressar, queremos ajudar a construir "um Portugal Novo", aquele Portugal sonhado por todos nós: LIVRE, PRÓSPERO E DELIBERADAMENTE VOLTADO PARA O FUTURO.
Sim, agora há esperança, mas ... até quando?
Pois exigimos que se torne numa maravilhosa realidade!
É NECESSÁRIO PARA O BEM DE PORTUGAL! DUVIDAM? NÓS QUE SOMOS JOVENS ... NÃO!
(de Tony)

"INFORMATIVA"

- Seguiram para a Metrópole, em gozo de Licença Disciplinar, os seguintes camaradas:
Sargentos: Ti Brito, Gaipo e Câmara
Praças: Ventura, Coelho, Brázio, Lixa e Luísinho.  
São para eles os nossos votos de uma óptima estadia junto das famílias e amigos.
- Mais uma vez registamos a presença amiga do nosso Exmº. Comandante Sr. Major Castelo da Silva. Acompanhava-o o Exmº. Sr. Cor. Comandante do CAOP 2, os quais procederam a uma visita às nossas instalações.
Por fim dirigiram-se à nossa messe, onde foram obsequiados com um "aperitivo".
(de Tony) 

*************** FIM ***************




DIÁRIO DE GUERRA - 1ª CART/BART 6523
(por ex.Furriel António Costa)  

 
DATA
HORA
LOCAL
ACONTECIMENTO

14/01/73

Leiria-RAL4
Mobilizado para a Guiné.
02/04/73

Penaf-RAL5
Começamos a Escola Preparatória de Quadros.
13/04/73

Terminamos a Escola de Quadros. Fomos para férias da Páscoa.
25/04/73

Início da especialidade.
16/06/73

Fim da especialidade.
18/06/73

Iniciamos a Formação de Batalhão.
22/06/73

Terminamos a Formação de Batalhão.
25/06/73

Principiamos dez dias de férias, dados sempre antes do embarque para o Ultramar.
Recebi no RAL5 (formar Batalhão) = 8 630$00
05/07/73

Acabaram os dez dias de licença. Houve missa e desfile de despedida. Fui promovido a Furriel Milº. Às 23H00 saímos, em comboio especial, com destino a Stª. Apolónia - Lisboa.
06/07/73
12H00
Barco Niassa
Dia de embarque para a Guiné. Meio-dia e o barco apita. O espectáculo da despedida é dramático. No cais de Alcântara ficam a chorar os familiares.
07/07/73

Oceano Atlântico
O barco é confortável. O bar é óptimo, a comida é bastante boa e temos senhoras a servir-nos. Tivemos cinema "Non son degno de te".
08/07/73
06H00
Madeira
Das 06H00 às 11H00 estivemos no cais do Funchal, tempo necessário para entrar uma companhia de militares madeirenses. O Funchal é lindíssimo. Que bela paisagem.
11/07/73

Ao largo de Cabo Verde
Tudo normal a bordo do navio Niassa. Estamos a ser escoltados por 3 fragatas e um bombardeiro. À noite tivemos a exibição de mais um filme "Londres é de gritos".

12/07/73


Próximo da Guiné
O calor já se faz sentir. Jantar de despedida a bordo oferecido pelo Capitão de Bandeira, Capitão-Tenente Augusto Miranda Filipe da Silva e pelo Comandante do Navio Niassa, Artur Ribeiro Costa Dias e seus Oficiais. Ementa do jantar: creme royal; filetes de peixe orly; galinha corada à sevilhana; amêndoas; doce; fruta; café.
13/07/73
13H15
Bissau
Pisamos terra Guineense às 13H15. Fomos obsequiados com uma recepção de boas vindas, dada pela malta velhinha "PIRIQUITOS". Muito calor. Seguimos de imediato para o Cumeré, perto de Nhacra.
14/07/73

Cumeré
Comprei um mosquiteiro. Visitei as tabancas. Arranjei uma lavadeira da roupa. Não os percebo nada a falar. De tarde fui passear até à cidade de Bissau. Comi ostras, camarão e bebi cerveja.
16/07/73

Começamos o IAO. Chuva torrencial como nunca vi, acompanhada de trovões muito estrondosos. O calor continua a ser demasiado. 
17/07/73

Nenhum Furriel apareceu à formatura da manhã, pelo que o nosso Capitão ficou muito chateado. Os mosquitos mordem continuamente o nosso corpo.....
19/07/73

Chegou de Londres o Marcelo Caetano onde houve manifestações de desagrado pela política ultramarina.
22/07/73

Visita à Guiné do Ministro do Ultramar, Dr. Silva Cunha.
25/07/73

Caiu uma avioneta em Nhacra.

