terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Um Manjaco em solo Mandinga

Camarigos de Madina,
Em certos dias e em certos momentos, quando deixamos o nosso pensamento entrar e abrir o baú das nossas recordações, lembramo-nos de alguns episódios que hoje, e após 40 anos, ficamos admirados e interrogamo-nos, como é e foi possível?
É verdade, são peripécias que ainda hoje nos fazem recordar com saudade e nostalgia os momentos que nos marcaram, não por serem maus, antes pelo contrário, mas são cenas que nos parecem surreais.
Esta é a história do Armando, o “Manjaco”.
O Armando Manjaco era uma figura típica de Madina, ainda hoje estou por perceber o porquê da sua vivência em chão “Mandinga”, pois ele pertencia à etnia dos Manjacos. Certo é que era um faz tudo. O rapaz já adulto ajudava ora na cozinha, na padaria, em todo o lado, era um moço de recados.
Bem, mas no essencial é que existia por lá uma horta que era conhecida por a “horta do Tibrito”. Esse espaço verdejante e viçoso ficava nas imediações do depósito da água.
Dessa hortinha eram colhidos alguns legumes que por serem poucos, não dava para muito, lá se ia mitigando a carência de legumes frescos.
Esse espaço agrícola era tratado por um soldado que, com toda a certeza punha todo o seu saber e esmero na horta, até por uma questão pessoal mas também para agradar ao 1º Ti` Brito.  
Ora acontece que, tal como com todas as hortas, tinha de ser regada diariamente e quem tinha essa incumbência era o nosso personagem Armando Manjaco que, hora a hora, lá ia regando para que as hortaliças estivessem sempre verdejantes e a produção fosse mais rápida. 
O pobre do homem, para proceder à rega, tinha de tirar a água de um poço de alguma profundidade, com uma lata que talvez levasse 2 litros de água. Imaginemos agora quantas vezes ele tinha de mandar ao fundo do poço a lata, agarrada a uma cordita, para regar uma área com uns bons metros quadrados! Eram umas boas horas de rega.
O nosso amigo Armando gostava de ir passear até Nova Lamego e Bafatá para ver as montras e beber umas cervejitas (pagas pelos nossos soldados). Servia-se dos nossos transportes para viajar e como as colunas se realizavam logo pelo nascer do sol, o coitadito do indivíduo que dormia por lá em qualquer sítio, tinha que se levantar pelas 2 da manhã para regar a horta e assim estaria disponível para embarcar na nossa coluna. Ele só iria se estivesse tudo bem regado e após inspecção do Ti Brito. Era uma espécie de prémio que lhe era concedido.
Era um bom homem, gostava de beber, apreciava e bebia da água de Lisboa (aguardente). Algumas vezes bebeu álcool tingido com vinho tinto, receita especial e confeccionada pelo nosso Pastilhas que se prestava a este tipo de brincadeiras.
Um Manjaco muito educado, muito obediente, um “cromo” de Madina. Penso que muitos se lembrarão dele.
Um abraço
Monteiro (Manhiça)