domingo, 5 de março de 2017

Crónica semanal

“Há lobos, sem ser na floresta”
Há dias, e de madrugada acordei, e fiquei desperto por algum tempo, esperando recuperar o sono interrompido sem qualquer motivo. 
Para dar continuidade ao meu sono, que pareceu difícil aceder à minha vontade e apetência da hora em causa, decidi, e optei por resolver o assunto, colocando os auscultadores, e liguei de imediato o mp3 para ouvir a RDP, canal1.
Para meu espanto, o locutor entrevistava o responsável e impulsionador de um grupo cultural da zona Alentejana, expor a nova experiência com o levantamento de um agrupamento popular recentemente criado e, com a intervenção de pessoas voluntárias e ligadas à cultura musical, o sucesso foi altamente positivo.
O grupo meteu mãos à obra cultural popular, procedendo junto da população idosa a uma recolha de cantos populares e o uso dos instrumentos, entre os quais, a antiga viola campaniça, e mais tarde, outros instrumentos de corda e sopro, foram surgindo como complementos, bem como os cordofones a experiência cultural do meio.
O engraçado de tudo isto, é que a base cultural procedeu-se com tal entusiasmo, que dada a beleza do canto e das temáticas musicais recolhidas, nomeadamente os poemas, nas temáticas proibidas na época do fascismo e já dentro do estado novo, acabaram por obrigação fazer-se a primeira gravação em áudio. O nome do disco e agrupamento, penso ser: Há lobos, sem ser na floresta.
Cantou-se Catarina Eufémia, as ceifeiras e outros temas, que só Abril transportou com a liberdade de se poder cantar, pensar, e falar com a maior lucidez, aquilo que fora em tempos, altamente proibido.
Mas o povo culto ou não, sempre entendeu as palavras o que pretendiam dizer, e assim, felizmente que foram descobertos muitos dos poemas guardados na memória dos populares, e transmitidos, na forma oral, uma apetência cultural para a composição contemporânea, acompanhada também de piano acústico, o adufe e outros, que o ouvido sensível descobre ao serem cantados e tocados durante a intervenção.
Histórias como estas, são de uma riqueza grande para os que pretendem perceber e entender a cultura popular, que na maioria das vezes foi escondida e altamente reservada face ao medo na época.
Isto é um bom exemplo, para que os nossos leitores do blogue dos Leões de Madina Mandinga, poderiam com algum esforço e vontade, contar.
Isto, é o seguimento do alerta de que, há dias foi publicado. Contar histórias ou estórias, é uma questão de vontade e querer, para estarmos a par do que vai acontecendo ao longo dos dias e dos anos.
A nossa história, também se pode reconstituir dentro deste mesmo formato, e seria um enriquecimento, e ao mesmo tempo, um marco de entusiasmo de nos sentirmos e fazer sentir os outros, sobre algo que nos aconteceu, dissemos e fizemos em tempos do passado século XX.
José Graça Gaipo

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