27/07/73


Recepção ao nosso Batalhão recém chegado, pelo General António de Spínola. Depois duma demorada revista e dum longo discurso, militares desmaiam em parada e houve o desfile. De seguida reuniu-se com todos os graduados do Batalhão.

30/07/73


Início de duas semanas de campo, já em zona operacional. Muita chuva e mosquitos de sobra.  "Temos que vencer".
Alvorada às 04H30 e saída às 05H30. Chegamos ao local às 10H00, muito cansados.

01/08/73


Primeira operação do meu grupo. Saímos de manhã com todo o equipamento bélico. Patrulhamos a zona durante o dia e ao cair da noite montamos uma emboscada. Muita chuva e mosquitada. Os pés estão em ferida. Não houve problemas com o IN.
07/08/73

Nova operação. Durante o dia muito sol. À noite a trovoada foi tão forte e a chuva em tão grande quantidade que ficamos completamente encharcados. Vésperas do aniversário do PAIGC.
10/08/73

Terminou o IAO. Estamos quase a partir para Nova Lamego, Madina Mandinga, a nossa casa durante dois anos.


13/08/73


24H00

Madina Mandinga

Saída do Cumeré para o cais de Bissau. Às 05H00 partimos em LDG, pelo rio Geba. Às 10H00 chegamos ao Xime. Aí tivemos uma recepção feita pelos velhinhos "Piu,Piu". Seguimos em coluna auto até Madina Mandinga passando por Bambadinca, Bafatá, Nova Lamego e Dara. Chegamos a Madina à tardinha, sendo recebidos calorosamente pelos velhinhos que vamos render. Panfletos e câmaras de televisão à nossa chegada. O aquartelamento e as instalações estão em bom estado. As tabancas dos nativos estão dentro da vedação do quartel.
14/08/73

Primeiro dia em Madina. Não há mosquitos mas em contrapartida há dificuldade em obter água. O IN raramente ataca o quartel. É preciso muita calma. O que custa são os primeiros 24 meses.

15/08/73


Início da “Sobreposição”. Todos bem armados o meu grupo, acompanhado dos velhinhos, fomos fazer “psico”a duas tabancas. As pessoas são boas e o chefe da tabanca ofereceu ovos e galinha. Gostamos....
16/08/73

Toda a manhã ocupado a escrever e a lavar roupa. De tarde fomos “emboscar” para fazer segurança a uma coluna, na estrada de Piche. Muito calor.
17/08/73

Fomos a Nova Lamego fazer segurança à coluna do correio. À noite o meu grupo foi dormir para a escola.
19/08/73

Jogo de futebol entre os velhinhos e os piriquitos. Tivemos farturas do cabo Azevedo. Terminou a volta a Portugal em bicicleta e o vencedor foi o Joaquim Agostinho.

22/08/73


Mais uma operação. Saída às 07H00 e chegada às 22H30. Vi pela 1ª  vez pedras na Guiné. Almoçamos junto ao rio. A noite está muito escura e ao caminhar vamos em fila indiana, amarrados uns aos outros pelo cinto.

25/08/73


O meu grupo está de serviço ao quartel. Às 09H00 fazemos o içar da Bandeira Nacional com honras militares e à tardinha é arriada, acto que se repete todos os dias. Uma secção faz limpeza ao quartel enquanto outra vai à lenha. O calor é muito mas de repente forma-se trovoada e chuva torrencial. Andamos a “bater a zona” com HK21 e bazuca.
28/08/73

Terminou a “Sobreposição”. Queremos paz. Dia de descanso para dormir, estudar, ler, escrever, cantar, comer, lavar roupa, cozer botões...
29/08/73

Principiamos o treino operacional. O 4º Pelotão partiu para Dara. Tirei fotografias com as “beijudas”.
31/08/73

Segurança à coluna de Piche e à noite emboscamos em "Iromaro".
03/09/73

Mais uma operação a "Batanklim".

05/09/73


Fiz picagem da picada. Fomos à tabanca de "Iromaro" buscar o Pinta que estava preso a um pau, com um ferro espetado no corpo. Levamos o moço a Nova Lamego para ser assistido no hospital. Durante a noite Madina foi sobrevoada por um avião espião, relativamente baixo. Supomos que  para tirar fotografias do aquartelamento para fins desconhecidos.
07/09/73

Acabou o treino operacional.
08/09/73

Tomamos conta das Instalações e do Sector.
09/09/73

Foram-se os velhinhos rumo à Metrópole com a missão cumprida. Triste por não lhes fazer companhia.

14/09/73

22H30

PRIMEIRO ATAQUE  ao aquartelamento. Foram 7 minutos debaixo de fogo. Fizeram tiro a 300 metros do arame de protecção. Atingidas as retretes com um roquete e na minha caserna caíram estilhaços. Não houve mortos nem feridos.
17/09/73

Fizemos picagem e foi encontrada, na picada, uma mina anti-carro. Foi levantada sem problemas. O Comandante do Batalhão veio a Madina, numa visita muito breve.
18/09/73

Operação para os lados de "Camidina". Encontramos o trilho por onde os turras retiraram depois do ataque.
20/09/73

O Sr.  Padre Capelão está de visita à nossa companhia.   Manga de correio, recebi 11 cartas.
23/09/73

Domingo. Missa em Madina. Tudo se vestiu à civil. À noite houve convívio.
26/09/73

À noite houve um falso alarme. Viram-se  "very lights" e toda a gente correu para a vala aos tiros.
27/09/73

Mais uma operação a "Paunto” e “Batanklim".
01/10/73

Dara
Houve problemas com a Milícia e 8 soldados foram detidos e ficaram no “paiol” que estava livre.
Fomos buscar o “patacão” a Gabú. 
06/10/73

Madina Mandinga
Tivemos a honrosa visita da 2ª  Companhia que está em Cabuca.
08/10/73

Coluna a Bambadinca para buscar géneros. Almoçamos em Bafatá.
                 "Cada noite que passa é um novo sol que em cada manhã nasce".
11/10/73

                                                  "Viver não é matar".
13/10/73

Pagamento de pré. Manga de patacão, "parte" diz a preta. Mais uma operação até Camidina. O capim está demasiado grande.
23/10/73

Batemos a zona. Picagem e coluna a Gabú. Comprei uma máquina fotogáfica ( 3 500$00).
28/10/73

"
Dia de eleições para deputados. Fim do Ramadão. Dia de festa e “ronco” na tabanca. “Manga de beijudas”. Houve batuque.
31/10/93

Os “maiores” em Madina Mandinga. Visita do Comandante de Batalhão e CAOP. De tarde fizemos coluna a Dara para conferir armazém. Jantamos "bacalhau  à brás".

06/11/73


O General e Governador em Nova Lamego. Segundo disse o General temos que gramar os 24 meses. "A juventude é o futuro duma Nação". "Erguer a voz e cantar". "Muita coragem e optimismo". "Temos que saber sofrer".
07/11/73

Mais uma operação pelo “Paunto” e “Batanklim” com o bigrupo. O capim está muito alto e a semente está a cair de madura.
15/11/73

De tarde fomos contactar as populações da tabanca de Jacubá.
18/11/73

Festa em Djaima. Fomos levar lá os mandingas. É só batuque.

23/11/73


Sobressaltos à tardinha. Uma viatura civil cai numa emboscada IN em Tassilima (bolanha de Dara). O “IN” dentro do nosso sector. Um pelotão faz reconhecimento nocturno em volta do aquartelamento. Tudo apostos para uma possível visita de “amigos”. Dara bate a zona. Felizmente nada se verificou e o IN deu à sola.
24/11/73

Fomos 2 grupos de combate a Dara tentar saber algo do IN. Dizem que eram 300 homens que estiveram emboscados e mataram um civil da viatura. Está tudo de prevenção.
25/11/73

Percorremos várias tabancas em coluna auto. Tudo normal, os turras já se foram. Os caminhos são difíceis. Enterrou-se uma berliet. De manhã e durante a noite  faz muito frio.
28/11/73

O Capitão chegou de férias. "O Capitão Rodrigues é homem válido entre nós". "Com o Capitão entre nós veio a esperança da Metrópole".
29/11/73

Saíram 2 grupos de combate para reconhecimento do trilho utilizado pelo IN e acharam maços de tabaco da “República da Guiné”.
01/12/73

Dia de vencimento. Eu ainda tive que repor 231$00.

02/12/73


O Benfica ganhou ao Sporting por 2-0. O Capitão, sportinguista, nem jantou. Acabamos de fazer o jornal mensal da Companhia "Leão de Madina Mandinga". O Zé Gaipo é o chefe de redacção e o principal colaborador.
03/12/73

Os de “Cabuca” vieram almoçar connosco e levaram 3 vacas para comerem.
04/12/73

Dia da Artilharia. Fizemos coluna a Gabú para levar uma africana em trabalho de parto.

05/12/73

18H35

SEGUNDO ATAQUE ao nosso aquartelamento. Começam as primeiras morteiradas, quando era a hora de jantar.  A nossa reacção foi boa e pronta pois os nossos soldados estavam junto à vala. O ataque durou 2 minutos e foi de muito longe (além das pedras). Não houve mortos nem feridos.


06/12/73



Saímos com um bigrupo de combate fazer o reconhecimento. Descobrimos que estiveram emboscados no cruzamento para um possível ataque à nossa coluna que nesse dia, felizmente, não se realizou. Como a coluna não apareceu ao irem embora atacaram-nos de longe. De tarde avisaram-nos que estava uma mina anti-carro na picada. Foi levantada sem problemas. Estava no mesmo local onde tinha sido encontrada a 1ª.
07/12/73

Coluna a Gabú para levar o Professor ao hospital. Devido ao ataque o “sistema nervoso do Professor entrou em circuito”.
12/12/73

Fui com o pelotão fazer segurança aos nativos que andam a capinar.
13/12/73

O Pelotão de Bafatá foi rendido por um pelotão da 3ª Companhia.
15/12/73

Iniciamos a construção de tabancas  para os africanos. Com a noite regressa o medo. Ao longe observam-se clarões e ouvem-se morteiradas.  Adivinha-se que é “Buruntuma”a “embrulhar”.
17/12/73

Coluna a Gabú. Muitas professoras Libanesas a passear na cidade de Gabú o que pôs a malta em alerta “sexual”......
23/12/73

Veio um Pelotão de Contuboel e foi embora o da 3ª Companhia.
24/12/73

Dia de consoada. Fizemos a ceia. Funeral do nosso guia  nº. 1 "BACAR SANE". Teve honras militares e bandeira a meia haste.
04/02/74

Prevê-se um ataque para breve.
07/02/74

Chegou o reabastecimento. Estava a fazer muita falta. Já não havia açúcar, vinho, cerveja...
10/02/74

                                           "No silêncio de Madina vivendo um Domingo".
                                              "Sorrir para a vida no meio da infelicidade".

12/02/74

18H25

TERCEIRO ATAQUE. Na messe servia-se arroz de polvo. De repente "pumpumpum" e todos a correrem para a vala para uma reacção rápida. Atacaram durante pouco tempo (1,5 minuto), devido à nossa prontidão. O ataque foi de longe (pedras). Não houve consequências e os estilhaços caíram todos fora do arame farpado.

13/02/74

"
Operação de reconhecimento. Atacaram das pedras e retiraram para Iromaro. Nas pedras havia vestígios de roupas e sangue pelo que terá havido feridos. Uma granada de morteiro caiu perto. Desta vez não puseram mina na picada.
14/02/74

Visita do Coronel da CAOP e do Comandante de Batalhão. Almoço melhorado.
18/02/74

                        "Não queremos mais fome, não queremos mais guerra, sim a PAZ...".
19/02/74

Cinema em Madina. Ao ar livre exibiu-se "Bosallini" e "Com jeito vai Sargento". Quando acabou era meia-noite. Veio um Alferes Engenheiro e um Furriel “dar o cinema”.
22/02/74

                               "O sol continua a nascer cheio de luz".
23/02/74

Fizemos  picagem e coluna a Panjamo a fim de levar os Mandingas à festa nessa tabanca. Serviram-nos whisky e queriam assar um cabrito e frangos.
20/03/74

Fomos fazer psico a diversas tabancas. Os turras também têm passado por essas tabancas com o mesmo intuito.
21/03/74

Aniversário Natalício. Ofereci ao meu pelotão cerveja, martini e whisky. Para a messe ofereci vinho verde e whisky.
22/03/74

Acordei ao som de tiroteio. Emboscada à coluna de Piche perto do cruzamento de Madina, já nosso sector. Saímos dois grupos de combate para o referido cruzamento. Vários mortos e feridos que o IN provocou aos nosso militares que seguiam na coluna.
23/03/74

O IN anda na área e receia-se um ataque ao nosso aquartelamento. Os obus de Dara fizeram batimento de zona.
25/03/74

Está entre nós um Major e dois Furriéis do serviço de material. À noite a habitual festa na messe.

27/03/74


Coluna a Dara para fazer segurança aos de Contuboel que vêm render o pelotão e ao mesmo tempo fazer um jogo de futebol. Madina ganhou. Almoço de confraternização. Presentes o Major e o Capitão de Contuboel.
28/03/74

Foi levantada uma mina na estrada de alcatrão, perto de Cambujá, pela coluna de Piche. À noite houve batimento de zona.

29/03/74


Os turras continuam a fazer psico nas nossas tabancas. Fizemos uma operação de visita às tabancas para verificar vestígios dos turras.
                                  "Nesta Primavera os passarinhos vêm anunciar a PAZ".
02/04/74

O IN continua na zona a fazer psico. À noite foram vistos "very lights" na direcção do nosso cruzamento. Os obus bateram a zona. Receia-se um ataque para breve.
04/04/74

O IN anda no nosso sector.
05/04/74

O IN continua na área e fomos informados de três emboscadas preparadas para amanhã à nossa operação. Prevê-se um ataque a Madina.
07/04/74

A operação de hoje, prevista para a mata de Nhacaré, foi alterada para as proximidades de Dara devido à informação do dia anterior.
08/04/74

Foi embora o pelotão pertencente à companhia de Contuboel e em substituição veio um pelotão de Cabuca. O IN continua a circundar o nosso quartel.
10/04/74

Fomos fazer segurança à coluna de Piche com dois grupos de combate e o obus a bater a zona. Todos os cuidados são poucos, os turras continuam por perto.
12/04/74

Psico às tabancas onde houve conhecimento que o IN continua na área e na mata de Nhacaré têm abrigos feitos.
14/04/74

Dia de Páscoa. Um bom almoço  (o possível). 
16/04/74

O IN continua por cá.
17/04/74

De manhã e à tarde fizemos segurança à coluna de Piche em Tassilima. O Comandante do Batalhão veio de jeep ver a “capinagem”. À noite reunião com todos os Furriéis.
18/04/74

Entregaram-se à nossa companhia três turras. Fomos levá-los a Nova Lamego.
19/04/74

                                               "O AMOR É UMA REALIDADE"
                                                         "Sorrir para o Futuro".
22/04/74

                           "A PAZ também depende de TI porque depende dos homens".
24/04/74

Golpe militar em Lisboa para depor o Governo de Marcelo Caetano.
25/04/74

 Marcelo Caetano é exilado para a Madeira. O novo governo é chefiado pelo Spínola. O povo aclamou o exército. Na Guiné ninguém se pronunciou.
26/04/74

Bissau
 O Américo Tomaz e o Caetano exilados na Madeira. Extinta a DGS. Os Governadores Civis demitidos. Formada a Junta de Salvação Nacional. Na Guiné o General Bettencourt Rodrigues foi demitido.

29/04/74


"
Grande manifestação da população na cidade de Bissau. Rigorosas medidas de segurança pelas forças armadas. Nharros de paus e pedras agrediram e partiram montras dos estabelecimentos. A PM, os Paraquedistas, Comandos e restante tropa tomaram conta da situação. Algumas rajadas e vários feridos. Os estabelecimentos ficaram fechados durante todo o dia.
02/05/74

Fala-se que vamos entregar a Guiné. O clima de rivalidade continua. O recolher obrigatório continua às 21H00 para todos.
04/05/74

Continua o recolher obrigatório. As mulheres brancas estão a partir. Há esperanças de entregarmos isto e irmos embora.
06/05/74

O recolher obrigatório passou para a meia-noite.
07/05/74

Foi empossado o novo Governador da Guiné Tenente-Coronel Fabião.
08/05/74

Extinta a disciplina de Organização Política do 7º ano. Almocei no Hotel Internacional com o tio Brito e o Gaipo que vão de férias.
13/05/74

Grande manifestação de Guinéus junto ao Palácio do Governador. Lia-se "O PAIGC está convosco"  "Viva o PAIGC"  "Viva o General Nino"  "Abaixo o MDG"  "Independência total"   "Viva a liberdade".

15/05/74


Empossado no cargo de Presidente da República o General António de Spínola. À noite fui assistir, no Liceu, a uma reunião de todos os militares milicianos. Finalidade: apoiar o MFA e lutar pelo fim da guerra. 
16/05/74

Tomou posse o governo presidido por Palma Carlos, sendo Mário Soares ministro dos Negócios Estrangeiros.
17/05/74

Iniciaram-se negociações com o PAIGC. Decretado cessar fogo a partir do dia 25 do mês em curso.
                                                         "Queremos o fim da guerra"
18/05/74

Mário Soares está em Dacar em conversações com Aristides Mendes, secretário-geral do PAIGC. Fui assistir, no clube militar de Sargentos, a um programa de fados e variedades.
19/05/74

O Sporting é campeão Nacional em futebol.
20/05/74

Américo Tomaz e Marcelo Caetano foram para o Brasil.
24/05/74

Madina Mandinga
A guerra na Guiné continua suspensa.
25/05/74

Iniciaram-se conversações em Londres entre Portugal e o movimento PAIGC.
02/06/74

A professora e a enfermeira de Dara vieram almoçar a Madina. O meu grupo (3º. Pelotão) vai amanhã para Dara substituir o 4º Pelotão.
03/06/74

Dara
O meu pelotão deixou Madina rumo a Dara onde vamos ficar durante três meses. A 1ª noite sem luz e a dormir numa tabanca sem o mínimo de condições.
06/06/74

O Capitão almoçou connosco.
07/06/74

Fizemos a 1ª evacuação de hélio de um africano. Estiveram em Dara o Capitão Ramalhete, dois Alferes e três Furriéis.

09/06/74


O 1º Pelotão veio jogar a Dara. Perdemos por 5-3. Fomos assar um cabrito a Madina para o comer em Dara. De tarde andei a passear de unimog e a conduzir. Os de Madina foram a Pajama visitar os turras e falaram com os seus chefes.
13/06/74

Iniciaram-se conversações em Argel entre Portugal e o PAIGC.
17/06/74

Continuamos na expectativa sem saber quando vamos embora.             “A guerra continua parada”.
21/06/74

Fui visitar um acampamento turra "Gufará" perto de Pajama. Abracei o Comandante Alfredo Samba o qual nos garantiu que não haveria mais guerra.
22/06/74

Fui novamente a Gufará buscar o 2º Comandante "Chunguém" e mais três combatentes que iam para o Flamário.
23/06/74

Estiveram alguns chefes “turras” em Dara a visitar-nos e aproveitaram para falar com o Régulo e o povo. Entre outros o Alfa e o Quemanéo.
25/06/74

A Paz é uma realidade. Para quando o nosso regresso?

28/06/74


Tivemos a 1ª morte na companhia, de acidente. O nosso soldado Vilaça do 4º Pelotão. O taipal da berliet abriu-se na picada e o Vilaça caiu. Começou a deitar sangue pelos olhos, ouvidos e nariz morrendo pouco depois. LUTO na companhia dos Artilheiros de Madina Mandinga.
29/06/74

Missa em Nova Lamego por alma do Vilaça à qual quase toda a companhia assistiu.
30/06/74

Fala-se que a tropa da zona Leste está a preparar um movimento de retirada para o Senegal e daí para Lisboa, sem passarmos por Bissau.

04/07/74


Boas notícias dadas pelo nosso Capitão. Buruntuma e Canquelifá foram abandonados e ocupados pelo PAIGC. Pirada também está a ser abandonada. De seguida será Nova Lamego. Todas as berlietes do Leste andam em Piche para trazer o material. Partiu uma delegação rumo a Lisboa para informar Spínola.
05/07/74

"
O movimento de abandono dos nossos aquartelamentos partiu do Leste. Spínola deve tomar medidas urgentes para a independência porque nós estamos a abandonar progressivamente a Guiné.
07/07/74

Há bocas de que o nosso Batalhão vai para o Cumeré e os de Piche para Cabo Verde. Lisboa continua indiferente ao problema da Guiné.
15/07/74

O PAIGC fez um ultimato a Madina Mandinga. O PAIGC está no cruzamento a controlar as nossas viaturas.
16/07/74

Fala-se que a nossa companhia vai retirar para o quartel dos Páras,  em Nova Lamego.  É o grito final.
17/07/74

Madina começou a levar material para Nova Lamego. O PAIGC continua no cruzamento a controlar.
19/07/74

Há boatos que o Spínola vem cá no dia 15 de Agosto dar a independência.
22/07/74

Recebemos a notícia que há duas fases de retirada da Guiné. A 1ª até Setembro (Norte e Sul) e a 2ª fase de Setembro a Dezembro (Leste).
01/08/74

Bissau
A cidade está de prevenção devido a actos praticados por elementos afectos à FLING  que não querem o PAIGC a mandar.
02/08/74

O PAIGC andou a distribuir panfletos exigindo a nossa retirada para Portugal.
03/08/74

Feriado Nacional decretado pelo PAIGC em comemoração dos 15 anos das vítimas do Porto de Bigiquiti.
12/08/74

A República da Guiné-Bissau  foi reconhecida como Estado pela ONU.
14/08/74

 Vão chegar  vários navios para evacuar material da Guiné-Bissau. 
20/08/74

As férias dos militares foram canceladas. Chegou o barco "Uíge" para levar tropas.
22/08/74

Prevemos regressar à Metrópole definitivamente até 20 de Setembro.
24/08/74

Chegaram 4 aviões para levar malta.

26/08/74


Conversações em Argel com o PAIGC. Resultados: a) Independência da Guiné-Bissau no dia 10 de Setembro. b) Retirada de toda a tropa Portuguesa até 31 de Outubro.
 Vivem-se horas de extraordinária alegria. 
27/08/74

Continua a evacuação, agora acelerada com sete aviões diários.
30/08/74

Chegou o navio "Niassa". Fala-se que a mossa companhia vai no dia 8 de Setembro de avião.
02/09/74

Chegou toda a nossa companhia a Bissau ficando instalada no quartel da PM, na Amura.
03/09/74

O PAIGC não deixa sair mais material para Portugal.
04/09/74

A nossa companhia embarca de avião no dia 7 de Setembro, às 07H25.
06/09/74

Fizemos as últimas compras. Preparamos as malas.

07/09/74

23H50

Portugal
"ADEUS GUINÉ-BISSAU". Descolamos de Bissalanca às 07H30 num avião 707, da TAP. Chegamos ao Aeroporto da Portela às 13H45. Cheguei a minha casa perto da meia-noite. Terminou a tropa. VIVA A PELUDA.
23/09/74

Passamos  à disponibilidade.
              
       
                     RESUMO:                                                                              
                                                          
                       
                                      No aquartelamento fomos atacados 3 vezes.                                
                                      O IN colocou 2 minas anti-carro na nossa picada.                        
                                      A nossa Companhia teve um morto de acidente.                         
                                      Não tivemos feridos.                                                                     
                                      As nossas colunas, apeadas e auto, não foram atacadas.             
                                      No nosso aquartelamento entregaram-se 3 "turras".




Caros Camarigos de Madina, este resumo da história da nossa companhia, foi enviada para publicação pelo nosso companheiro e Camarigo o ExAlfMil Barbosa, ao qual saúdo e dou os parabens, pois sendo um filho adoptivo está a ter uma raça que é mesmo um Mandina, e honra lhe seja feita nunca renegou os seus irmaõs de coração os Camarigos de Madina, bem hajas Barbosa, um forte abraço do Monteiro ( Manhiça )